1A produção do coco (cocos nucifera) tem crescido exponencialmente nos últimos 20 anos no Brasil. A sua demanda inclui possibilidades para a agricultura familiar, na escala local, e se amplia em diferentes níveis de complexidade tecnológica e padrões de exigências de alcances socioespaciais globais (Cuenca, 2007).

2No município de Petrolândia, a produção do coco é realizada majoritariamente em reassentamentos públicos irrigados, construídos para compensar os danos do estabelecimento da Usina Hidroelétrica Luiz Gonzaga, inaugurada em 1987. Uma medida pensada na década de 1940 com o objetivo de atrair indústrias para região e alavancar o crescimento econômico do Nordeste (Andrade, 1984; 2011). Tal ação provocou a expulsão de milhares de agricultores de suas terras, com repercussões até os dias atuais (Sá, 2000).

3O objetivo desta contribuição é discutir os entraves e as potencialidades da produção do coco em reassentamentos irrigados públicos, destinados à promoção do desenvolvimento regional. Dessa forma, pretende-se compreender os processos de produção do coco no município de Petrolândia e sua posição em escala global neste contexto; discutir as vulnerabilidades enfrentadas em âmbito local para o aperfeiçoamento da produção e superação dos entraves para o crescimento da pequena produção de base familiar; utilizar a metodologia do Sustainable Livilehood Approach como técnica para avaliar o acesso aos recursos naturais e os capitais fundamentais para o crescimento econômico de pequenos produtores. A metodologia do Sustainable Livelihood Approach considera o contexto de vulnerabilidade local e o acesso à determinados capitais (físico, natural, financeiro, social e humano) como uma forma de análise das possibilidades de crescimento econômico familiar.

4O recorte empírico compreende os perímetros irrigados públicos de Apolônio Sales, Icó-Mandantes e Barreiras Bloco 2, reassentamentos criados pela Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf). Tais reassentamentos foram construídos para alocar antigos produtores rurais que tiveram suas terras inundadas para construção da Barragem de Itaparica.

5As terras foram dotadas de sistema de irrigação, estações de bombeamento, centro administrativo coordenado pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba (Codevasf) e agrovilas com acesso à água e energia elétrica. Esses reassentamentos se transformaram em áreas de ampla produção de coco, entre outras frutas. Contudo, registra-se atualmente um grande número de reassentados com alta vulnerabilidade, poucas condições de produzir e permanecer no reassentamento. Alguns reassentados tiveram que deixar suas terras, comercializando-as com investidores interessados nos benefícios da gestão pública (Scott, 2009).

6Nesse contexto, constata-se o elevado potencial de crescimento econômico local, com atração de empresas de grande porte, ao passo da deficiente inserção do pequeno produtor nos reais benefícios do circuito de produção da água de coco, com base em processos de inovação e participação em associações e cooperativas.

7Este trabalho integrou o Projeto Innovate, uma parceria entre universidades brasileiras e alemães que estudou o uso e ocupação do solo na região de Itaparica (PE). Os resultados dessa pesquisa são frutos de contribuições advindas desta colaboração bilateral.

1. Sistema produtivo do coco e derivados

8O coco é produzido em, aproximadamente, 90 países localizados nos trópicos. O Brasil, no último decênio, entrou no grupo dos maiores produtores do mundo, atualmente ocupando a quarta colocação, atrás da Indonésia, Filipinas e Índia, seguido do Sri Lanka (Tabela 1). Os países asiáticos são os maiores produtores de coco do mundo. Entre os dez, somente o Brasil e o México não fazem parte da Ásia, estão, respectivamente, na quarta e sétima colocação. Os cinco maiores representam, cerca de 80% da produção mundial. A Indonésia contribui com quase 1/3 desta fatia. Ao Brasil cabe uma contribuição de cerca de 4,7% (Tabela 1) (Fao, 2015).

Tabela 1 - Área colhida e produção de coco dos cinco maiores produtores do mundo em 2014

Países	Área colhida (milhão de hectare)	Produção (milhão de tonelada)
Indonésia	3.087.770	19.102.130
Filipinas	3.502.011	14.696.280
Índia	2.140.000	11.078.873
Brasil	250.554	2.919.110
Sri Lanka	394.836	2.181.000
Total	9.375.171	49.977.393
Mundo	12.038.381	61.440.691

Fonte: FAO, 2016.

9A Ásia é o maior exportador de coco e também o maior importador. O seu mercado sozinho consome 66% de todas as importações. A Europa figura em segundo no contexto da importação de coco com mais de 34.000 toneladas por ano, registrando um aumento de 17% de 2000 a 2009. Os países latino-americanos estão em segundo lugar no fornecimento mundial com uma taxa de 12% do total das exportações. O continente africano exporta metade do que os latino-americanos, tendo a Europa como seu principal destino. Costa do Marfim responde por 95% do que a África envia (Gerbaud, 2011).

