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Liderança carismática e mediação política para a paz. Alguns fatores biológicos, antropológicos e psicológicos do carisma e do populismo

Charismatic leadership and political mediation for peace. Some biological, anthropological, and psychological factors of charisma and populism
Leadership charismatique et médiation politique pour la paix. Quelques facteurs biologiques, anthropologiques et psychologiques du charisme et du populisme
MARINA PRIETO AFONSO LENCASTRE, PEDRO CUNHA et RODRIGO DE SÁ-NOGUEIRA SARAIVA
p. 129-148

Résumés

La situation politique actuelle semble se concilier avec l’existence de leaders charismatiques et populistes qui apparaissent pour donner une voix aux différentes difficultés de la société. Dans cet article, nous aborderons le charisme et le populisme dans leurs manifestations publiques et examinerons leur relation avec les personnalités psychopathiques et schizotypiques. Notre époque exige une approche intégrée de ces réalités, non seulement pour éviter qu’elles ne se réassocient à des manifestations collectives et affectives extrêmes comme au XXe siècle, mais également parce que la psychologie des leaders charismatiques a besoin d’être enrichie des connaissances de la biologie évolutive, de l’anthropologie et de la psychopathologie. Ce n’est qu’ainsi que nous pourrons concevoir des formes efficaces de médiation politique et de construction durable de la paix.

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Texte intégral

Introdução

1O momento especial da democracia ocidental em que vivemos parece compatibilizar-se com o aparecimento, em diversos países, de líderes de formato carismático, aqueles que autores como Max Weber (2004) chamaram líderes “naturais”, figuras que aparecem historicamente em situações de dificuldades psíquicas, económicas, éticas, religiosas ou políticas. Para Weber, estas pessoas seriam portadoras de dons físicos e espirituais específicos, considerados sobrenaturais por alguns (no sentido de não serem acessíveis a toda a gente); este carisma conheceria apenas determinações e limites imanentes ao próprio líder, não sendo por isso ditados pelos sistemas da lei, pelos seus seguidores ou pela sociedade. Nestas situações, verifica-se a suspensão da confiança nas instituições tradicionais em que só conta a vontade do líder, que se apresenta como o representante legítimo do povo (Pappas, 2019). Uma das características da liderança carismática consiste na concentração do carisma numa única pessoa, considerada excecional, tanto por si mesma como pelos outros. Outras características são o espírito de missão e a promessa de redenção da condição de sofrimento ou de submissão a que o grupo está votado, nessa altura. O portador do carisma exige obediência e adesão à sua visão particular do problema e à solução, geralmente grandiosa, que propõe; sem essa submissão, a solução poderá fracassar.

2Este quadro psicossocial e político é-nos bastante familiar quando pensamos nos regimes totalitários e nos seus líderes todo-poderosos que marcaram dramaticamente o século XX e que, aparentemente, marcam ainda algumas lideranças do século XXI; e, se é verdade que acreditamos que, através da democracia participativa nos livramos desse tipo de servidão psicológica e social a chefes e regimes totalitários, é também verdade que as condições subjetivas para a sua emergência histórica continuam ativas em nós. Elas marcam o que possuímos de mais sublime, que é a nossa capacidade de entrega a um bem maior; mas marcam também a nossa tendência para a submissão e para a dominação em cadeia , a qual, em tempos incertos, substitui as relações de reciprocidade geridas pelo contrato social, bem como por relações de sedução, de agressão e de poder. O estado agêntico é a condição em que a pessoa entra num sistema de autoridade regido por outros e se comporta como agente executivo das suas vontades, abdicando da própria autonomia (Milgram, 1974).

3 Vivemos hoje tempos incertos a muitos níveis: incertezas sociais e políticas, incertezas económicas e ambientais, incertezas demográficas, incertezas na intimidade afetiva e na educação dos filhos. A investigação sobre as sociedades ocidentais contemporâneas mostra que as pessoas se sentem ameaçadas por perigos não inteiramente visíveis, habitando o que Beck (1992) chamou a sociedade de risco. Para este autor, as alterações climáticas introduzem mudanças geo-históricas de tal magnitude, que só o conceito de metamorfose do mundo as pode simbolizar (Beck, 2019). Esta configuração é fecunda para a emergência dos líderes carismáticos, e temos assistido, tanto nos países europeus como na América e na Ásia, à preferência por mensagens políticas simplificadas, a fechamentos nacionalistas e identitários e a populismos diversos.

4As vagas de imigração, paralelamente às atuações terroristas religiosas e à guerra, acentuam sentimentos excludentes dos outros que são percebidos como diferentes de nós, e opõem-se aos movimentos inclusivos fomentados pelas sociedades cosmopolitas mais integradas. Por estas razões históricas e sociais, mas também porque importa clarificar a psicologia que se encontra ativa nestas situações turbulentas, abordaremos neste artigo o carisma nas suas relações profundas com a religiosidade humana, a sedução e a dominação, e também com o amor, o medo e a afiliação. Será ocasião para expormos as suas raízes etológicas e as formas como estas são moduladas no seio das histórias individuais e familiares, e nas culturas; seguiremos as propostas de autores que mostraram a relação de tipos de personalidade, como a personalidade psicopática e esquizotípica, com o carisma social e a religião. Faremos considerações sobre o papel adaptativo destas personalidades nas sociedades antigas, assim como sobre a psicopatologia delas derivada.

