Editorial do número 50
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- Editorial du numéro 50 [fr]
Notes de la rédaction
Em 2020, o CNRS (Centre National de la Recherche Scientifique, equivalente francês do CNPq) ao renovar o apoio à revista Confins solicitou que os mandatos dos responsáveis pela revista fossem limitados a cinco anos. A comissão científica, que deu parecer favorável a esta renovação, referiu que “a governança está evoluindo de acordo com as recomendações que lhe foram feitas na avaliação anterior. Atende aos padrões de publicação científica aberta”. Para seguir essas recomendações, Sébastien Velut, professor de geografia da Université Sorbonne Nouvelle (Paris 3), ex-diretor do Institut des Hautes Études de l’Amérique Latine et du Creda, tornou-se, em 10 de abril de 2021, diretor da publicação.
Texte intégral
1No editorial do primeiro número da Confins, Hervé Théry e Neli Aparecida de Mello descreveram em poucas palavras o projeto científico da revista: promover colaborações entre geógrafos franceses e brasileiros, criar uma revista científica cujos artigos sejam rigorosamente avaliados sem qualquer exclusivo temático ou metodológico, dando acesso ao maior número de pessoas possível, postando em uma plataforma gratuita então muito recente: revues.org (hoje chamada OpenEdition).
2Cinquenta edições e quinze anos depois, parece que essa aposta foi ganha. A revista foi pioneira na escolha de uma publicação eletrônica aberta, modelo hoje amplamente adotado na América Latina e na Europa, que promove o acesso aberto aos resultados de pesquisas públicas. Confins encontrou seus autores e seu ritmo ao publicar cerca de 800 artigos científicos, uma centena de resenhas e outra centena de imagens comentadas em 49 edições, todas postadas no prazo. Acima de tudo, Confins conquistou seu público leitor, como mostra o crescimento constante do tráfego do site, que ultrapassa um milhão de visitas por ano.
3Este sucesso foi possível graças à mobilização das comunidades científicas interessadas, que encontraram em Confins, um meio de publicação e distribuição adaptado às suas necessidades, para uma disciplina, a geografia, que beneficia tanto no Brasil como na França de bases sólidas nas universidades e fica aberta às abordagens inovadoras na área. A capacidade da revista de publicar diferentes formatos e de deixar espaço para geógrafos de diferentes gerações, sem nunca abandonar as demandas científicas, também são importantes. Em uma geografia que se tornou muito teórica aqui e ali, Confins continuou a publicar um sólido trabalho empírico, que encontra leitores ávidos por saber como anda o mundo. Também publicou artigos de forte conteúdo teórico e disponibilizou, às vezes em tradução, artigos que marcaram a história da disciplina, incluindo, neste número, um dos artigos fundadores do método coremático publicado por Roger Brunet em 1986. A revista também pratica o multilinguismo flexível, que evita duas das armadilhas da uniformidade linguística: de um lado, a fragmentação do conhecimento em arquipélagos linguísticos isolados, de outro, a padronização de uma língua supostamente comum.
4Os temas e lugares cobertos pelos artigos publicados mostram uma sólida ancoragem disciplinar na geografia (figura 1).
5Grande parte dos textos é voltada para assuntos brasileiros, mesmo que não sejam exclusivos como mostra a figura 2. No próprio Brasil, a Amazônia e o Estado de São Paulo foram objeto de grande número de artigos mas apenas dois Estados foram “esquecidos” até agora: Acre e Piauí (no caso no Piauí, a primeira publicação sobre o estado segue nesta edição 50). Fora do Brasil, os artigos se concentram principalmente na França e na América Latina, incluindo Guianas, Colômbia, Argentina e Chile. Essa abertura terá que ser continuada. Ainda que as geografias do Brasil e da França sejam de interesse sempre renovado, a revista tem todo o interesse em capitalizar essas conquistas para se abrir a outros territórios e ampliar o círculo de seus autores e leitores.
6O sucesso da aposta de Confins foi possível graças ao empenho incansável dos fundadores da revista, aos quais se juntaram na equipa editorial Raimundo Nonato Junior, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), em Natal, e Marcelo Negrão, da Universidade de Angers, o que garantiu a qualidade e regularidade da publicação.