10A produção de coco no Brasil sempre esteve abaixo da produção dos países asiáticos (Bondar, 1939); ainda na década de 1990, a produção nacional não excedia 20 milhões de toneladas, enquanto a Indonésia produzia 3.864 milhões e as Filipinas 980 milhões. No entanto, nos anos 2000, o país aumentou a produção; atualmente, é o quarto maior em escala global, produzindo cerca de 2.919.110 milhões toneladas (Costa, 1999).

11A maior parte da produção asiática é destinada para os países europeus e da América do Norte. Normalmente, o coco é comprado localmente no país produtor, passa pelo processo de beneficiamento, embalagem para suportar um longo período de transporte, após é comercializado por uma empresa estrangeira como é o caso da Morgenland, K Fresh, Pearl Royal, Kulau, GoCoco, Voelkel, Dr. Goerg, Tropicai, Vitacoco, Dr. Antônio Martins, entre outras, para então seguirem para diversas redes de supermercados na Europa e na América do Norte.

12Quando se trata dos derivados do coco, como, por exemplo, o óleo, o leite, o xarope, o açúcar, a farinha, entre outros, o processo produtivo se reestrutura geograficamente. Nesse caso, os importadores realizam o processo de beneficiamento próximo a sua sede; dessa forma, muitos países não produtores do coco se tornaram importantes produtores de derivados, como é o caso da Alemanha, Inglaterra, Irlanda entre outros países europeus, que não produzem o coco, mas possuem uma produção de óleo de coco maior que os próprios produtores da fruta.

13Esse cenário beneficia os importadores, os quais compram a matéria prima por um valor muito baixo, realizam o beneficiamento no seu próprio país, onde localiza-se o seu mercado consumidor principal, reduzindo maiores custos na comercialização com varejistas e retalhistas de outras regiões. Nesse processo, um elevado nível científico e tecnológico é investido, o que possibilita a grande variedade dos produtos derivados do coco como na indústria alimentícia encontra-se cremes, açúcar, sucos, doces, queijo, carvão, temperos, etc. Na indústria de cosméticos comercializam-se produtos até mesmo para pelos de animais.

14O produto está dividido em dois segmentos. De um lado, encontra-se o ramo do coco seco, nele fazem parte as indústrias produzindo os derivados. Do outro lado, o ramo do coco in natura ou coco verde, onde é comercializado como uma bebida (Cuenca, 2007), como leite de coco, tanto para cozinha, como para consumo direto, também são produzidos água de coco com diversos aromas.

15De acordo com Gerbaud (2011), o comércio de coco é voltado especialmente para produtos que passam por um processo de industrialização. Este representa apenas 0,6% da produção mundial no comércio internacional no mercado fresco. Além da Indonésia, os principais países produtores não são os principais países exportadores.

16As exportações de coco aumentaram gradualmente nas últimas décadas, alcançando 360.000 toneladas em 2008 contra 222.000 toneladas em 2000, representando um aumento em 62%. Este crescimento pode ser devido a um aumento no consumo de habitante, desenvolvimento demográfico e a globalização do comércio (Gerbaud, 2011). A tendência é aumentar em função da busca por novos derivados do coco, para corresponder a demanda crescente por produtos saudáveis e veganos. Na Europa, já existe um nicho de mercado consolidado especializado neste seguimento que atende ao público com objetivos ideológicos e outros por questões de saúde.

17A produção de coco no Brasil é de, aproximadamente, 3 milhões de toneladas por ano, tanto para o consumo de coco seco como para o coco fresco. Estes números estão em plena expansão, em função da posição que ocupa no comércio mundial (Martins; Jesus Júnior, 2011).

18Geralmente, a água de coco é comercializada para as indústrias e consumidores quando o coco ainda é jovem, ou seja, coco verde (Cuenca, 2007). Nos supermercados, o produto pode ser encontrado também nas embalagens da tetra pak, em garrafas PET de 300ml até 2 litros. Em países não produtores do coco, não é comum encontrar o coco in natura, mas sim a água de coco em embalagens tetra pak, em latas de alumínio ou em garrafas PET.

19A comercialização do coco no Brasil alcança diversos preços. No Sudeste e nos estados não produtores os valores são acima da região Nordeste, onde encontram-se as principais áreas produtoras do país, como pode-se verificar na tabela 2. Por exemplo, em São Paulo no Parque Ibirapuera o valor alcança R$ 12,00 o litro ou R$ 3,00 por um copo de 200ml, em Recife, na praia de Boa Viagem o preço é de R$ 4,00 do coco in natura, entre 300 e 400ml.

Tabela 2. Preço de coco verde comercializado em Real nas Ceasas de estados brasileiros

Capitais	Janeiro	Fevereiro	Junho	Julho	Novembro	Dezembro
Recife	0,83	0,74	0,59	0,56	0,71	0,79
João Pessoa	0,39	0,43	0,46	0,41	0,44	0,47
São Paulo	1,00	0,99	0,94	0,98	0,94	0,97
Rio de Janeiro	0,83	0,83	1,06	1,08	1,11	1,10
Curitiba	1,44	1,39	1,39	1,34	1,49	1,46
Porto Alegre	1,78	1,77	1,82	1,84	2,05	2,03
Palmas	2,00	2,00	3,14	2,19	2,00	2,00

Fonte: Adaptado de Martins e Jesus Júnior (2011).

