1A publicação da edição 59 de Confins coincide - mais ou menos dois dias - com a publicação dos primeiros resultados do Censo Demográfico de 2022 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e achamos que seria útil compartilhar os resultados iniciais com nossos leitores. Por enquanto, apenas os resultados em nível estadual, a partir dos quais podemos elaborar gráficos e mapas, estão disponíveis em formato digital. Portanto, estamos apresentando aqui apenas alguns elementos preliminares: em edições posteriores, faremos análises mais aprofundadas e forneceremos mapas mais detalhados.

2Em 28 de junho, o IBGE publicou os primeiros dados do censo de 2022 “Resultados da População e dos Domicílios”. Essa publicação era muito aguardada, pois os censos brasileiros são realizados regularmente a cada dez anos desde o final do século XIX (com exceção do censo de 1990 que foi adiado para 1991). Como o último censo foi realizado em 2010, este deveria ter sido realizado em 2020, mas não só a pandemia de Covid-19 impediu sua realização nessa data (foi necessário adiá-lo para 2022), como também foi adiado ainda mais devido aos cortes de verbas no governo anterior, à falta de recenseadores e à recusa em responder às perguntas nesses tempos difíceis. Para resolver essas dificuldades, o Ministério do Planejamento e o IBGE fizeram um esforço conjunto, principalmente em locais onde a pesquisa estava atrasada, como favelas, condomínios de luxo e acampamentos ilegais de garimpeiros na terra indígena Yanomami. De acordo com uma reportagem da Rádio Nacional:

• 1 Matéria da rádio nacional (2022). Ver em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/en/node/1540306

“No caso das favelas, muitos moradores não queriam abrir a porta para as equipes do Censo porque tinham recebido notícias falsas de que teriam benefícios sociais cancelados. Outro problema era a falta de endereços nas comunidades. Em alguns condomínios de luxo, a recusa vinha de síndicos, sendo necessários trabalhos de sensibilização com porteiros e moradores” 1.

3De acordo com esse novo Censo, a população do Brasil na data de referência (meia-noite da noite de 31 de julho para 1º de agosto de 2022) era de 203.062.512, ou seja 12,3 milhões a mais do que no censo de 2010 (190.755.799). Esse aumento é relativamente pequeno, visto que a taxa média de crescimento anual da população brasileira é a menor registrada desde 1872 (data do primeiro censo moderno): 0,52%, em comparação com 1,17% entre os censos de 2000 e 2010. Isso confirma que, com a redução da mortalidade - iniciada na década de 1940 - e a queda da fecundidade - iniciada na década de 1960 - a desaceleração do crescimento demográfico começou na década de 1970 e que, de acordo com a maioria das projeções demográficas - inclusive as do IBGE - nas próximas décadas a redução da taxa de crescimento resultará em uma diminuição da população brasileira.

4O peso relativo das diferentes regiões pouco mudou nos doze anos decorridos desde o último censo: mesmo com a segunda menor taxa do país, depois do Nordeste, o Sudeste ainda responde por 41,8% da população brasileira, com 84,8 milhões de habitantes (39,9% em São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, os três Estados mais populosos).

Tabela 1 - População residente e participação relativa da população

	População residente	Participação relativa (%)
Brasil	203 062 512	100
Norte	17 349 619	8,5
Nordeste	54 644 582	26,9
Sudeste	84 847 187	41,8
Sul	29 933 315	14,7
Centro-Oeste	16 287 809	8

5Todas as regiões sofreram uma desaceleração no crescimento, mas a região Centro-Oeste cresceu o dobro da média nacional: 1,23% em vez de 0,52%. Dos municípios com mais de 100.000 habitantes, Senador Canedo (em Goiás) teve o maior crescimento, com uma taxa anual de 5,23%. Na época dos censos de 2010 e 2000, a região com a maior taxa de crescimento era a Norte, mas não é mais o caso: o seu crescimento caiu de 2,09% em 2010 para 0,75% em 2022. O Nordeste teve uma taxa de crescimento anual de 0,24%, o Sudeste de 0,45% e o Sud de 0,74%.

6A edição 59 de Confins é tem um caráter particular em relação às edições anteriores, pois contém poucos artigos varia, mas inclui dois dossiês: isso se deve a um problema técnico que nos impediu de publicar o dossiê sobre os censos brasileiros que deveria ter sido incluída na edição 58 e que, portanto, foi transferida para esta edição: parece que há algum tipo de maldição afetando a publicação desses censos ou as análises dedicadas a eles...

7Os artigos varia são de fato variados em termos de assunto e localização: o primeiro, “A territorialização dos raizeiros do Mercado Municipal de Araguaína/TO”, de João Carlos Santiago Nery e Marivaldo Cavalcante da Silva, trata do Tocantins, na Amazônia. O segundo, “A avaliação da lei complementar n° 233/2005 em relação a exploração sustentável das florestas em Mato Grosso: sua eficácia nas políticas ambientais no Brasil”, de Alessandra Maria Filippin dos Passos Santos, Aumeri Carlos Bampi e Wylmor Constantino Tives Dalfovo, trata de um estado do Centro-Oeste, e o terceiro, de Ismael Jesus Klein e Márcia dos Santos Ramos Berreta, enfoca uma característica específica de uma região do Rio Grande do Sul, no extremo sul do país: “A valorização das "taipas de pedras" como estratégia para a conservação da paisagem dos Campos de Altitude em São Francisco de Paula/ RS”.

