Chamada de artigos

o que o caribe aporta Às ciências sociais

Coordenação:

Simon Fagour, Doctorant en histoire contemporaine (université Sorbonne Nouvelle, Creda UMR 7227). Attaché temporaire d’enseignement et recherche (USN, IHEAL)

Email: simon.fagour@sorbonne-nouvelle.fr 

Justine Berthod, Doctorante en sociologie (université Sorbonne Nouvelle, Creda UMR 7227). Attachée temporaire d’enseignement et recherche (USN, IHEAL)

Email: justine.berthod@sorbonne-nouvelle.fr

Laurine Chapon, Doctorante en géographie (université Sorbonne Nouvelle, Creda UMR 7227). Attachée temporaire d’enseignement et recherche (USN, IHEAL)

Email: laurine.chapon@sorbonne-nouvelle.fr

Mathilde Périvier, Doctorante en anthropologie sociale et ethnologie (EHESS, IMAF UMR 8171)

Email: mathilde.perivier@sorbonne-nouvelle.fr

Ponto de confluência dos « mundos da escravidão » (Ismard et al., 2021), mas também dos encontros e conflitos no interior e entre os impérios coloniais europeus do século XVI ao XIX, as ilhas e o continente caribenho constituíram um importante foco de reflexões antropológicas ao longo do século XX, em particular para pensar os universos culturais negros nas Américas. Uma experiência histórica comum do trato de escravos, da escravidão e por vezes dos « sistemas de plantation » (Curtin, 1998 ; Burnardt & Garrigus, 2016) – em territórios com condições geográficas, geológicas e climáticas similares – poderia ser a base da unidade desta zona, defendida por alguns. A partir de várias pesquisas de campo, Herskovits (1941) concluiu, por exemplo, pela existência de uma « continuidade » entre a África e as Américas, o que explicaria a permanência de certos traços culturais africanos em diversos aspectos da vida cotidiana das sociedades americanas, em graus variados.

Mintz et Price (1976) postulavam, por sua vez, a crioulização da cultura afro-americana, ou seja a produção de uma nova cultura nos interstícios do sistema escravista, produzida a partir dos aportes africanos, europeus e indígenas, e a manutenção de uma « gramática cultural » ancestral. Inversamente, na esteira de Frasier, Glissant (1981) mencionava, em seus primeiros escritos, a despossessão consecutiva à experiência escravagista, bem como uma « não história », que não permitiriam a emergência das condições de produção do comum nos territórios caribenhos.

Estes debates fundadores da pesquisa afro-americana foram intensamente revisitados – aprofundados, ultrapassados ou no intuito de buscar vias alternativas de compreensão. Chivallon (2004) propõe assim um modelo interpretativo pensado a partir das Antilhas no qual a dispersão e as comunidades silenciadas por micro-narrativas constituem uma base comum para se pensar « o Caribe ».

Os debates em torno da unidade e da fragmentação da região, algumas vezes sintetizados na questão do emprego do plural ou do singular para designá-la, foram recentemente suplantados pelo desejo de construção de « um paradigma da modernidade a partir da matriz colonial », no seio do qual o Caribe ocuparia o primeiro plano (ver o programa internacional Mundos da Colonialidade e TransModernidades anteriormente denominado « Mundos caribenhos e transatlânticos em movimento », coordenado por Christine Chivallon e Mathieu Renault desde 2024). Seja como for, o espaço caribenho foi reabilitado – não sem tensões – como cruzamento da história atlântica (Marzagalli, 2011), pensado como epicentro da crioulidade (Bernabé et al., 1988) ou considerado como ponto de emergência de um « pensamento arquipelágico » (Bertin-Elisabeth & Colin, 2022).

O lugar do Caribe nos estudos pós-coloniais é igualmente central, como testemunham as implicações teóricas da noção de « Atlântico negro », de Paul Gilroy, ou das identidades diaspóricas de Stuart Hall. Na França, pesquisas exaustivas, algumas vezes com viés comparatista no Caribe e mais além, foram tematizadas em torno de noções tais como as escravidões e os tratos [coloniais] (Cottias, 1999 ; Cottias et al., 2011 ; Vidal, 2019 ; Flory, 2015 ; Ismard et al., 2021 ; Balguy, 2020), a diáspora e as migrações (Chivallon, 2004 ; Laëthier, 2011), a raça (Bonniol, 1992, 2020), a patrimonialização e a transnacionalização do religioso (Argyriadis & Capone, 2011), a construção de categorias etnoraciais (Cunin, 2006), o Estado ultramarino (Beauvallet et al., 2016) ou pós-colonial (Mary, 2021), a ecologia descolonial (Ferdinand, 2019) etc.

Esta chamada de artigos situa-se na esteira destes questionamentos, incitando a uma reflexão coletiva e multissituada sobre o que os trabalhos empíricos realizados sobre e a partir do Caribe insular e continental podem trazer ao campo das ciências humanas e sociais francófonas, anglófonas, hispanófonas, lusófonas e/ou aos estudos latino-americanistas. Este dossiê temático permitirá antes de mais nada identificar os espaços de produção dos saberes sobre a região a fim de estabelecer um diálogo com os trabalhos ali produzidos.