20 O Brasil mesmo sendo um grande produtor de coco é também um importador do produto. A partir de 2002 até 2016 houve um incremento de 19% nas exportações desta commodity. Em 2006 as exportações dirigiram-se para a Holanda, Canadá, Itália e Alemanha. Posteriormente (2005 – 2009) países como Egito, Argentina, Turquia, Portugal, Estados Unidos e Paraguai entraram no circuito, sendo estes os maiores importadores do coco nacional, tanto na categoria de coco fresco ou seco, com ou sem casca (MARTINS; JESUS JÚNIOR, 2011). Grande parte desta produção é realizada em propriedades de agricultores de base familiar, como em Petrolândia (PE). Contudo, uma série de entraves não possibilitam o aumento da produção e nem a participação efetiva destes produtores no mercado, proporcionando dependência, estagnação econômica, perda da terra e saída do campo.

2. Sustainable Livelihood Approach: uma metodologia para estudos sociais no campo

21O sustainable livelihoods approach (SLA) é uma ferramenta que auxilia o pesquisador nos estudos acerca da subsistência sustentável de um determinado indivíduo ou família. Em geral, os trabalhos que são desenvolvidos com esta metodologia são aplicados para analisar contextos de baixa condição socioeconômica (Chambers; Conway, 1991).

22O SLA dispõe de um quadro de análise (figura 1), que é utilizado para melhor apreensão do estudo. A sua função é contribuir com a visualização das diferentes formas de subsistência existente em um determinado ambiente. Na maioria dos casos, sua aplicação é no sentido de discutir os problemas relacionados ao espaço rural, mas também pode ser usado para áreas urbanas (Ellis, 2000). A subsistência é o resultado da soma de um conjunto de diferentes fatores, que se relacionam entre si e tem um caráter de constante variação, seja nos âmbitos econômicos, naturais entre outros (Dfid, 1999).

23O quadro de análise apresenta os principais fatores que afetam a subsistência das pessoas e seus relacionamentos. Além de enfatizar as múltiplas interações entre os vários fatores que afetam a subsistência sustentável. Seu foco é centrado na pessoa ou comunidade. Ele é inicidado a partir de um contexto de vulnerabilidade (Ellis, 2000), o qual enquadra o ambiente externo que a pessoa vive. O contexto de vulnerabilidade é estabelecido pelos fatores que afetam a subsistência do produtor. Entende-se como tendências, choques e sazonalidades. Por exemplo, no campo populacional temos as tendências de crescimento, de redução, de deslocamento, de concentração etc. Existem as tendências dos recursos, os quais seu acesso envolve, muitas vezes, conflitos. Também são observadas as tendências de governança, econômicas e tecnológicas. Os choques que envolvem a saúde humana, conflitos de diversas naturezas, as questões naturais e econômicas. Na sazonalidade pode-se elencar os preços das mercadorias, a produção de culturas variadas, as oportunidades de emprego e questões de saúde, como surtos locais ou pandemias (Dfid, 1999).

24Os fatores supracitados são importantes no enquadramento do contexto de vulnerabilidade porque eles têm um impacto direto sobre a vida das pessoas e acesso a seus ativos. Os choques podem destruir diretamente os ativos por conta da ação da natureza, como tempestades, enchentes, secas e também pela ação humana como conflitos, guerras etc. As tendências, geralmente, são mais previsíveis, dessa forma são mais fáceis para estabelecimento de estratégias de sobrevivência. As mudanças sazonais nos preços, oportunidades de empregos, disponibilidade de alimentos formam o conjunto de maior dificuldade para as populações mais pobres. Essas circunstâncias afetam diretamente os indivíduos no acesso aos seus capitais e deles dependem seu cultivo e crescimento econômico (Chambers; Conway, 1991).

25A compreensão desses fatores individualmente, assim como sua ação combinada formam o cenário do contexto de vulnerabilidade, os quais podem impactar drasticamente a vida de camponeses levando-os a abandonarem suas casas, inclusive estagnando seu desenvolvimento econômico (Dfid, 1999). Essa perspectiva oferece possibilidade de pensar novas atividades e avaliar a contribuição dos seus modos de vida para a sustentabilidade por meio de estratégias para superação do contexto de vulnerabilidade (Pereira; Souza; Schneider, 2010).

26 Os Ativos da Subsistência (Figura 1) são apresentados logo após o contexto de vulnerabilidade. Eles são identificados por meio de um pentágono. Cada ângulo corresponde a um capital e o contexto de vulnerabilidade tem papel fundamental para acessá-los. Os capitais são divididos em natural, físico, humano, social e financeiro (Dfid, 1999).

27O capital humano representa as habilidades, conhecimento técnico e instrumentos. O capital social significa as redes de contatos, relação patrão e cliente, parceiros com interesses compartilhados, formalização de grupos. O capital natural representa os recursos naturais necessários para a subsistência. O capital físico, que compreende a infraestrutura básica e os bens que o produtor necessita. O capital financeiro se relaciona com todos os recursos financeiros que os produtores têm acesso com fins de alcançar a subsistência (Dfid, 1999).