5Consideramos que a época em que vivemos impõe uma abordagem integrada destas realidades, não somente para impedir que voltem a associar-se a manifestações coletivas e afetivas extremas, mas também porque a psicologia dos líderes carismáticos precisa de se enriquecer com os conhecimentos oriundos da biologia evolutiva, da antropologia e da psicopatologia. Só assim poderemos conceber formas eficazes de mediação política e de construção durável da paz nas sociedades contemporâneas.

1. Carisma, poder e religiosidade

6Segundo Stevens e Price (2000), o verdadeiro carisma possui uma qualidade extática, dionisíaca, que se exerce para lá das categorias sociais e morais comuns, podendo revolucionar a vida social através da libertação de forças de vida que se opõem à tradição e às regras do quotidiano. Esta força elementar confere muitas vezes ao líder uma especial ligação com o transcendente, legitimando a sua autoridade de modo religioso através de visões e profecias sobre o futuro do grupo. Outras culturas não ocidentais utilizam palavras diferentes para designar essa força sobrenatural: na África central usa-se o termo evu, ou evur, para falar de uma substância corporal suplementar e misteriosa que torna os seus detentores aptos a evitar o infortúnio, a enriquecer, a praticar a feitiçaria e a cantar epopeias (de Heusch, 2006). Em África, este evu é ambivalente; caracteriza os “homens da noite”, ou seja, os feiticeiros, e apresenta-se sob diferentes formas: o evu da prosperidade, da riqueza, do amor, da palavra e do comando, da habilidade. Na língua árabe, a força vital é chamada baraka e é sempre um poder positivo, próximo da aceção ocidental de graça e de bendição (Ibidem). Clifford Geertz (1983) atribuiu à baraka a energia excecional de Moulay Hassan, sultão marroquino do século XIX que reforçou o sistema político e conduziu importantes reformas administrativas e militares numa época em que o Norte de África estava sob o controle de forças estrangeiras.

7 Mas o carisma não se associa necessariamente a ações benéficas para o grupo; Hitler, que foi um líder carismático, levou a Alemanha e outros países e povos à destruição, porque nesse difícil momento da história alemã muitos viram nele o profeta messiânico destinado a regenerar a nação. Os seus discursos levantaram multidões e suscitaram paixões arrebatadas e sofridas nas mulheres do seu tempo, apesar da notória mediocridade cultural e política do personagem (Ducret, 2011). As paixões que estes líderes suscitam tanto em homens como em mulheres, o arrebatamento amoroso e ideológico que inspiram, são características marcantes dos líderes carismáticos, as mesmas que levaram Luc de Heusch a relacionar, na sua obra de 2006, o carisma com o transe mediúnico, a feitiçaria, a dança e o teatro, o êxtase místico e a hipnose coletiva.

8Estamos, portanto, perante um fenómeno real, apesar de raro, com raízes diversas na psicologia humana, e cujos efeitos pessoais e coletivos pautam a história da humanidade. Moscovici tratou deste assunto na sua obra de 1985, L’Âge des foules, comparando os chefes carismáticos a verdadeiros hipnotizadores; nessa obra, distingue entre líderes carismáticos bons (como Moisés) e maus (como Estaline), identificando simbolicamente estes últimos com os descendentes da linhagem dos líderes totémicos, aqueles que, segundo Freud, cometeram o parricídio original, na origem das religiões e da cultura (Freud, 1912). Para Freud, o totem religioso corresponderia à figuração simbólica do pai primordial assassinado a quem se deve prestar tributo para aplacar a culpabilidade e manter a paz entre os filhos. Mas, para Moscovici (1985), o mau chefe carismático, em vez de se submeter à lei do pai totémico, reencarna o pai primordial, autoelegendo-se como chefe original e beneficiando de todos os privilégios, para lá da lei e da moral do grupo.

2. Raízes etológicas, antropológicas e psicológicas do domínio social e do carisma. A etologia da agressão e da dominância

  • 1 A narrativa freudiana de Totem e Tabu (1912) pode ser interpretada como a condensação, com inversão (...)

9Freud nunca rejeitou a sua tese sobre a origem das religiões e das hierarquias sociais expostas em Totem e Tabu (1912), mas a etologia, a antropologia e a história mostraram o carácter mítico desta narrativa1. Na verdade, mais do que um parricídio original, justificado por todo o mal imposto pelos chefes violentos e vingativos, devemos encontrar a raiz da violência individual na biologia evolutiva do comportamento e na neuroquímica, estreitamente articuladas com as dinâmicas culturais e familiares da agressão. A etologia diz-nos que a agressão é um comportamento ostensivo, em geral mais característico dos machos, para prejudicar os rivais e atrair parceiras sexuais, ou ainda para adquirir ou manter o estatuto no grupo e defender recursos, filhos e territórios.

