Maria Cavalcanti Tedesco (Org), Trabalhadoras do cinema brasileiro: mulheres muito além da direção
Maria Cavalcanti Tedesco (Org), Trabalhadoras do cinema brasileiro: mulheres muito além da direção, Rio de Janeiro, Nau Editora, 2021, 248 p.
- Cet article est une traduction de :
- Maria Cavalcanti Tedesco (Org), Trabalhadoras do cinema brasileiro: mulheres muito além da direção [fr]
Texte intégral
1Este livro faz parte de um duplo movimento crítico que se desenvolve no Brasil, ou seja, o de reconsiderar a história do cinema numa perspectiva feminina dentro de um quadro mais geral dos estudos de gênero e das mulheres, e o de se registar contra a supremacia da política de autoral, dando mais importância aos papéis desempenhados por todas as profissões do cinema. Complementa o trabalho iniciado e publicado em dois livros anteriores: Feminino e plural: mulheres no cinema brasileiro (Papirus, 2017) de Karla Holanda e Marina Cavalcanti Tedesco e Mulheres atrás das câmeras: as cineastas brasileiras de 1930 a 2018 (Editora Estação Liberdade, 2019) de Luiza Lusvarghi e Camila Vieira da Silva (orgs.), ambas finalistas do prestigioso Prêmio Jabuti.
2Ao abordar o cinema como uma prática coletiva e dispendiosa, longe do mito do todo-poderoso diretor, o “fazer cinema” é declinado de várias formas e o livro analisa um vasto leque de profissões, desde a escrita do roteiro à exibição de filmes, produção, direção de arte, som direto, direção de fotografia, montagem, trilhas sonoras, políticas públicas, educação e ensino, organização de festivais, crítica, jornalismo, investigação universitária e cinematecas. Onze campos são selecionados e explorados por pares que destacam a crescente participação das mulheres. Várias disparidades são reveladas: enquanto existem muitas mulheres na montagem, nos acervos de filmes e na crítica, são muito mais raras na fotografia ou no som direto.
3Além disso, na ausência de fontes bibliográficas sobre este último item, algumas mulheres partem das suas próprias experiências para responder aos seus questionamentos. Assim, duas mulheres investigadoras e técnicas de som, uma dos anos 1960 e vinda do Sul, Tide Borges e a outra dos anos 1980 e vinda do Norte, Marina Mapurunga, uniram forças para explorar, sob o título Escuta s. fem: o feminismo e a noção de escuta no campo da arte sonora, onde as mulheres estão em grande parte em minoria. As diferenças ligadas à idade, sexo, geografia e origem social são traduzidas através das suas experiências nos cenários cinematográficos: como lidar com o machismo, os preconceitos, a maternidade, o assédio e o abuso? Um trabalho em curso...
4Por vezes são feitas descobertas inesperadas. Explorando a profissão de roteirista, Edileuza Penha de Souza e Ceiça Ferreira seguem os caminhos de duas mulheres negras, Adélia Sampaio e Cleisse Martins, que apresentou o primeiro projeto de autor para a TV Globo. Usando uma citação de Carolina Maria de Jesus (1914- 1977), que disse que “Enquanto escrevo, vou pensando que resido num castelo cor de ouro que reluz na luz do sol”, elas demonstram a importância da escrita para as mulheres negras: é um ato político que lhes permite reconstruir a sua identidade, face ao tratamento que a sociedade brasileira lhes impôs. Entre Adélia Sampaio, que começou como telefonista na DiFilm e que, através da sua observação, passou por diferentes posições antes de se tornar argumentista, e Cleisse Martins, que pôde se beneficiar da formação profissional para os negros, a diferença de geração entre as duas mulheres estudadas permite também medir a evolução por que passaram.
5Poderíamos continuar a exploração sistemática dos temas abordados, todos eles tão ricos e férteis. Sublinhemos de passagem a homenagem prestada às pioneiras como Solange Steck e Elizabeth Karam no Cinema para ler: pesquisadoras na cinemateca do Museu Guido Viaro (1976-1980) pelo trabalho como jornalistas, críticos, curadores e participantes nos filmes, ou o constante envolvimento de Tetê Mattos na defesa dos filmes femininos e do seu lugar nos festivais. De fato, podemos saudar outra mudança notável: o século XXI assistiu à criação de cerca de trinta festivais de mulheres no Brasil!
Table des illustrations
![]() |
|
---|---|
Titre | Capa- Trabalhadoras do cinema brasileiro: mulheres muito além da direção |
URL | http://journals.openedition.org/cinelatino/docannexe/image/10081/img-1.png |
Fichier | image/png, 482k |
Pour citer cet article
Référence papier
Sylvie Debs, « Maria Cavalcanti Tedesco (Org), Trabalhadoras do cinema brasileiro: mulheres muito além da direção », Cinémas d’Amérique latine, 30 | 2022, 167-168.
Référence électronique
Sylvie Debs, « Maria Cavalcanti Tedesco (Org), Trabalhadoras do cinema brasileiro: mulheres muito além da direção », Cinémas d’Amérique latine [En ligne], 30 | 2022, mis en ligne le 04 septembre 2023, consulté le 10 juillet 2025. URL : http://journals.openedition.org/cinelatino/10081 ; DOI : https://doi.org/10.4000/cinelatino.10081
Haut de pageDroits d’auteur
Le texte seul est utilisable sous licence CC BY-NC-ND 4.0. Les autres éléments (illustrations, fichiers annexes importés) sont « Tous droits réservés », sauf mention contraire.
Haut de page