28 Na continuidade encontramos a seção com “As Influências de Estruturas e Processos” (figura 1) (Transforming structure and processes), normalmente regidas pelas esferas políticas e também por questões culturais, as quais também interagem com o contexto de vulnerabilidade. Diante deste primeiro momento, serão identificadas as “Estratégias de Sobrevivência” (Livelihoods Strategies) que surgem a partir dos resultados da interação dos processos anteriores, as quais têm o objetivo de encontrar “Resultados das Condições de Vida” (Livelihood Outcomes), que podem ser o crescimento da renda, do bem-estar, a redução da vulnerabilidade, etc. (Serrat, 2008).

29O quadro de análise do SLA é uma ferramenta importante, que fornece um auxílio na identificação de problemas relacionados a subsistência sustentável. Além de favorecer a organização de um esboço para relacionar cada problema e sua provável origem. Também pode servir como instrumento que visualiza com clareza as influências e processos determinantes para subsistência do agricultor e enfatizar as diversas interações entre os fatores que afetam a qualidade de vida ou a subsistência de pequenos produtores (Dfid, 1999).

3. A produção de coco no município de Petrolândia

30O município de Petrolândia (Mapa 1), localizado na Região de Desenvolvimento (RD) do Sertão de Itaparica, no semiárido pernambucano, possui três perímetros irrigados: Apolônio Sales, Icó-Mandantes e Barreiras Bloco 2 (Gunkel; Sobral, 2007). Essas áreas, construídas como reassentamentos, devido aos danos da instalação da Usina Hidroelétrica (UHE) Luiz Gonzaga, tornaram-se oásis agrícolas numa região castigada por secas periódicas (Carvalho, 2009). Na década de 1990, os produtores locais, acompanhando o processo de restruturação produtiva no país, iniciaram a produção do coco.

31 A proximidade do rio São Francisco e do reservatório de Itaparica possibilitou a irrigação, contribuindo com a mudança da antiga produção (banana, melancia, feijão, entre outros) (Dantas, 1972). Dessa forma, Petrolândia se tornou o segundo maior produtor de coco do Estado de Pernambuco, liderando sua RD, atrás de Petrolina (Tabela 3) (Bloch, 1996).

	Área plantada (ha)	Quantidade anual (frutos)
Pernambuco	14.237	129.822
Petrolina	1.800	72.000.000
Petrolândia	1.100	44.000.000

Elaborado por Guilherme Araújo.

32O crescimento da produção atraiu novos serviços e indústrias para região. Dessa forma, tornou-se uma das principais fontes de empregos (Martins; Jesus Junior, 2011). Atualmente, o município conta com duas grandes agroindústrias que envasam a água de coco em recipientes de mil litros.

33Os pequenos agricultores vendem seus cocos às agroindústrias, que beneficiam o produto para ser comercializado com distribuidoras em outros Estados, inclusive com empresas internacionais, alcançando, em especial, supermercados especializados do Brasil, Estados Unidos e Europa. O município cresce com perspectivas de instalação de novas agroindústrias e possível formação de um complexo agroindustrial.

34O comércio do produto normalmente é no formato in natura ou verde. Os consumidores locais não se interessam pelo sabor da água de coco vendida em embalagens tetra pak, que precisa passar pela pasteurização para aumentar sua validade. O consumo da mercadoria in natura corresponde ao gosto tradicionalmente aceito pelo paladar do sertanejo. Dessa forma, o produto pasteurizado tem uma maior rejeição localmente. Contudo, continua sendo amplamente produzido para o mercado externo.

4. O contexto de vulnerabilidade na produção do coco no município de Petrolândia

35Os produtores reassentados de Petrolândia vivenciam há décadas entraves para o seu crescimento econômico, alguns ainda não alcançaram a emancipação financeira, dependendo de uma verba de manutenção temporária (VMT) outorgadas pós reassentamento pelo Estado. Com esta situação, diversos agricultores precisaram vender seus lotes ou reduzir sua produção para manter uma renda específica. O contexto de vulnerabilidade desses produtores encontra-se, inicialmente, no acesso ao capital natural pela ausência de infraestrutura adequada e políticas públicas eficientes. Os aspectos ambientais associados aos políticos são decisivos na estruturação deste cenário. Neste sentido, destacam-se as dificuldades no acesso a água para irrigação; o solo erodido; a salinização dos solos; a falta de assistência técnica e extensão rural; e a constância das pragas nos cultivos. Estes pontos citados são responsáveis pela formação de um cenário de adversidades, impactando diretamente a manutenção do sistema produtivo do coco, bem como a sobrevivência do produtor.

36A escassez da água se origina pela localização geográfica, um ambiente de clima semiárido com eventos de secas periódicas e que se agrava em função do fenômeno das mudanças climáticas. Este problema torna-se ainda maior devido a infraestrutura obsoleta que, instalada em meados da década 1990, não comporta as necessidades atuais dos reassentamentos no que concerne a irrigação.