10Segundo Wrangham (2017), a agressão humana pode ser reativa, quando se trata de responder a um comportamento sentido como ameaçador, ou pode ser proativa, quando é, ela própria, ameaçadora ou violenta. Estes dois tipos de agressão são distintos na sua expressão, no seu desenvolvimento e função, nas vias neuroquímicas utilizadas e nos fatores desencadeadores. Tal como nos chimpanzés comuns (Pan troglodytes), nos humanos a agressão proativa e violenta parece ser mais frequente do que a agressão reativa (Wrangham, 2017). Nos chimpanzés pigmeus (Pan paniscus), a agressão é rara, e os comportamentos de dominância conduzem a formas mais brandas de ritualização agonista e de hierarquização, sobretudos nas fêmeas. A diferenciação entre as duas espécies terá ocorrido há cerca de um a dois milhões de anos, e prendeu-se com a adaptação a ecologias alimentares diferentes que exigiram taxas também elas diferentes de competição social, permitindo um processo de autodomesticação e de diminuição da agressão nos bonobos (Hare et al., 2012).

11Heinrich e Gil-White (2001) distinguem dois tipos de hierarquias nos humanos: a que é baseada na agressão e na dominância, e a que é baseada no prestígio e na competência. Correspondem a duas formas contrastadas de adquirir e de manter o poder dentro dos grupos: a primeira assenta no medo dos superiores, na subordinação e no evitamento, a segunda assenta nas interações diádicas e públicas, com muito tempo útil passado na proximidade do líder. Os líderes humanos agressivos e carismáticos, tais como foram definidos por Moscovici (1985), parecem recorrer a tipos de hierarquias alicerçadas no medo, no afastamento físico e na humilhação dos subordinados. Foi o caso de Estaline, de Mao, de Saddam Hussein e de D. Trump, ao contrário de Barack Obama ou de Nelson Mandela, que encarnam o típico líder carismático de prestígio.

12Os comportamentos agressivos dos animais não humanos relacionam-se essencialmente com a reprodução e estão sob controle sazonal e também hormonal. Nos humanos, há evidência de que o estatuto social elevado, sobretudo dos homens, aumenta o acesso ao sexo oposto, o que é visível nas biografias de reis, imperadores e outros homens poderosos, transculturalmente (Buss, 1989). Nos humanos, a abordagem neuro-androgénica do crime (Ellis, 2008) mostrou que a testosterona alta está ligada nos homens, e também nas mulheres, a alta competitividade. Quando age em conjunto com níveis baixos de serotonina, que se associam a sentimentos de baixo estatuto, e com dopamina alta, que por sua vez se associa a comportamentos apetitivos, aumenta a resposta agressiva e relaciona-se com baixo controle executivo, alta impulsividade e violência. É o que acontece quando sentimentos de grandiosidade pessoal combinados com intensa busca de recompensa são denegridos pela situação de humilhação ou de exclusão social: a busca de poder usando comportamentos violentos torna-se provável, do mesmo modo que a obediência a líderes poderosos e agressivos. Segundo Zehndorfer (2019), a adesão a líderes populistas tem efeitos sobre a fisiologia da testosterona e da dopamina dos seguidores. Aumentando os seus níveis fisiológicos, aumentam dramaticamente os sentimentos de prazer, de sucesso e de competitividade. Este fenómeno é condicionado pela etologia da dominância para a maximização reprodutiva e mostra como a política é um processo essencialmente comportamental e emocional intimamente ligado ao sexo (Deloire e Dubois, 2006); nos dias de hoje, está estrategicamente condicionado por técnicas comunicacionais tornadas omnipresentes através das tecnologias (rádio, televisão, redes sociais, etc.). É esta intersecção entre tecnologia, etologia e fisiologia que, segundo a autora, permitiu o ressurgimento recente de líderes e movimentos populistas, no Ocidente.

