Mapas em branco e caixas pretas algorítmicas
Matthieu Noucher, Blancs des cartes et boîtes noires algorithmiques, CNRS Editions, Paris, 2023, 408 p., ISBN : 978-2-271-14654-0
Texte intégral
1Matthieu Noucher é geógrafo, pesquisador do laboratório CNRS Passages, em Bordeaux, e vice-diretor da rede de pesquisa francesa em ciências da informação geográfica (GdR MAGIS). Publicou Les petites cartes du Web (Os mapinhas da web) em 2017 com a Éditions de la rue d'Ulm e coeditou o Atlas Critique de la Guyane (Atlas crítico da Guiana Francesa), publicado em 2020 pelo CNRS. Blancs des cartes & boîtes noires algorithmiques é uma versão revisada e ampliada do volume inédito do dossiê da Habilitation à Diriger des Recherches (Livre docência) que ele defendeu em 7 de dezembro de 2022, na Universidade Bordeaux Montaigne.
2O livro está dividido em seis capítulos. Os dois primeiros são teóricos. Contradizendo o discurso tecnoentusiasta sobre o “dilúvio de dados”, eles analisam o estado da arte e mostram a relevância do mapa em branco em uma era de geodigitalização desigual do mundo.
3Em seguida, três estudos de caso exploram os espaços em branco, as lacunas e as omissões cartográficas em três sistemas metrológicos (detecção de garimpo ilegal de ouro, medição da biodiversidade e mapeamento de assentamentos informais) centrados na Amazônia, com foco na Guiana Francesa em cada caso.
4Por fim, há uma discussão sobre várias formas de resistência ao preenchimento de mapas contemporâneos. O contra-mapeamento e a fuga cartográfica são discutidos como duas lógicas alternativas de ação. Um livreto central completa o conjunto. Uma colcha de retalhos de uma dúzia de imagens, ele oferece uma jornada por uma série de “silêncios cartográficos”.
5Resumos, extratos, eventos e artigos associados a esse lançamento estão disponíveis em http://patiencesgeographiques.org/bcbna/
Resumo
6"Toda cartografia tem seus próprios espaços em branco, lacunas e omissões, sejam eles deliberados ou inconscientes. Os historiadores da cartografia destacaram os interesses políticos desses silêncios cartográficos, especialmente durante os períodos de conquista colonial. A hipótese central deste livro é que os mapas em branco, longe de serem obsoletos, ainda têm um potencial heurístico para analisar os interesses políticos das informações geográficas digitais. Agora que o Estado não tem mais o monopólio de branquear ou escurecer o mapa, como as várias partes interessadas estão mobilizando as lacunas do mapa? Que questões de (des)regulamentação informacional vêm à tona quando observamos a lógica da omissão em ação atualmente? Diante da ilusão de um “dilúvio de dados”, como podemos explorar as caixas pretas algorítmicas que mascaram a geonumerização desigual do mundo?
7A Amazônia, e mais especificamente a Guiana Francesa, é um lugar ideal para tentar responder a essas perguntas. Histórica e simbolicamente marcada por espaços em branco no mapa, essa margem territorial pode, em muitos aspectos, ser considerada também como uma margem cartográfica. As pesquisas sobre três sistemas metrológicos (para detectar garimpo ilegal de ouro, medir a biodiversidade e mapear assentamentos informais) oferecem uma ocasião de explorar sistemas das esferas institucional, científica, cidadã e indígena. Ao defender a importância da empiria para ficar o mais próximo possível dos atores (produtores e usuários), dos sistemas (códigos e dados) e dos métodos (in situ e remotos), e ao desenvolver uma abordagem multi-situada e interdisciplinar, combinando geografia, ciências da informação geográfica e estudos de ciência e tecnologia (STS), esta pesquisa, que é abundantemente ilustrada, faz parte do campo emergente de estudos críticos de dados (critical data studies).
8Com base nesses estudos de caso, o livro leva a uma reflexão transversal sobre as duas principais formas de resistência ao preenchimento dos espaços em branco nos mapas observados desde as margens do Maroni até os confins do Oyapoque : o contra-mapeamento e a fuga cartográfica. Ao fazer isso, este livro possibilita visualizar, por um lado, uma geografia da ignorância geodigital que revela conhecimentos esquecidos, mascarados ou destruídos e, por outro, uma geografia da resistência geodigital que torna visíveis alternativas às representações espaciais dominantes. Juntas, essas duas lógicas da indisciplina cartográfica possibilitam a apreensão dos espaços em branco nos mapas contemporâneos como uma oportunidade de diversificar nossas formas de ver o mundo.
Imagens
Figure 1 Le Monde selon Google
"A ausência de redes de comunicação ou de interesse comercial para a firma de Mountain View, bem como o contexto legislativo, explicam a maioria das lacunas".
Página dupla da seção central (p.238-239)
Table des illustrations
Titre | Figure 1 Le Monde selon Google |
---|---|
Légende | "A ausência de redes de comunicação ou de interesse comercial para a firma de Mountain View, bem como o contexto legislativo, explicam a maioria das lacunas". |
Crédits | Página dupla da seção central (p.238-239) |
URL | http://journals.openedition.org/confins/docannexe/image/52280/img-1.jpg |
Fichier | image/jpeg, 143k |
Titre | Figura 2 Você está aqui / O mapa ideal |
Crédits | Página dupla da seção central (p.230-231) |
URL | http://journals.openedition.org/confins/docannexe/image/52280/img-2.png |
Fichier | image/png, 1,7M |
Titre | Figura 3 Do globo à observação e distribuição / Dados do GBIF por latitude |
Crédits | Página dupla do capítulo 3 (p.196/197). |
URL | http://journals.openedition.org/confins/docannexe/image/52280/img-3.png |
Fichier | image/png, 1,8M |
Pour citer cet article
Référence électronique
Confins, « Mapas em branco e caixas pretas algorítmicas », Confins [En ligne], 59 | 2023, mis en ligne le 29 juin 2023, consulté le 08 novembre 2024. URL : http://journals.openedition.org/confins/52280 ; DOI : https://doi.org/10.4000/confins.52280
Haut de pageDroits d’auteur
Le texte seul est utilisable sous licence CC BY-NC-SA 4.0. Les autres éléments (illustrations, fichiers annexes importés) sont « Tous droits réservés », sauf mention contraire.
Haut de page