37Os produtores enfrentam outros desafios ambientais, por exemplo, a salinização e a saturação do solo, normalmente oriundas das más práticas agrícolas, como, paradoxalmente o uso excessivo de água nos cultivos. Quando a água é liberada nos horários de racionamento, os produtores utilizam em excesso, haja vista que não pagam pelo consumo.

38Esses fatores são agravados com uma assistência técnica restrita. O setor responsável pela assistência técnica e extensão rural passou por diversos entraves. Inicialmente ficou sem funcionar devido ao encerramento do contrato com a Codevasf, posteriormente iniciou uma política de atendimento com menor frequência, redução de gastos e de recursos humanos.

39Em 2015, devido ao El Niño e o baixo nível de água nos reservatórios, diversos agricultores tiveram que reduzir o preço do coco. Como resultado, muitos produtores não receberam o suficiente para se manter. Alguns reassentados venderam suas propriedades e se mudaram, enquanto outros permaneceram trabalhando para outros produtores que, normalmente, desempenham o papel de atravessador e já possuem capital financeiro reserva para essas ocasiões de crise.

40Há casos de reassentados que venderam toda a sua produção por menos que o valor de custo. Um determinado agricultor afirma ter vendido 10.000 cocos por R$1000,00, tendo um prejuízo de R$200,00.

41A Figura 2 apresenta dois cenários de produção de água de coco em Petrolândia, onde pode-se observar uma relação entre o contexto de vulnerabilidade associada ao acesso aos capitais do SLA e os resultados na produção. O primeiro é o cenário ideal, onde o produtor tem solo fértil, 400 litros de água para irrigação do lote e controle de pragas. Nessas condições, há possibilidades de cada coco produzir aproximadamente 500 ml de água de coco, o ideal para permanecer ativo no mercado. E conseguir, com seus lucros, solucionar seus próprios problemas de infraestrutura e buscar novos investimentos para aperfeiçoar sua produção. Nesse caso, o contexto de vulnerabilidade é controlado e o acesso aos capitais ocorre de forma a possibilitar os produtores crescerem economicamente.

42Como exemplo, pode-se citar casos de agricultores em Apolônio Sales, que devido ao investimento em tecnologia puderam ampliar sua produção. Alguns investiram no sistema de microaspersão para compensar as perdas do racionamento de água e manter o padrão de 400 litros de irrigação do lote. Outros produtores investiram em análise de solo para conhecer as potencialidades do seu terreno e produzir novas culturas. Há produtores que iniciaram no ramo da avicultura, montando grandes equipamentos onde cultivam aves para comercialização e produção de ovos.

43No cenário 2, é expresso alguns problemas em relação ao cenário 1. Foram utilizados exemplos encontrados nos Perímetros Irrigados de Icó-Mandantes e Barreiras Bloco 2, respectivamente a maior e a menor área produtiva em Petrolândia. No caso 2, só é fornecido 200 litros de água para irrigação do lote e a terra fértil disponível para o coco é menor. Com a menor quantidade de água para irrigação, o coco é prejudicado diretamente na quantidade de ml da água de coco, que alcança no máximo 350ml (Figura 2).

44Dessa forma, o valor do produto cai e o acesso ao mercado torna-se limitado. O produtor não alcança valores suficientes para sua subsistência. Quando estão em situações mais favoráveis, os produtores conseguem cobrir os custos da produção, porém não tem excedente para novos investimentos, nem para aperfeiçoamento da infraestrutura do espaço. Os recursos que entram, são destinados exclusivamente para o reabastecimento dos insumos. Sendo assim, não investem na solução de problemas como a salinização do solo e manutenção do sistema de irrigação, com vistas a ampliar o fornecimento de água para melhoria da produção do coco.

45O agravamento desta situação condiciona o agricultor a vender o seu lote, como a única alternativa de sobrevivência. Alguns se mudam para o centro urbano, outras para cidades maiores. Os menos favorecidos permanecem no perímetro e vão trabalhar para produtores abastados. O contexto de vulnerabilidade e o acesso limitado aos capitais nesse caso são determinantes para uma produção ineficiente e estagnação econômica dos agricultores.

5. Análise do acesso aos capitais do SLA no município de Petrolândia

46O contexto de vulnerabilidade é um elemento central que revela o conhecimento da realidade dos produtores e contribui com a análise dos acessos aos capitais do SLA, quando os produtores estão expostos a riscos, situações de insegurança, má gestão pública, entre outros (Ammering, 2014).

47Como se trata de uma abordagem ampla, para esta pesquisa delimitou-se os capitais dos Sustainable Livelihood Approach nos principais elementos (Quadro 1) para manutenção do sistema produtivo nos reassentamentos irrigados de Petrolândia, definido a seguir:

Quadro 1. Elementos correspondentes aos capitais do SLA

CAPITAIS DO SUSTAINABLE LIVELIHOOD APPROACH
FÍSICO	NATURAL	HUMANO	SOCIAL	FINANCEIRO
Lote	Solo	Conhecimento do serviço	Associação	Acesso a crédito bancário
Sistema de irrigação	Água	Conhecimento técnico do serviço	Cooperativa	Acesso a crédito no comércio
Trator	Água de boa qualidade	Habilidade no manejo do serviço	Sindicato	Poupança
Fertilizantes	Nutrientes do solo	Saúde adequada para o serviço	Outro tipo de organização	Pensão
Pesticida	Ar puro	Nível superior ou técnico	Apoio de ONG para organização	Apoio estatal ou privado para mais créditos
Transporte		Filhos com nível superior ou técnico	Apoio estatal para organização	Investimento em ações ou títulos

Elaborado por Guilherme Araújo.