13Quando há ameaça ao estatuto ou um sentimento de descarte social, zonas cerebrais como o córtex cingulado anterior dorsal são ativadas, processando o que é sentido como uma experiência de angústia provocada por condições de exclusão social. Estas zonas cerebrais são as mesmas que se associam ao desprazer da dor física (Rainville et al., 1997). A experiência de angústia social está, assim, diretamente ligada a uma experiência de dor física, e este afeto concreto, físico, da dor leva em algumas pessoas a uma resposta também ela concreta, e física, do mal-estar. Esta resposta pode ser então a destruição violenta dos outros humanos que impedem a satisfação pessoal, são humilhantes ou considerados como ameaças. Num trabalho de 2004, Sapolsky mostrou a relação entre o estatuto social, o stress social e o funcionamento do sistema imunitário, reprodutivo, cardiovascular e adreno-cortical, nos primatas não humanos. Segundo este autor, o baixo estatuto socioeconómico nos humanos está relacionado com um conjunto de doenças somáticas envolvendo estes mesmos sistemas. Os humanos podem mobilizar a resposta fisiológica ao stress por razões puramente sociais ou psicológicas, sem que exista um perigo real contra o qual se proteger; este fenómeno poderá explicar tanto a tendência dos líderes carismáticos para desenvolverem características paranoides e de máxima desconfiança em relação aos seus próximos colaboradores, nomeadamente os oficiais de alta patente e até os seus médicos, como a sua tendência para esconder problemas de saúde física que os poderiam diminuir aos olhos dos outros. Vargas Llosa (2022) relata a forma como o ditador populista da República Dominicana Rafael Trujillo mandou assassinar o seu médico após ter recebido dele uma má notícia sobre a sua saúde. No seu livro de 2000 La Fiesta del Chivo, mostra como a política desse ditador consistiu em manter o poder através de assassinatos e manipulação. O sentimento de falta de controle e de previsibilidade, a ausência de alvos inimigos e o isolamento social aumentam a probabilidade de resposta violenta nestes indivíduos.

3. Antropologia do carisma e do poder

14Todas as sociedades pré-industriais apresentam algum tipo de medicine men, feiticeiros (sobretudo em África) ou xamãs (Norte da Europa e América, por exemplo), que são um misto de médico e de religioso que pratica magias e rituais de adivinhação e de cura. Experimentam visões e alucinações, comunicando com o sobrenatural e recebendo deste modo as orientações para as questões importantes do grupo. Em todas estas sociedades existe a distinção entre o louco e o especialista, e a este último são creditados os feitos mais extraordinários para a vida simbólica e religiosa do grupo, como o acesso aos grandes mitos fundadores e o diálogo com as suas figuras lendárias. São estas personalidades de exceção que continuamos a encontrar nas nossas sociedades, fortemente relacionadas com os âmbitos do conhecimento e da criação e, por vezes, com a liderança política e religiosa, ou ambas (Lencastre, 2017).

  • 2 O hemisfério esquerdo é responsável por funções como o processamento da fala, o pensamento racional (...)

15Em termos antropológicos, a ausência de dominância do hemisfério esquerdo2 em certos indivíduos peculiares, a par da estimulação de outras partes do cérebro, permitiu provavelmente o processamento seminal de experiências incomuns, interpretadas como religiosas e carismáticas, originalmente associadas às experiências catatónicas ou convulsivas da possessão pelos espíritos, ao xamanismo e a papéis sociais de exceção. Estas experiências extraordinárias incluíam visões e alucinações sintónicas com as cosmogonias locais e beneficiaram os grupos paleolíticos de variadas maneiras, organizando as práticas sobre o social e o ecológico. Os xamãs, com as suas alucinações míticas e rituais de cura, foram especialistas em várias vertentes das sociedades de caçadores-coletores animistas. O xamã vê e sente, tem um controle ativo sobre a sua viagem ao mundo sobrenatural, de que se lembra perfeitamente. O seu objetivo é encontrar os espíritos, depois de ter sido preparado para isso pelos xamãs mais experientes (Eliade, 1968). O xamã conhece pessoalmente a morte, a doença, as várias ameaças para o grupo, a vida mundana e o depois da vida. O xamanismo é uma prática de grupo, em que apenas o xamã entra no estado de transe de uma forma mentalmente ativa. Nas sociedades mais complexas, o xamanismo evoluiu para os papéis sociais de curandeiro, adivinho, feiticeiro e médium (Polimeni e Reiss, 2002).

16As alucinações são genericamente abordadas pela psiquiatria ocidental como um sintoma de psicopatologia e, quando acompanhadas de outros sinais como bizarria do pensamento, desorganização do comportamento, sintomas catatónicos, afeto inapropriado, narrativas de autorreferência, de perseguição etc., são classificadas como esquizofrenia. A esquizofrenia corresponde a um grupo heterogéneo de sintomas clínicos com uma prevalência de cerca de 1% na população total, mesmo se há variações locais no diagnóstico, muitas vezes em função de valores culturais. A influência da identidade étnica e da classe social são fatores importantes no reconhecimento da patologia. Por exemplo, nas sociedades coletivistas, membros da família são associados à decisão diagnóstica, à avaliação da extensão da doença, à decisão sobre se a pessoa deve ou não ser tratada e por quem (Versola-Russo, 2006).

17Existe um corpo importante de literatura mostrando que os xamãs não são psicóticos e que, mesmo nas culturas animistas em que as alucinações xamânicas são consideradas normais, há a distinção clara entre uma manifestação patológica e outra não patológica da experiência mental (de Heusch, 2006). Para Silverman (1967), a grande diferença entre a religião xamânica e a psicose consiste na aceitação cultural dos comportamentos do xamã; para este autor, o transe, os estados dissociados, as alucinações e a atividade mitológica típicas do xamanismo e de outras religiões são universais humanos que a cultura ocidental estigmatizou e futiliza. Para a nossa cultura racional e utilitária, os fenómenos religiosos e a perturbação mental são considerados atividades ilusórias e erradas da mente. Qual a relação destes fenómenos com o carisma político na atualidade, com o poder e o populismo?

