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Notes de lecture

José Carlos Avellar, Père pays, mère patrie, Cinéma et société au Brésil (1994-2012)

Préface de João Moreira Salles. Postface de Barbara Rangel. Traduction de Sylvie Debs. Paris, L’Harmattan, 2022, 196 p.
Paulo Roberto Pires
p. 171-172
Référence(s) :

JOSÉ CARLOS AVELLAR, Père pays, mère patrie, Cinéma et société au Brésil (1994-2012), Préface de João Moreira Salles. Postface de Barbara Rangel. Traduction de Sylvie Debs. Paris, L’Harmattan, 2022, 196 p.

Traduction(s) :
José Carlos Avellar, Père pays, mère patrie, Cinéma et société au Brésil (1994-2012) [pt]

Texte intégral

1Acoerência póstuma, lógica que imprime sentido retroativo a obra ou vida, é uma tentação impossível de evitar diante deste que acabou sendo o último ensaio de José Carlos Avellar. Quem o conhece ha de concordar que Pai pais, mãe pátria é mesmo um arremate impecável, discretamente emocionado e emocionante, de uma intensa e influente vida intelectual. Os que leem agora pela primeira vez entenderão sem dificuldade o pensamento de um critico para o qual o cinema, mais do que tema ou objeto, era o ponto de vista eleito para refletir criticamente sobre a vida, a sociedade, a família, o Brasil –e tudo o que se pode enxergar e deduzir a partir da enumeração do titulo.

2Ha pelo menos dez anos Avelar vinha trabalhando nos textos que, em sua forma final, dividem-se em 28 breves capítulos. Em cada um deles sucedem-se cenas de cinema escritas com mão de escritor e analisadas pela cabeça do crítico. O conjunto delas forma menos um todo harmônico do que um mosaico em permanente tensão, decupadas que são com a inteligência do profundo conhecedor de Eisenstein.

3Pai pais, mãe pátria desdobra e desenvolve a hipótese de que o cinema brasileiro e latino-americano a partir dos anos 1990 fotografa a família de forma significativamente oposta as produções mais marcantes dos anos 1960. Naquela época de esperança e revoluções, rostos e sutilezas foram desfocados, muitas vezes de forma explicita, em benefício de uma representação grandiosa do coletivo. No fim do século XX, o social e o político ficam borrados em favor de indivíduos nítidos, atravessados por conflitos e contradições da sociedade. Não, não é Deus que está no detalhe desse olhar materialista, mas o homem, demasiado humano em suas sutilezas.

4“Porque essencialmente fusão, porque essencialmente múltipla, a imagem da procura do pai é também da procura do país e da procura de si mesmo», sintetiza Avellar numa das frases luminosas que pontuam um percurso por cinema de autor e de entretenimento, artes visuais, literatura e psicanálise. O cinema, diz ele, é o lugar para o espectador “perder-se de si mesmo numa paixão fingida”. Não é outro, alias, o convite para uma reflexão que deixa uma incomoda sugestão, a de que a orfandade radical não é a dos que perderam os pais, mas daqueles cujos pais ainda não nasceram.

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Pour citer cet article

Référence papier

Paulo Roberto Pires, « José Carlos Avellar, Père pays, mère patrie, Cinéma et société au Brésil (1994-2012) »Cinémas d’Amérique latine, 30 | 2022, 171-172.

Référence électronique

Paulo Roberto Pires, « José Carlos Avellar, Père pays, mère patrie, Cinéma et société au Brésil (1994-2012) »Cinémas d’Amérique latine [En ligne], 30 | 2022, mis en ligne le 04 septembre 2023, consulté le 17 juillet 2025. URL : http://journals.openedition.org/cinelatino/10085 ; DOI : https://doi.org/10.4000/cinelatino.10085

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