48Estes elementos foram escolhidos por se tratar dos principais fatores abordados pelos produtores como definitivos para manutenção do sistema produtivo do coco.

49Em geral, os reassentados de Icó-Mandantes são os que mais tem problemas em acessar os capitais citados. Este projeto de irrigação é o que apresenta maior desigualdade social e o que menos oferece oportunidade de crescimento para os pequenos agricultores como pode-se verificar na figura 3. O que se pode entender, a partir da observação do acesso aos capitais:

50Capital físico

51Sistema de irrigação: Acesso muito crítico. A maioria dos produtores utiliza os equipamentos instalados na década de 1990. Não possuem condições de adquirir o sistema por microaspersão e nem automatizar a produção.

52Trator: Acesso razoável. O reduzido número dos tratores da prefeitura provoca maior concorrência nos particulares. O veículo municipal custa R$60,00/dia, já o valor do particular oscila em torno de R$120,00/dia.

53Transporte: Acesso muito crítico. A maioria não possui equipamento para distribuir as mercadorias.

54Capital natural

55Solo: Acesso muito crítico. A salinização e o encharcamento são os principais problemas. Diversos lotes são descartados devido a infertilidade.

56Água: Acesso muito crítico. Com um sistema de irrigação obsoleto, a captação torna-se ineficiente. A falta de manutenção das estações de bombeamento e das tubulações pioram o processo.

57Capital humano

58Conhecimento técnico do serviço: Acesso crítico. a maioria dos produtores estão dependentes das lojas que comercializam o insumo. Elas disponibilizam um profissional que oferece orientações neste ramo.

59Saúde adequada para o serviço: Acesso muito crítico. Muitos produtores com idade avançada ou doentes ainda no serviço.

60Nível superior ou técnico: Acesso muito crítico. A maioria dos produtores tem baixa escolaridade.

61Capital social

62Associação: Acesso muito crítico. A ausência deste elemento não permite maior integração entre os produtores para discutir seus problemas comuns e buscarem soluções.

63Cooperativa: Acesso muito crítico. A ausência deste elemento não permite que os produtores se fortaleçam contra as adversidades do mercado.

64Capital financeiro

65Poupança: Acesso muito crítico. A maioria não possui. Esta reserva financeira serviria para aquisição de novos equipamentos e solução de problemas urgentes.

66Apoio estatal ou privado para mais créditos: Acesso muito crítico. Os créditos seriam de suma importância para o aperfeiçoamento da produção.

67Em Icó-Mandantes identificam-se problemas de acesso em todos os capitais. Nos capitais humano, social e financeiro a situação de acesso aos elementos varia entre crítica a muito crítica. Somente 5 (cinco) elementos os produtores podem acessar normalmente. Do conjunto de 29 (vinte e nove) elementos, os produtores encontram situação crítica ou muito crítica de acesso em 16 (dezesseis) (Figura 3).

68Neste reassentamento há implicações para os produtores acessarem metade dos elementos que compõem o capital humano, social e financeiro. Desta forma, os reassentados de Icó-Mandantes podem ser classificados num perfil de produtor com extrema dificuldade para produzir para sua subsistência e também se manter competitivo no mercado (Figura 3).

69No Reassentamento de Icó-Mandantes a desigualdade social é maior que em Apolônio Sales e em Barreiras Bloco 2. O tamanho dos lotes diferem no mesmo perímetro. Existe um grupo de não reassentados que compraram lotes de reassentados. Os entrevistados relataram o caso de um produtor que possui 60ha, enquanto muitos não chegam a 4ha. Normalmente o produtor não reassentado tem melhor infraestrutura que muitos reassentados, uma vez que este novo agricultor tem o perfil de investidor, possui capital suficiente para instalar a tecnologia necessária para produzir.

70Esta situação provoca um cenário de extrema de dificuldade para os reassentados que produzem coco (Figura 3), visto que a quantidade produzida não é suficiente para atrair novas empresas do ramo. Dessa forma, mantém-se dependentes dos atravessadores que determinam os preços e controlam a distribuição dos cocos para as agroindústrias em outros Estados.

71O acesso aos capitais do SLA, apresentados na Figura 1 (capital físico, capital natural, capital humano, capital social e capital financeiro) estão intrinsecamente relacionados com o contexto de vulnerabilidade de cada produtor. A restrição do acesso a um dos capitais pode agravar o problema com outro, fortalecendo os entraves para manutenção da subsistência sustentável.