4. Carisma e psicopatologia

18Os maus líderes carismáticos são frequentemente considerados como provocatórios, mal-educados e politicamente perturbadores, mas também suscitam admiração e adesão, principalmente por parte daqueles que estão insatisfeitos com a situação política, económica e social. O carisma populista consiste na capacidade de persuadir e motivar através de discursos que simplificam a complexidade do real e incentivam a ação imediata. Uma investigação que analisou a personalidade de 152 candidatos às eleições, incluindo 33 candidatos populistas, mostrou que estes últimos apresentavam valores baixos na agradabilidade, estabilidade emocional e conscienciosidade, e valores altos na extraversão, narcisismo, psicopatia e maquiavelismo (Nai e Coma, 2019), típicos das personalidades psicopáticas e também narcísicas perversas (Racamier, 2012; Bouchoux, 2021). Não é incomum encontrarmos experiências de violência e/ou abuso nas biografias dos maus líderes carismáticos, e são também estes que geralmente respondem com violência e destrutividade aos desafios da vida. O sofrimento precoce, frequentemente no seio de famílias abusivas, abandónicas ou desestruturadas, condiciona uma falha nas identificações, o que gera um Eu mal estruturado, com refúgio no narcisismo grandioso, e um funcionamento em processo primário (Itzkowitz, 2018). Este caracteriza-se pela satisfação imediata das necessidades, falha na internalização dos interditos e oscilação permanente entre estados de megalomania e profundo aniquilamento e desvalorização (Haycock, 2019). Já em 1964, E. Fromm identificara um tipo de agressão maligna, muitas vezes resultante de uma infância de maus-tratos ou de ausência paterna, que pode produzir a personalidade psicopática. Em 1971, Fromm aplicou esse conceito a militares nazis responsáveis pela tortura e morte de inúmeras pessoas que o regime considerava sub-humanas ou traidoras. Por vezes acompanhada de perversão e narcisismo grandioso, a psicopatia compele estas pessoas para a aquisição absoluta de poder e para extensas teorias da conspiração, muito perigosas para a estabilidade política, tanto nacional quanto internacional (Thiers e Wehner, 2022). Quando, em janeiro de 2021, uma multidão enfurecida de apoiantes de Donald Trump invadiu o Capitólio em Washington DC, acreditava na teoria conspiradora, fomentada pelo próprio Trump, de que as eleições presidenciais do país lhes haviam sido roubadas pelos oponentes políticos do então presidente. A ideia era simplesmente encobrir os resultados eleitorais através da aceitação da especial iluminação do chefe e da revolução do povo que o apoiava. Como é típico dos líderes populistas, os restantes votantes não encarnavam o povo (Müller, 2019).

19 Ao contrário da psicopatia, que mantém o sentido da realidade intacto e se caracteriza pela manipulação consciente dos outros, há outras formas de psicopatologia relacionadas com a liderança carismática e o populismo. Para Stevens e Price (2000), as formas mais severas de perturbações do humor podem levar até à ocorrência de alucinações e delírios, ou seja, a convicções absolutas sobre determinadas realidades invisíveis ao comum dos mortais, mas que, em momentos particulares da história do grupo, podem tomar proporções escatológicas e denotar sentimentos mais gerais sobre a vida e a morte do todo. Tornam-se então em inspiração para o grupo social e estabelecem um tipo de liderança carismática agonista, que define as fronteiras entre o nós e os outros e avança para a violência legitimada. Este foi o cenário que, na Alemanha hitleriana, encontrou nos judeus, ciganos e doentes mentais o bode expiatório para a projeção de tudo o que era mau, sujo e contaminado, mantendo intacto o grupo ariano (Girard, 1982). Mas este cenário só foi possível porque a Alemanha pré-hitleriana se encontrava numa situação de sofrimento e de humilhação históricas que permitiu a eclosão do chefe-redentor, com a sua panóplia de visões e linguagem simplificadas, a clivagem paranoide entre os bons e os maus, as exibições de força pelos hinos e paradas militares, a mitologia antiga revisitada. Numa situação política e histórica mais estável, Hitler provavelmente não teria tido o apoio da nação. Mas só a história nos poderia dar essa resposta com certeza; e os tempos de incerteza e populismos que vivemos nos dias de hoje levam-nos a ser prudentes sobre esta possibilidade e a tornar obrigatório conhecer o fenómeno para o poder prevenir.

20 A maioria dos líderes visionários, profetas e gurus não apresenta sinais de perturbação bipolar do humor, e os seus sinais e sintomas aproximam-se mais de um diagnóstico de perturbação esquizoafetiva e de psicose, especificamente de esquizofrenia (Stevens e Price, 2000). Importa ressaltar que a fronteira entre a loucura e a genialidade, ou a proximidade com o sobrenatural, é muitas vezes ténue e sujeita a normas e significados culturais (Fischer, 1979).