7Depois de 15 anos, este número 50 apenas deveria anunciar mudanças modestas na organização da revista. A morte de Neli Aparecida de Mello-Théry, em abril passado, além de mergulhar em profunda tristeza quem trabalhava com a revista, tornou mudanças essenciais para dar continuidade à sua aventura de Confins. Pareceu-nos que isso exigia ampliar e consolidar o grupo de pesquisadores que participam do bom andamento da revista, tornando o projeto mais coletivo e mais sólido ou, como dizemos hoje, resiliente.
8Capucine Boidin, antropóloga e diretora do Instituto de Altos Estudos da América Latina, assim como Claudia Damasceno, historiadora e diretora do Centro de Pesquisas sobre o Brasil Colonial e Contemporâneo, concordaram em fazer parte do comitê estratégico. Helen Gurgel, geógrafa da Universidade de Brasilia (UnB), integraram a equipe de coordenação editorial. Agradecemos a todas os três por sua disponibilidade e compromisso em apoiar a revista.
9Além disso, a revista constituiu um comitê editorial formado pelos membros mais comprometidos do comitê de leitura. Este comitê será chamado a opinar coletivamente sobre a evolução da revista e contribuirá para a sua vida científica, suscitando propostas de artigos, dossiês, relatórios e textos curtos. O comitê de leitura e o comitê júnior também se ampliam, em particular para incluir membros dos países latino-americanos que falam espanhol, para que o Brasil não seja uma ilha, nem nos temas tratados na revista, nem nos intercâmbios científicos. É talvez neste momento em que as instituições de integração latino-americanas estão em profunda crise que é importante manter os vinculos entre as equipes de pesquisa que cruzam as fronteiras.
10No plano científico, a revista mantém sua diretriz: a abertura disciplinar e temática e a promoção de intercâmbios e projetos entre Brasil e França, com a ambição de dar mais destaque às relações entre a Europa e a América Latina. Nestes tempos de confinamento, fechamento de fronteiras e autoritarismo político, e até de rejeição do saber, manter esses espaços de encontro parece-nos absolutamente essencial.
Apresentação número 50
11Os artigos desta edição 50 podem ser agrupados em três temas. A primeira mostra a coexistência de tradição e modernidade em dois casos: “Boieiras do Ver-o-Peso: tradição, cultura e valores não econômicos da culinária regional na mais importante feira da Amazônia brasileira”, de Fabrício Khoury Rebello , Paola Corrêa dos Santos e Marcos Antônio Souza dos Santos; e “A nova geografia da agricultura brasileira e os desafios logísticos”, de Junior Ruiz Garcia e José Eustáquio Ribeiro Vieira Filho.
12O segundo grupo reúne artigos de reflexão sobre noções fundamentais de geografia, “Reflexões sobre os limites e escalas do planejamento e da gestão urbana brasileira”, de Fernanda Moscarelli e Geisa Bugs;“O papel dos burocratas de nível da rua na implementação das políticas intersetoriais: a articulação dos programas sociais e o acesso à água no semiárido brasileiro”, de Patrícia Mesquita, Carolina Milhorance e Louise Cavalcante; e “Terminologia da geografia cultural: estudo preliminar”, de Raquel Moraes de Brum e Patrícia Chittoni Ramos Reuillard.
13O terceiro grupo ajuda-nos a compreender melhor as relações entre o Brasil e o mundo, “Gran Amazonía no século XXI: infraestruturas e desafios da integração em múltiplas escalas”, de Thais Virga e Wanderley Messias da Costa; “China, Brasil e Piauí: nova regionalização do sudoeste piauiense face às dinâmicas da geopolítica contemporânea (2008-2019)”, de Raimundo Jucier Sousa de Assis; e “Circulação, desenvolvimento económico e ordenamento do território: elementos teóricos para a análise de pesquisas sobre a Rota da Integração Latino-americana”, de Ana Paula Camilo Pereira, Mateus Boldrine Abrita e Rafael Oliveira Fonseca.