72Como ponto crucial no contexto de vulnerabilidade dos reassentados de Petrolândia, destacam-se as dificuldades no acesso à água para irrigação, a questão do solo com erosão e salinização, a falta de assistência técnica, extensão rural e a constância das pragas nos cultivos. Estes pontos são responsáveis pela formação de um cenário de adversidades vivenciado pelos reassentados, impactando diretamente a manutenção do seu sistema produtivo, bem como a sobrevivência do produtor.

73O reassentamento de Icó-Mandantes possui a maior área no conjunto dos perímetros irrigados de Petrolândia, com aproximadamente 22.914 ha, enquanto Barreiras Bloco 2 possui 8.356 ha e Apolônio Sales 3.506 ha. Contudo, sua produção média corresponde ao mesmo volume que o reassentamento de Barreiras Bloco 2, com cerca de 7.080 cocos por safra, já Apolônio Sales alcança uma quantidade muito superior, produzindo 21.240 cocos por safra (Tabela 4). A inserção da tecnologia na irrigação é a principal razão para este destaque. Com o regular fornecimento de água aos coqueiros, a planta consegue produzir mais frutas com maior quantidade de água.

Tabela 4. Média anual de produção de coco por produtor em cada reassentamento

Produtor por reassentamento	Hectare	Plantas	Cocos/ano	Cocos/Planta ano	Cocos/safra
Icó-Mandantes	2	354	30.000	84.7	7.080
Apolônio Sales	6	1.062	90.000	84.7	21.240
Barreira Bloco 2	2	354	30.000	84.7	7.080

Elaborado por Guilherme Araújo.

74Dessa forma, observa-se o potencial de Icó-Mandantes e sua baixa utilização, o que é justificado, não pelo pouco uso da terra, mas sim por conta do contexto de vulnerabilidade, que é de maior complexidade. As implicações no acesso aos capitais do SLA visualizadas na Figura 3 são fundamentais para relegar o maior perímetro irrigado de Petrolândia na periferia do sistema local de produção de coco e sua água.

75Como consequência deste processo, o reassentamento atrai inúmeros atravessadores, que comercializam o produto para fora do município, enquanto as agroindústrias instaladas em Petrolândia comercializam, prioritariamente, com os agricultores de Apolônio Sales e Barreiras Bloco 2. Este fator coloca Icó-Mandantes numa posição desprivilegiada frente aos demais perímetros irrigados.

76A questão do contexto de vulnerabilidade não se restringe ao aspecto da produção, mas impacta aos níveis da renda de cada produtor. O que pode ser observado na relação da área com a o valor do coco. O reassentado de Icó-Mandantes e Barreiras Bloco 2 apresentam uma área/hectare semelhante; contudo, diferem na renda conforme um comparativo entre a Tabela 3 e a Tabela 5, devido a duas razões principais: em Barreiras Bloco 2, os produtores vendem o coco por um preço maior que em Icó-Mandantes, devido a qualidade do seu produto. Outra razão é que, no primeiro, há possibilidades do produtor comercializar com a Paraipaba Agroindustrial e, o segundo, só há opção de negociação com os atravessadores.

Tabela 5. Média de valor da comercialização do coco in natura e do litro do coco por reassentamento

Produtor por reassentamento	Cocos/ safra	Valor unitário coco in natura (R$)	Valor total coco in natura (R$)	Valor do litro do coco (R$)	Valor total do coco em litro (R$)
Icó-Mandantes	7.080	0,30	2.124,00	--	--
Apolônio Sales	21.240	0,40	8.496,00	1,00	7.080,00
Barreira Bloco 2	7.080	0,50	3.540,00	1,00	2.360,00

Elaborado por Guilherme Araújo.

77No Brasil, 85% da produção do coco é realizada por pequenos produtores, o que significa que este grupo é quem mantém o mercado abastecido, inclusive fornecendo a parcela destinada ao mercado internacional (Martins; Jesus Junior, 2011). A maior parte dos produtores de Petrolândia está localizada em Icó-Mandantes. Eles contribuem intensamente com a manutenção do comércio da água de coco, em diferentes escalas, enfrentando todas as implicações para sua produção, sejam elas de natureza política ou ambiental.

78Em função da complexidade do contexto de vulnerabilidade de Icó-Mandantes, somado às implicações no acesso aos capitais do SLA, seus agricultores não conseguem alcançar uma autonomia econômica nem se posicionar de forma independente e efetiva no mercado, permanecendo dependentes dos valores ditados pelos atravessadores durante a negociação da mercadoria.

79Os reassentados de Apolônio Sales estão em melhores condições quando comparados aos demais perímetros irrigados (Figura 3). Os problemas climáticos, que ocasionam secas periódicas, a salinização do solo e eventos de pragas são implicações comuns no contexto de vulnerabilidade deste reassentamento. Contudo, as suas condições para produção agrícola permeiam o padrão da normalidade, principalmente, em função do investimento tecnológico nos lotes. Há algumas deficiências, porém não o suficiente para comprometer o cultivo, de modo geral.

80O agricultor deste perímetro irrigado consegue comercializar em uma ampla rede, envolvendo agroindústria e atravessadores e destinar uma parte do seu lucro para aperfeiçoamento do seu lote, fazendo as manutenções necessárias e investindo em tecnologias que ajudem a lidar com as implicações que o contexto de vulnerabilidade impõe.