Associações e departamentos de estudos caribenhos anglófonos que estruturam um campo dinâmico além-Atlântico (Caribbean Studies Association, Estados Unidos; Center for Caribbean Studies, universidade de Toronto, Canadá; Center for Caribbean and Diaspora Studies Members, universidade de Londres, Inglaterra), centros de pesquisas nacionais do Caribe hispanófano insular (Centro de Estudios Caribeños, Pucamaima, República Dominicana; Cátedra de Estudios del Caribe « Norman Girvan », universidade La Havana, Cuba), Caribe anglófono (Institute of Caribbean Studies, West Indies, Jamaica), Caribe continental (Instituto Internacional de Estudios del Caribe, universidade de Cartagena, Colômbia), grupos de pesquisa francófonos (Association francophone d’études caribéennes, (AFDEC), Sciences Po Bordeaux, Centre International de Recherche sur les Esclavages et Post-Esclavages (CIRESC), Pouvoir Histoire Esclavage Environnement Atlantique Caraïbes (PHEEAC) na universidade das Antilhas): esta lista não exaustiva é um exemplo da vitalidade, mas também da dispersão dos atores e dos campos estruturados em torno de objetos, noções e trabalhos de campo variados.

Esta geografia também ressalta os contrastes entre espaços que investiram amplamente e construíram campos de estudo caribenhos dinâmicos, por intermédio dos areas studies nos Estados Unidos, por exemplo, e outras regiões nas quais o Caribe parece diluído em meio a estudos temáticos ou regionais (e particularmente latino-americanos) mais amplos. É esta diversidade, o que ela produz e de que modo é produzida que este dossiê deseja questionar, em uma perspectiva reflexiva e analítica, para compreender de que modo o Caribe é dito e pensado a partir de espaços distintos. Debruçar-se sobre a fabricação das ciências sociais sobre e nesta região conduz a questionar-se quanto às convergências ou às divergências de pesquisas, a circulação dos pesquisadores, dos trabalhos e das ideias.

A dimensão pluridisciplinar e transnacional do dossiê visa assim questionar as formas de se fazer pesquisa e o que isto coloca em jogo, explorando diversas pistas e temáticas que permitem desmarginalizar os terrenos caribenhos. O objetivo do dossiê é portanto o de ressaltar as abordagens existentes que fazem dos terrenos caribenhos a escala e o espaço social pertinentes para se pensar e teorizar o mundo global. Ele incita a falar sobre os objetos de pesquisa apreendidos a partir dos terrenos caribenhos : trata-se então de inverter a ideia segundo a qual o Caribe é um simples viveiro de estudos de caso que alimentam as discussões teóricas produzidas em outros lugares (Collyer, 2018).

De fato, a partir das diferentes disciplinas das ciências humanas e sociais, o Caribe pôde ser vislumbrado como uma região que participa plenamente das dinâmicas globais. Trata-se assim de refletir sobre a maneira como os conceitos circulam nos diferentes campos de estudos caribenhos e de que modo são (re)apropriados nos diferentes espaços. Apresentamos a seguir, à guisa de exemplo, duas pistas (dentre outras possíveis) que poderiam ser exploradas:

• O Caribe constitui o ponto de partida para uma teorização da « ecologia descolonial » para Malcom Ferdinand (2019). Os artigos construídos a partir de análises empíricas poderão assim fazer dialogar o espaço caribenho com as ferramentas da ecologia política latino-americana (Pérez, 2017), em uma abordagem de justiça ambiental ou com trabalhos que incrementem as reflexões sobre o plantacionoceno (Haraway, 2016) ou as teorizações mais recentes sobre o « negroceno » (Yusoff, 2018).

• A exemplo dos trabalhos de d’Eduardo Devés Valdés (2006) sobre a história das circulações das ideias entre a América Latina e a África, que contaram com a mediação dos intelectuais do Caribe anglófono, permitindo a reconexão de um espaço pensado como periférico às dinâmicas globais da história intelectual da segunda metade do século XX, também serão bem-vindos artigos que abordem a difusão das ideias ou das práticas (políticas, militantes, médicas, artísticas ou ainda repressivas etc.), desde e/ou no espaço caribenho, do século XVIII ao XX.

O objetivo deste dossiê não é portanto o de fazer do Caribe uma exceção a partir da qual pensar uma epistemologia particular. Nós nos situamos na esteira dos escritos de Michel-Rolph Trouillot que nos encorajam a pensar a partir dos pequenos espaços e não somente sobre eles (Agard-Jones, 2013). Trata-se de desmarginalizar os trabalhos de campo caribenhos, a partir dos quais é muitas vezes difícil realizar leituras que ultrapassem a escala da própria região e conferir visibilidade aos trabalhos em curso. São esperadas pesquisas em ciências sociais que mobilizem questionamentos e/ou abordagens metodológicas que contribuam a desingularizar o Caribe, convidando a refletir para além das especificidades socio-históricas regionais.

Envio de artigos: https://ojs.openedition.org/index.php/cal

Data limite para submissão de artigos: 15 de maio de 2025

Os Cahiers des Amériques latines também recebem contribuições espontâneas para a seção “Études” ao longo de todo o ano.