21 Não existe uma teoria englobante sobre a esquizofrenia, e diversas descobertas clínicas, comportamentais, neuroanatómicas, fisiológicas e genéticas são incompatíveis entre si. Muitas destas descobertas assentam na ideia não provada de que a doença corresponde a uma entidade nosológica homogénea e é causada por poucos genes ou polimorfismos de poucos genes, com efeitos de largo espectro. Havendo uma clara desvantagem reprodutiva dos esquizofrénicos, porque é que a doença persiste nas populações humanas de modo transcultural?

22 Há várias hipóteses para tentar explicar a prevalência da esquizofrenia. Desde a maior resistência física e criatividade mental dos parentes heterozigóticos ao efeito da aquisição evolutiva da linguagem (Crow, 2000) e à evolução da mente religiosa (Polimeni e Reiss, 2002). A especiação de Homo sapiens levou à lateralização do cérebro com significativa expansão na região temporo-occipital esquerda que permitiu o uso da linguagem simbólica. É provável que estas mudanças de lateralidade, e as suas variações, sejam controladas por alguns genes reguladores, e o polimorfismo destes genes pode ter efeitos ao nível da organização cerebral da dominância dos hemisférios (Crow, 2000). Uma das características da esquizofrenia, e também das personalidades criativas e místicas, parece ser a maior equivalência funcional dos dois hemisférios. Estas pessoas têm maior propensão para pensamentos inovadores, criativos e, por vezes, bizarros. Podem ser líderes carismáticos de seitas, de cultos ou de partidos, e o sucesso na liderança pode diminuir os sentimentos de bizarria e de desajuste grupal, evitando o desenvolvimento de psicopatologia. Pyotr Kuznetsov foi um líder de seita que desenvolveu um culto apocalíptico na cidade de Penza, na Rússia. A 14 de dezembro de 2007, mais de 30 membros desse culto barricaram-se numa caverna remota para aguardar o fim do mundo, ameaçando suicidar-se. A polícia interveio e Kuznetsov foi detido e diagnosticado com esquizofrenia (Ward, 2008).

23 Este e outros exemplos permitem-nos compreender melhor os mecanismos psicológicos da liderança carismática. Nos dias de hoje, em que as incertezas sociais e ambientais nos confrontam diariamente com um mundo em profunda transformação, as condições para a emergência destes líderes estão aí. Só a confiança nos mecanismos de regulação democrática das sociedades, assim como o conhecimento sobre as poderosas emoções pessoais e coletivas que sustentam estes fenómenos, nos podem ajudar a evitá-los e a transformá-los. Uma mediação política assim informada pode ser um dos caminhos para a pacificação social e a construção participada do futuro.

5. Liderança carismática e mediação política no século XXI

24Atendendo ao que foi apresentado até aqui, iremos analisar de seguida como é que os caminhos propostos, no âmbito das modernas democracias, para a construção da pacificação social podem constituir uma mais-valia no sentido de protegerem os sistemas democráticos face aos desafios que as personalidades carismáticas lhes trazem.

25Desde os anos 1980, com o omnipresente método da negociação direta entre as partes envolvidas num conflito político, temos vindo a assistir ao destacado crescimento de outras metodologias como a mediação ou a conciliação. Múltiplas questões se colocam a estes procedimentos, algumas alavancando o seu desenvolvimento com ênfase na sua função global de regulação democrática das sociedades, outras procurando contrariá-los em virtude, talvez, do facto de apostarem todas num maior protagonismo dos cidadãos na vida das sociedades a que pertencem e na construção da paz consigo e com os outros (possivelmente porque, implicando já um maior amadurecimento emocional e político por parte dos cidadãos, signifiquem uma cidadania mais ativa e participada).

26Os últimos tempos no mundo ocidental fizeram-nos voltar a pensar na paz, no que a mesma significa e como pode ser alcançada. Num mundo pautado pela superficialidade dos contactos e das relações interpessoais, ou “pela falta de sensibilidade” (Hicks, 2013), onde as vidas são vividas a uma cadência tecnológica, onde o afeto é referido como se se tratasse de algo alheio ao humano, podemos admitir que este seria um território fecundo para que personalidades visionárias, autoritárias e imbuídas de algum cariz profético pudessem progredir através da promessa da recuperação da segurança e paz “perdidas” com as “vacilações” dos sistemas democráticos.

27O desejo de paz é universal e transversal à vida humana, desde o contexto tão-somente intrapessoal até ao cenário da política internacional, constituindo a paz, como refere Hicks (2013), um abrigo seguro e mais humano para todos. No atual contexto das democracias em que vivemos, e para as quais a negociação constitui um pilar fundamental, há uma nítida separação entre os líderes que se afirmam democraticamente e aqueles que exercem lideranças de outra categoria: a não hesitação na defesa da diplomacia, da paz e da não proliferação de armas nucleares (ElBaradei, 2011).

