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GALTUNG, Johan - Peace by peaceful means. Peace and conflict, development, and civilization. Londres: Sage Publications, 1996. ISBN 0803975104.

ELISABETE PINTO DA COSTA
p. 149-152

Texto integral

1A paz é mais do que a ausência de guerra. Sobre esta premissa fundaram-se os Estudos para a Paz, que têm Johan Galtung como teórico fundador. Entre as inúmeras obras e artigos científicos escritos pelo autor destaca-se Peace by Peaceful Means: Peace and conflict, development, and civilization, onde expõe argumentações de natureza epistemológica, ontológica e metodológica, com vista a conceber um novo paradigma em que a paz poderá tornar-se uma realidade integral.

2A obra está dividida em quatro partes, através das quais, e numa abordagem crítica, o autor apresenta diversas teses acerca da teoria da paz (Parte I), da teoria do conflito (Parte II), da teoria do desenvolvimento (Parte III) e da teoria da civilização (Parte IV). Cada parte é precedida por um texto introdutório referente à paz ou pazes e termina com um texto conclusivo, em que se faz a articulação entre paz e conflito, desenvolvimento e civilização, numa perspetiva sistémica, estruturalista, libertadora, curativa, preventiva e empoderadora.

3A proposta de rutura paradigmática que perpassa toda a obra é sustentada numa lógica interdisciplinar e de revisão teórica acerca da paz. Neste contexto, o autor refere-se aos estudos empíricos da paz, que se inserem nas ciências sociais clássicas (aquelas que advogam que os dados prevalecem); os estudos críticos da paz, no âmbito dos quais se assumem posições explícitas baseadas em valores (os valores prevalecem sobre os dados); os estudos construtivistas da paz, que acrescentam uma dimensão de inter(ação)venção (em que os valores se vão construindo). Nesta visão ampla dos estudos da paz, o autor advoga então uma abordagem epistemológica não positivista, imbuída de valores humanistas e materializada em intervenções explícitas. Concretamente, a construção da paz deve, por um lado, assentar num processo de diagnóstico-prognóstico-terapia, onde o passado, o presente e o futuro são tempos essenciais para a sua construção e, por outro, atender aos diversos contextos: Natureza, Homem, Social, Mundo, Tempo, Cultura. Nesta perspetiva, o objetivo principal dos Estudos para a Paz reside em prosseguir com a paz e não apenas estudá-la.

4No que se refere à paz e à violência, Galtung recomenda que estes fenómenos sejam vistos na sua totalidade e em todos os níveis da organização da vida. A paz não é a ausência de guerra, considerada uma paz negativa. A paz é a transformação não violenta e criativa dos conflitos e é a ausência de qualquer tipo de violência, atestada na presença da simbiose e da equidade nas relações humanas, sendo então considerada uma paz positiva. Segundo o autor, para melhor compreendermos os significados da paz, é importante escrutinar os significados da violência. A violência direta pode ser verbal e física, o que prejudica o corpo, a mente ou o espírito. A violência estrutural pode manifestar-se na política, na economia e na sociedade, apoiada por uma inserção estrutural e silenciada na segmentação, fragmentação e marginalização. A violência cultural é revelada pelo conteúdo: religião, ideologia, linguagem, arte, ciência, cosmologia (cultura profunda); e por diferentes portadores, como escolas, universidades, meios de comunicação social, etc. É na análise de cada um destes tipos de violência e nos vários níveis da vida humana que Galtung defende uma ação revolucionária, por ser emancipatória, de mudança da estrutura e da sua dinâmica. O grande desiderato é tomar consciência da presença da violência na cosmologia social, que é coletiva e subconsciente, para a transcender através de subcoletivos que se educam e treinam, adquirem competências, criam redes de diálogo e de cooperação, numa lógica local, nacional e transnacional, de igualdade de género, de reconhecimento de culturas, de desenvolvimento, onde a paz global pode ser construída.

5Partindo do princípio de que não existem realidades irreversíveis, Galtung aponta a paz como um processo dinâmico que deve impregnar a estrutura e a cultura através de desenvolvimento e de civilização. O otimismo, se não mesmo a utopia, das teses apresentadas na obra é equilibrado pelo realismo e pragmatismo associados à imperfeição dos seres humanos. O autor destaca ainda a criatividade e afirma que a paz é o objetivo de uma teoria ampla e profunda, apresentando-se extremamente útil para a civilização humana (para além de Estados, sistemas económicos e políticos e culturas dissociativas).

6Em suma, a leitura da obra possibilita compreender melhor o complexo processo de construção da paz no mundo, através da transcendência de uma síndrome triangular da violência, impregnada durante séculos no subconsciente coletivo, para uma síndrome triangular da paz.

7- Receção: 03.09.2022

8- Aprovação: 06.09.2022

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Para citar este artigo

Referência do documento impresso

ELISABETE PINTO DA COSTA, «GALTUNG, Johan - Peace by peaceful means. Peace and conflict, development, and civilization. Londres: Sage Publications, 1996. ISBN 0803975104.»Configurações, 30 | -1, 149-152.

Referência eletrónica

ELISABETE PINTO DA COSTA, «GALTUNG, Johan - Peace by peaceful means. Peace and conflict, development, and civilization. Londres: Sage Publications, 1996. ISBN 0803975104.»Configurações [Online], 30 | 2022, posto online no dia 02 janeiro 2023, consultado o 09 novembro 2024. URL: http://journals.openedition.org/configuracoes/16513; DOI: https://doi.org/10.4000/configuracoes.16513

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