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Um geógrafo viaja pelo mundo

Un géographe parcourt le monde
A geographer travels the world
Confins
Référence(s) :

Michel Foucher, Arpenter le monde, Robert Laffont, Paris, 2021, ISBN 978-2-221-21488-6

Texte intégral

1Declaração de amor à sua disciplina, este livro é a história do meio século que um dos mais conceituados geógrafos franceses passou a viajar pelo mundo, nos cinco continentes. Tanto quanto os 125 países visitados (dois terços dos Estados Membros das Nações Unidas) e o número de semanas passadas de avião e em estradas acidentadas, Michel Foucher explora os vários caminhos de uma geografia escolhida como ativa e não acadêmica, comprometida e não espectadora: pesquisador e cartógrafo, consultor e diplomata, analista e assessor, palestrante e testemunha envolvido.

2Um gosto constantemente renovado pelas correlações mapeadas e uma curiosidade constante pela realidade do campo têm sido desde os seus primórdios os “fios vermelhos” da sua abordagem, voltada para a compreensão dos riscos e das transformações do vasto mundo, dos conflitos e a busca de possíveis evoluções. E ainda, se necessário, a sugestão de cenários de saída da crise, para governos muitas vezes surpreendidos pelo retorno da história a lugares pouco conhecidos (como na Alemanha em 1989 ou na África do Sul em 1992) ou na busca de arrependimentos como no Próximo e no Oriente Médio, a partir de 1979, ou nos Balcãs Ocidentais depois de 1991.

3Pesquisas de campo e entrevistas com atores locais formam, para este grande especialista em fronteiras, a matéria-prima de sua visão da geografia: uma geografia ativa que conduz à geopolítica aplicada, distante do trabalho universitário, muitas vezes sedentário.

4Cada viagem longínqua é, antes de mais nada, uma experiência viva da geografia humana, composta por personalidades inspiradoras, testemunhas notáveis ​​ou detestáveis ​​(em zonas de crise) e sociedades livres e ativas, ou então sujeitas às ambições devoradoras de líderes ansiosos por impor a sua representação de um passado glorioso e mapas mentais destrutivos. Michel Foucher está convencido disso: muitas vezes é possível antecipar tensões se dermos às representações espaciais o lugar que elas merecem no imaginário dos povos e de seus atores públicos.

5Chegado neste ponto de uma longa carreira, chegou, portanto, o momento de prosseguir com o que os oficiais do Exército chamaram de “retour d’expérience” (codinome: “retex”), uma análise intransigente de sucessos e fracassos. Essas memórias de um geógrafo político refazem trajetórias e comparam os passados ​​estudados com o presente observado, em ruptura ou em continuidade entre um e outro. O confinamento imposto durante o ano de 2020 impôs uma parada abrupta a essas viagens incessantes. Michel Foucher, como escreve em seu avant-propos, pegou portanto “o [seu] cajado de peregrino de uma maneira diferente, na forma de peregrinatio in stabilitate, uma viagem imóvel com [seus] mapas e [sua] memória, à maneira dos monges medievais a quem Cassiodoro aconselhava a leitura de atlas e relatos de viagens, suportes da sua meditação, para discernir o invisível”.

6Para leitores brasileiros são particularmente interessantes as passagens que Michel Foucher dedica às suas experiências brasileiras, no início de sua carreira no capítulo 1, “Iniciações e aprendizagens”: “Brasil, 1968”, “Brasil e Amazônia(s) nova(s)” e “Geopolítica”, ferramenta de trabalho, importada do Brasil desde 1973”.

7A leitura do livro pode ser precedida, ou seguida, de entrevista publicada no site geopolítico Diploweb, « Entretien avec Michel Foucher », https://www.diploweb.com/​Arpenter-le-monde-Memoires-d-un-geographe-politique-Entretien-avec-Michel-Foucher.html

8Cabe notar também que ele dá a - ou melhor, as - fontes exatas de uma citação muitas vezes malfeita na forma “os Estados fazem a política de sua geografia”, enquanto o verbo “estar em” usado pelos dois autores é mais sutil:

“Porque a política de todos os poderes está em sua geografia” (« Car la politique de toutes les puissances est dans leur géographie »), Missive adressée le 19 brumaire an XIII (10 novembre 1804) par Napoléon à Frédéric-Guillaume III, roi de Prusse.

« A política de um Estado está em sua geografia » (« La politique d’un État est dans sa géographie »), Charles de Gaulle, Vers l’armée de métier, 1935.

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Pour citer cet article

Référence électronique

Confins, « Um geógrafo viaja pelo mundo »Confins [En ligne], 50 | 2021, mis en ligne le 31 mai 2021, consulté le 19 mars 2024. URL : http://journals.openedition.org/confins/36409 ; DOI : https://doi.org/10.4000/confins.36409

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