28No entanto, quando falamos de paz, temos de ter presente que culturas e correntes políticas distintas combinam valores de diferentes formas para nos dar dela uma definição. De forma sintética, há uma perspetiva que sempre identificou a paz com a ausência de guerra (“paz negativa”). Na esteira de São Tomás de Aquino, Martin Luther King e muitos outros, outra perspetiva considera que a ocorrência da paz exige a presença de outros valores (“paz positiva”). Desde a década de 1960 têm sido propostos diferentes valores para preencher a ausência de violência física, como a equidade ou bem-estar (ausência de violência estrutural), a liberdade (ausência de opressão) e a identidade (ausência de alienação ou de violência cultural) (Wiberg, 2005). Desse modo, uma conceção multidimensional de paz parece mais consensual; ou seja, a ausência de guerra (ou de ameaça de guerra) não constitui senão um aspeto a considerar entre outras dimensões, como, por exemplo, a não violência nos processos de transformação política (Galtung, 2007; Ferreira, 2017; Richmond, 2014, 2022).

29Entre os métodos de prevenção, gestão e resolução de conflitos que melhores resultados têm conseguido obter no que concerne a dar protagonismo aos conflituantes como construtores da sua própria paz, surge a mediação – uma forma específica de negociação assistida por uma terceira parte neutra e imparcial que, pelo seu prestígio social, se torna um facilitador do encontro entre os litigantes (o mediador). Entre os pressupostos da cultura da mediação destacamos, entre outros, o de que os conflitos, mais do que prevenidos ou resolvidos, podem ser sobretudo geridos, sendo o conflito intrínseco à vida social. Também há que assinalar que os conflitos não são percebidos apenas como uma ameaça, mas como podendo conter efeitos benéficos, dado que os envolvidos podem tirar partido do cenário conturbado e desafiante em que se encontram inseridos.

30A mediação constitui assim uma via prestigiada para, com dignidade, conferir paz àqueles que se veem envolvidos em conflitos (Hicks, 2013). Mais especificamente, a mediação política pode ser um enorme apoio no frágil equilíbrio entre o desejo de estabilidade e o desejo de mudança porque permite que, face aos instintos de autoproteção, mesmo quando a democracia está em risco, saibamos criar alternativas que permitam manter a liberdade de pensamento e de ação num contexto de não violência. A mediação pode atuar como mais um processo de preservação da democracia e da paz, permitindo prevenir fenómenos extremos de populismo e rutura.

31Aos mediados é conferido o poder de decisão sobre a construção da paz, e esta possibilidade de autodeterminação faz com que as pessoas sejam verdadeiras “coconstrutoras” dos acordos que estabelecem. Mais ainda: parece-nos essencial, quando pensamos em formas de fazer frente às lideranças carismáticas e aos populismos que as acompanham, equacionar a possibilidade de os mediadores desempenharem um papel importante para combater o perigo que as mesmas constituem para as democracias.

32De facto, o mediador político pode ser um indivíduo (ou organismo) que aplica os seus conhecimentos e competências ao serviço dos oponentes num processo voluntário e confidencial, cujo resultado se pretende que seja imparcial, fruto da exigência da sua neutralidade tanto em relação às partes como aos assuntos em contenda. A visão do mediador como alguém confiável vem do seu compromisso com o processo de paz, alcançado mediante o diálogo e de forma não violenta. É por isso que mesmo indivíduos, ONG e organizações regionais sem poder material também podem ser olhados como mediadores neutros e possíveis (Freitas e Lacerda, 2016).

33Existem alguns bons exemplos de como a mediação política tem proporcionado melhores perspetivas no sentido de controlar o uso da força nas tensões internacionais, particularmente pelo facto de o mediador atuar como facilitador e/ou comunicador (que ajuda a restabelecer as relações entre os envolvidos e a compreender a importância das mensagens para a gestão do conflito) ou por desempenhar um papel essencialmente processual (no qual desenvolve tarefas formais, como recolha de informações e definição da agenda entre as partes ou possibilita o conhecimento mútuo dos interesses e reivindicações dos envolvidos) (Gallucio, 2015). Os conflituantes podem beneficiar, assim, deste tipo de mediação pois obtêm uma vantagem comparativa em relação à incerteza, concentrando-se no controle da partilha das suas informações ou no aumento da partilha de informações dos seus oponentes (Chen, 2019).

Conclusão: carisma, populismo e mediação política para a paz

34Constatamos que a mediação política pode constituir um caminho relevante para a paz, no que concerne a gerir os desafios decorrentes dos populismos que ameaçam os nossos dias. Na verdade, através do seu compromisso com a paz e da colocação daqueles que não têm voz (e que através dos populismos apenas ficam com a ilusão de que a têm) no centro da sua atenção, a mediação pode ter um impacto real na regulação e na coesão social (Costa, 2018; Cunha e Leitão, 2021). O mediador pode dar voz às franjas da população que se encontram descontentes com o sistema, que se consideram dele excluídas, que almejam por uma nova justiça, que sentem as desigualdades sociais de muito perto, desempenhando um papel construtivo e socioeducativo na prevenção, gestão e resolução cooperativa dos conflitos que daí eclodem, o que é essencial para responder às exigências da sociedade contemporânea e garantir o respeito pelos direitos humanos. É fundamental que as pessoas que estão no centro de um conflito vislumbrem no gestor desse processo a segurança de uma pessoa experiente, capaz de ver e propor novas opções. Isso está entre as mais importantes funções de um mediador.