81O produtor local tem sua mercadoria disponível para mercado, seja para embalar em caixas tetra pak ou para ser consumida in natura. Neste reassentamento, não há registros de produtores que não conseguiram comercializar.

82Os pontos críticos identificados estão distribuídos uniformemente entre os capitais, mas não são decisivos para prejudicar a produção. De todos os destacados, três são os mais importantes, a saber:

83Capital natural

84• Solo: Acesso crítico. A salinização é o maior problema. Se não for desenvolvido um tratamento específico, torna-se um caso irreversível.

85Capital humano

86• Conhecimento técnico do serviço: Acesso crítico. Os produtores não disponibilizam conhecimento técnico sobre a produção agrícola. A empresa responsável pela assistência técnica e extensão rural enfrenta, atualmente, problemas financeiros; dessa forma, não pode oferecer a quantidade de técnicos correspondente à demanda do perímetro. O apoio técnico é pago, fornecido pelas lojas que comercializam insumos;

87Capital social

88• Cooperativa: Acesso muito crítico. A ausência de cooperativa não fortalece os produtores. Dessa forma, precisam individualmente lutar contra os desafios do mercado.

89Em Barreiras Bloco 2, o produtor tem um perfil semelhante ao de Icó-Mandantes. Sua população é composta por um número pequeno de produtores com alto poder aquisitivo e grupo expressivo de produtores com renda muito baixa. O tamanho dos lotes varia entre 1,5ha até 6ha. No entanto, neste reassentamento, a renda familiar é maior que em Icó-Mandantes. Em Barreiras Bloco 2, os produtores que recebem abaixo de R$780,00, é muito menor que em Icó-Mandantes, e o grupo entre R$1.560,00 e R$2.340,00 está na mesma proporção que aqueles que recebem R$780,00. Também há um grupo na faixa superior a R$2.340,00, quando em Icó-Mandantes esse contingente não aparece (Gráfico 1).

90De acordo com a análise de acesso aos capitais do SLA (Figura 3), entende-se que apesar da semelhança com Icó-Mandantes, porém com menos problemas ambientais e acesso a um mercado consumidor mais amplo e diverso, como a agroindústria e os atravessadores, estes agricultores conseguem um maior valor no preço de mercado do coco, aperfeiçoando sua condição de subsistência sustentável.

91Diante deste cenário, observa-se como a conjuntura de ordem social e ambiental, envolvendo a produção do coco no reassentamento de Icó-Mandantes tem sido determinante para fortalecer processos de desigualdade social e entraves para o crescimento econômico dos seus pequenos produtores. Em outras palavras, o reassentado, em especial de Icó-Mandantes, é obrigado a se manter produzindo o coco para permanecer no circuito econômico, abastecendo o sistema produtivo e o mercado de escala internacional, enquanto, paralelamente, convive com a constante ameaça à sua subsistência.

Considerações finais

92O Município de Petrolândia vem se consolidando na rede internacional de produção de água de coco, desempenhando um papel de liderança no Estado de Pernambuco. Sua mercadoria pode ser encontrada nos supermercados mais requintados do mundo, conferindo um caráter peculiar à região.

93Este contexto representa a possibilidade de inserção do pequeno produtor numa cadeia de comercialização internacional, além dos benefícios da futura consolidação de um complexo agroindustrial de produção da água de coco. Contudo, os problemas relacionados ao acesso aos recursos naturais, associados com a falta de infraestrutura e ausência de apoio estatal fortalecem a pobreza e desigualdade social entre os agricultores, como foi constatado a partir das análises realizadas com o SLA.

94O reassentamento de Icó-Mandantes é o maior produtor de coco da microrregião, contudo, diante do seu contexto de vulnerabilidade, seus reassentados ocupam a posição mais periférica em todo o sistema. Diversas famílias perderam seus lotes, enquanto a comercialização de água de coco no mundo cresce vertiginosamente.

95Dessa forma, questiona-se o sentido da construção e da gestão dos perímetros irrigados, que fora estabelecido com foco no crescimento econômico local. Também é importante questionar o resultado do investimento na monocultura do coco para o comércio de sua água, que promoveu a inserção da economia regional numa rede internacional de comercialização de água de coco.

96A permanência neste cenário promoverá maior grau de desigualdade social entre os produtores. Com mais perdas de terras produtivas, originalmente públicas, para investidores sem relação com o contexto histórico local. Além da manutenção da dependência econômica dos reassentamentos à uma lógica internacional de comercialização de produtos primários, que beneficiam, com exclusividade, os grupos de varejistas e retalhistas que dominam o mercado global.

97A continuidade desses estudos é importante para uma compreensão mais ampla da relação existente entre o acesso à capitais e o crescimento econômico de pequenos produtores, frente a todo o cenário socioespacial. A utilização da metodologia do SLA em outras realidades também é fundamental para uma melhor observação sobre sua eficácia. Dessa forma, pode-se encontrar resultados, que aperfeiçoe a metodologia, compreendendo o papel do ambiente, da sociedade e dos recursos para o crescimento econômico em escalas variadas.