14Em seguida, Confins homenageia Neli de Mello-Théry, cofundadora e co-diretora de revista, falecida em 6 de abril de 2021: "Um farol chamado Neli", por Alessandro Soares da Silva; “Neli Aparecida de Mello-Théry e seu legado científico: Amazônia e políticas territoriais”, por Wagner Costa Ribeiro; “Imagens de duas carreiras”, de Hervé Théry e “Quatro homenagens à Neli de Mello-Théry”, que reúne as homenagens que lhe foram prestadas pela Embaixada da França no Brasil, os/as alunos/as cujos mestrados e teses ela orientou (ou ainda orientava), pelos alunos do Each-USP, onde ela lecionou e do Geopo, o laboratório de geografia política da Universidade de São Paulo.
15O artigo de grande formato na seção “Síntese”, intitulado “Um conto de duas cidades: uma geo-história comparada de São Paulo e Lyon, 500.000 habitantes em 1920”, de Bernard Gauthiez, Beatriz Piccolotto Siqueira Bueno, Fernanda Padovesi Fonseca, Leca de Biaggi, Iris Kantor, Eliane Kuvasney, Jaime Tadeu Oliva, Olivier Chareire, Eduardo Dutenkefer, Letícia Falasqui Tachinardi Rocha e Luciano Zoboli se encontra no lugar certo na Confins, “revista franco-brasileira da geografia”, pois relata uma pesquisa duplamente franco-brasileira pelos seus autores, franceses e brasileiros e pelas cidades objeto da pesquisa, Lyon e São Paulo.
16O dossiê “Conflitos e desigualdades territoriais na sociedade contemporânea”, apresentado por seu coordenador, Flamarion Dutra Alves, é amplamente aberto tematicamente e geograficamente por abranger os territórios de países africanos, Croácia e Bósnia-Herzegovina, Muzambinho e Alfenas (Minas Gerais), os assentamentos rurais do Rio Grande do Sul, Caetité (Bahia) e Caicó (Rio Grande do Norte).
17Este número 50 da revista continua com um registro de pesquisa de François Moriconi-Ebrard: “Cantão, a segunda maior aglomeração urbana do mundo: um laboratório para a humanidade de amanhã?” e uma tradução de “La carte-modèle et les chorèmes”, de Roger Brunet, por Mateus de Almeida Prado Sampaio.
18A rubrica “imagens comentadas”, é consagrada aos “Territórios do Antigo Regime” e uma análise do recente ataque em Solhan, no Burkina Faso, que mostra que o mapeamento do terrorismo pode tornar-se preditivo. As resenhas são de “Um geógrafo viaja pelo mundo”, do livro Un géographe parcourt le monde, de Michel Foucher; “Geógrafos franceses e a Segunda Guerra Mundial”, de Un géographe parcourt le monde, de Michel Foucher; de Géographes français en Seconde Guerre mondiale, editado por Nicolas Ginsburger, Marie-Claire Robic e Jean-Louis Tissier; Maritimidade nos trópicos, de Eustógio Wanderley Correia Dantas; La Ville interlacs, literatura, história, pintura, editado por Maria da Conceição Coelho Ferreira, Philippe Meunier e Ralf Zschachlitz e finalmente de Réinventer le tourisme, de Rémy Knafou.
19Boa leitura a todos/as
Table des illustrations
Titre | Figura 1 : Nuvem de palavras-chave para os primeiros 49 exemplares de Confins. |
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URL | http://journals.openedition.org/confins/docannexe/image/38168/img-1.jpg |
Fichier | image/jpeg, 113k |
Titre | Figura 2: Os locais mencionados na Confins |
URL | http://journals.openedition.org/confins/docannexe/image/38168/img-2.jpg |
Fichier | image/jpeg, 1,8M |
Pour citer cet article
Référence électronique
Sébastien Velut, « Editorial do número 50 », Confins [En ligne], 50 | 2021, mis en ligne le 05 juillet 2021, consulté le 19 mars 2024. URL : http://journals.openedition.org/confins/38168 ; DOI : https://doi.org/10.4000/confins.38168
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