35Os mediadores diplomáticos, políticos e internacionais, podem constituir esse elo que liga os “descontentes” com o sistema democrático e que precisam de ser escutados, desconectando-os dos populismos fáceis que lhes são propostos pelos líderes carismáticos e autoritários. Na prática, o mediador pode concretizar isso porque escuta as pessoas, identifica interesses subjacentes às posições das partes, procura incessantemente soluções de ganhos mútuos, mantém os envolvidos com foco na solução dos problemas e com um tratamento de respeito mútuo, impede que qualquer parte se sinta secundarizada e formaliza os acordos que por elas foram construídos. Um bom exemplo disto pode ser encontrado entre muitos diplomatas que atuam como mediadores políticos imbuídos de firmeza, mas também de uma dinâmica flexível que pode conduzir a resultados eficazes em contextos onde a negociação entre as partes não é tão aconselhável.

36Desse modo, diplomatas com conhecimentos sobre emoções pessoais e coletivas que sustêm os populismos podem intervir no sentido de os obstar e redirecionar. Uma mediação política assim informada pode ser um dos caminhos mais profícuos para a pacificação social no futuro. Não apenas uma gestão preventiva ou resolutiva de conflitos, mas uma gestão positiva e transformadora das pessoas, das relações e das situações (Cunha e Leitão, 2021).

37O mediador político, juntamente com muitas outras instâncias existentes na sociedade, entre as quais a escola é incontornável, pode ter, portanto, um papel essencial no que toca a educar para a não violência, para a paz e para a cidadania, ajudando a formar cidadãos democráticos e, sobretudo, com espírito crítico para combater os perigos totalitários que nos assolam novamente.

38Para concluir, a mediação é uma cultura de paz e de cidadania, essencial para o desenvolvimento de sociedades sustentáveis, humanistas e críticas, razão pela qual a sua cultura própria é fundamental para o desenvolvimento de lideranças democráticas e também solidárias, assim como para a educação de pessoas autónomas e autodeterminadas e para o desenvolvimento de processos de evolução pessoal e coletiva assentes na responsabilidade (Silva, 2018).

39Nota: O presente artigo foi escrito no contexto do projeto “Compor Mundos. Humanidades, Bem-Estar e Saúde” suportado pela Fundação Fernando Pessoa (FFP).

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92- Receção: 15.07.2022

93- Aprovação: 25.09.2022

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Notes

1 A narrativa freudiana de Totem e Tabu (1912) pode ser interpretada como a condensação, com inversão cronológica, da problemática judaica do Deus da Lei e da obediência (o deus totémico) com a acusação milenar do assassinato de Deus, na figura de Jesus.

2 O hemisfério esquerdo é responsável por funções como o processamento da fala, o pensamento racional, verbal e analítico, o processamento gramatical e da figura-fundo, a perceção temporal, a precisão e velocidade, entre outras. O hemisfério direito é responsável por funções como o processamento de tarefas espaciais e não verbais, o esquema corporal, o processamento das notas musicais, dos sons de animais e do ritmo (andar, dançar e falar), o processamento holístico das informações, o reconhecimento de expressões faciais, entre outras.

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Pour citer cet article

Référence papier

MARINA PRIETO AFONSO LENCASTRE, PEDRO CUNHA et RODRIGO DE SÁ-NOGUEIRA SARAIVA, « Liderança carismática e mediação política para a paz. Alguns fatores biológicos, antropológicos e psicológicos do carisma e do populismo »Configurações, 30 | -1, 129-148.

Référence électronique

MARINA PRIETO AFONSO LENCASTRE, PEDRO CUNHA et RODRIGO DE SÁ-NOGUEIRA SARAIVA, « Liderança carismática e mediação política para a paz. Alguns fatores biológicos, antropológicos e psicológicos do carisma e do populismo »Configurações [En ligne], 30 | 2022, mis en ligne le 02 janvier 2023, consulté le 16 avril 2024. URL : http://journals.openedition.org/configuracoes/16424 ; DOI : https://doi.org/10.4000/configuracoes.16424

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Auteurs

MARINA PRIETO AFONSO LENCASTRE

Universidade Fernando Pessoa (UFP)

mlencast@ufp.edu.pt

ORCID ID: https://orcid.org/0000-0003-1879-1077

PEDRO CUNHA

Universidade Fernando Pessoa (UFP)

pcunha@ufp.edu.pt

ORCID ID: https://orcid.org/0000-0003-3219-4543

Articles du même auteur

RODRIGO DE SÁ-NOGUEIRA SARAIVA

Universidade de Lisboa (ULisboa)

rsns@fpce.ul.pt

ORCID ID: https://orcid.org/0000000331243956

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