8Em sua introdução, os coordenadores do dossiê “Os recenseamentos no Brasil: história, abordagens, desafios” apresentam os artigos que resultaram de um ateliê de um dia realizado em janeiro de 2020 no CRBC (Centre de Recherche sur le Brésil colonial et contemporain de l'EHESS) com vistas à publicação conjunta nas duas revistas Confins e Brésil(s), que ocorre, portanto, em junho de 2023: os mesmos artigos estão publicados em português na Confins e em francês na edição 23 de Brésil(s), que pode ser acessada no seguinte endereço: https://journals.openedition.org/​bresils/​14115.

9Eles tratam de “População urbana no Brasil: estatísticas superestimadas, geografia ocultada. As questões políticas e fundiárias das categorias territoriais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística”, de Cathy Chatel (único artigo em francês), “Números como monumentos: a atuação de Teixeira de Freitas no censo de 1920 em Minas Gerais e a celebração do centenário da independência”, de Maria do Carmo Andrade Gomes, “"Cor ou Raça: Indígena? " Contextos e Recepções da inclusão de uma categoria no Censo Demográfico 1991”, de Ricardo Ventura Santos, Bruno Nogueira Guimarães e Alessandra Traldi Simoni, “Potencialidades e fragilidades dos Censos Demográficos de 2010 e 2022 para o estudo do trabalho doméstico remunerado no Brasil”, de Luana Junqueira Dias Myrrha, Ana Julieta Teodoro Cleaver, Maria de Fátima Lage Guerra e Wilson Fusco, “"O Censo é a Infraestrutura Informacional do País": O Censo de 2020 e as Controvérsias Tecnopolíticas de sua Implementação”, de MoisésKopper, “Os regimes de visibilidade do censo de favelas de 1950 no Rio de Janeiro”, de Samuel Silva Rodrigues de Oliveira, e, finalmente, “Pirâmide da solidão? (Notas muito preliminares)”, de Elza Berquó.

10O dossiê “Alimentação e Políticas Alimentares nas Cidades: introdução ao debate” também é apresentado por seus organizadores, Catia Grisa, Éric Sabourin, Valdemar Wesz Junior e Geneviève Cortes. Ele inclui os artigos “Dinâmicas de abastecimento nos sistemas alimentares em Belo Horizonte”, de Melissa Luciana de Araújo, Milene Cristine Pessoa, Olivia Souza Honório, Maycon Noremberg Schubert, Sergio Schneider e Catia Grisa, “A oferta de alimentos nas cidades frente ao desafio da difusão dos supermercados. Olhares cruzados sobre Rio de Janeiro e Brasília”, de Emília de Medeiros Silva Jomalinis, Juscelino Eudâmidas Bezerra e Ève Anne Bühler, “Características do acesso aos alimentos em Erechim, Rio Grande do Sul, Brasil”, por Zenicléia Angelita Deggerone, Fabiane Wiederkehr e Cibele Lúcia Bombardelli, “Conveniencialização da comida e do comer”, por Maycon Noremberg Schubert, “Conectando cidade e campo: o papel dos mercados digitais na construção de sistemas alimentares sustentáveis no Rio de Janeiro”, de Júlia Izecksohn e Ève Anne Bühler, “Decifrar os significados atribuídos à recuperação de alimentos. Um estudo de caso em Montpellier, França”, por Andreia Tecchio, Geneviève Cortes e Elodie Valette, " “Uma lupa sobre a política agroalimentar do município de Anchieta sob a perspectiva da inovação social”, por Julie Rossato Fagundes, Silvio Antonio Ferraz Cario e Alexandre Marino Costa, e “A agricultura urbana em São Paulo e Belo Horizonte: Uma proposta de abordagem das relações urbano-rural no contexto metropolitano”, de Angel Proust e Maura Neves Coutinho.

11Em seguida, Sébastien Velut e Raimundo Nonato Junior apresentam o seu “Registro de pesquisa”, “Um oceano de possibilidades: a geografia e as novos usos do mar e da linha costeira pelas energias renováveis”, duas “Imagens comentadas”, uma com paginas do Atlas Histórique de la Terre , outra sobre “O Projeto Joshua, cartografia para evangelizar o planeta”, duas contribuições para a rubrica “Solstícios e Equinócios” imagens sobre o “Solsticio de junho”. Seguem um texto de André Nagy e Ilma Sidney, “Solsticio de inverno no Relógio Solar da USP” e “Resenhas” sobre Promessas da Patagônia, de Paz Núñez-Regueiro, e Mapas em branco e caixas pretas algorítmicas, de Matthieu Noucher.

12Boa leitura a todas e todos.