1A informação sempre foi a fonte que nutre aquilo a que historiadores e sociólogos chamam “instinto de conhecimento” dos seres humanos. Esse instinto é responsável pela nossa proteção, pelo estabelecimento de relações e pela análise de juízos de caráter do próximo (Kovach & Rosenstiel, 2004). Barreto (1994) aponta a informação como agente mediador na produção de conhecimento. O autor ainda complementa:
A distribuição ou transferência de informação, contudo, está condicionada por uma limitação contextual e cognitiva. Para intervir na vida social, gerando conhecimento que promove o desenvolvimento, a informação necessita ser transmitida e aceita como tal (Barreto, 1994, p. 4).
2No entanto, os espaços sociais onde a informação deve ser difundida não são homogéneos como o processamento técnico feito pela mídia. As pessoas diferenciam-se de acordo com o grau de instrução, nível de renda, religião, etnia, acesso à informação, confiança no canal de transferência, codificação e decodificação do código linguístico comum, etc. (Barreto, 1994). Partindo desse pressuposto, os meios de comunicação social necessitam adotar estratégias de distribuição que viabilizem a aceitação do produto final da informação. Barreto defende que por muito tempo a mídia foi um dos principais motores de democratização da informação, um canal de adaptação para distribuição e alcance de diversos públicos. Entretanto, o meio que mais tem se mostrado democrático em relação ao alcance da informação é a Internet. Com maior acesso e alcance, é necessário que o indivíduo tenha condições de elaborar este insumo, transformando-o em conhecimento (Barreto, 1994).
3Na área da saúde, a informação é ainda mais essencial. Cavaca, Silva, Emerich, Santos-Neto e Oliveira (2018) destacam o papel dos meios de comunicação social e das novas tecnologias da informação e comunicação como insumo de saúde para a comunidade na qual estão inseridos. São esses meios que, a partir da visibilidade midiática de um tema, atuam como dispositivos legitimadores de prioridades, ou seja, apontam que aspectos devem ser debatidos no âmbito das questões de saúde e como.
4Perante uma oferta ilimitada de conteúdos, como o indivíduo seleciona o que vai consumir é uma das áreas de estudo da comunicação em saúde. De acordo com Oliveira, Martins e Toth (2020), até metade do século XX, os meios de comunicação de massa tradicionais eram as principais fontes de informação sobre saúde em uma sociedade. Para os autores, embora a crise de confiança nas instituições jornalísticas e científicas se tenha iniciado antes da popularização da Internet, foi com a modificação do modelo de consumo, provocado pelo desenvolvimento das tecnologias da informação e comunicação, voltado para a personalização das informações oferecidas, que fez aumentar a procura de conteúdos informativos tanto online quanto nas redes sociais digitais. Nesse sentido, Oliveira, Martins e Toth (2020) ainda acrescentam que o jornalismo e a ciência, já em fase de desconfiança perante a sociedade, passam a disputar o lugar legítimo de fala com atores variados e muitas vezes sem o conhecimento necessário.
Para além da incapacidade da ciência de cumprir as promessas da modernidade de resolver as mazelas sociais, as mensagens dissonantes da própria ciência e as disputas epistemológicas dentro do campo científico percebido pelo público impulsionam sentimentos de desconfiança sobre as informações relacionadas à ciência. Junto a esses fatores, o declínio da confiança sobre a ciência tem sido observado ao longo das décadas sobretudo em função de uma perceção sobre conflitos de interesse e politização da ciência (Oliveira, Martins, & Toth, 2020, p. 96).
- 1 Digital News Report 2019, disponível em https://bityli.com/oMKpI.
- 2 Públicos e Consumos de Média: o consumo de notícias e as plataformas digitais em Portugal e em mais (...)
5Sem dúvida o desenvolvimento dos meios de comunicação social e, especialmente, a popularização da Internet foram um marco na quantidade de informações disponíveis sobre saúde. Embora tenha sofrido um declínio de 7%, em quatro anos, como uma das principais fontes de informação em Portugal, a Internet, de acordo com o Digital News Report 2019 do Reuters Institute1, ainda é a ferramenta mais utilizada por 79% dos portugueses. O estudo, que representa uma parcela da população portuguesa que utiliza a Internet de forma assídua, também refere que 57% das pessoas obtêm informações através das redes sociais digitais, das quais o Facebook é a que mais se destaca. O Facebook já aparecia como uma das principais fontes de informação online no estudo Públicos e Consumos de Média: o consumo de notícias e as plataformas digitais em Portugal e em mais dez países2, realizado em 2015 pela Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC), instituição portuguesa reguladora dos meios midiáticos. No relatório da ERC, 69% das pessoas apontaram “ler notícias de imprensa no Facebook”.
6As informações mediadas pela Internet oferecem a oportunidade adicional de disseminação tanto para a comunicação massiva quanto para a comunicação interpessoal. Enquanto a televisão, a rádio, os jornais e as revistas disponibilizam artigos com certa variedade de opiniões e novidades da ciência, a Internet permite o acúmulo e o armazenamento infinito de informações e possibilita que as pessoas tenham acesso a esse conteúdo sem sair de casa. Além disso, as redes sociais digitais ainda fornecem ajuda com a interpretação e a avaliação das informações sobre saúde. (Brashers, Goldsmith, & Hsieh, 2002).
7Além do empoderamento e do controle sobre aspectos da própria saúde, a Internet serve como uma poderosa ferramenta no auxílio social e psicológico das pessoas. Moretti et al.(2012) destacam que a interação online, além de possibilitar a troca de experiências, facilita o debate entre especialistas e enfermos, ou seja, pode ser considerada um meio estratégico para manejar diversas condições clínicas. “Além de benefícios como melhora no convívio social e no aprendizado, redução da desesperança, melhor enfrentamento das situações de vida, maiores conhecimentos sobre a doença, alívio emocional e melhoria clínica” (Moretti et al. , 2012, p. 651).
- 3 Tradução dos autores para “Information management includes communicative and cognitive activities s (...)
8Apesar dos benefícios é preciso considerar o modo como as pessoas gerenciam a qualidade das informações recebidas pelas mídia. Brashers, Goldsmith e Hsieh (2002) ainda complementam esta informação escrevendo que, para além do perfil do indivíduo que busca a informação, tem de se considerar o que essa pessoa faz do conteúdo recebido. O “gerenciamento da informação inclui atividades comunicativas e cognitivas, como procurar, evitar e interpretar esses estímulos ambientais”3 (Brashers et al., 2002, p. 259). É preciso ter mais atenção aos conteúdos disponibilizados na Internet, justamente pela facilidade de acesso às informações e de produção e disseminação destas. Um dos objetivos de nossa pesquisa é justamente entender o processo de obtenção de informações sobre saúde, especialmente sobre vacinação infantil, das famílias que responderam aos questionários, assim como a administração dessas informações nas suas tomadas de decisão.
9Na rádio, na televisão e na imprensa, o conteúdo produzido sobre saúde, na maioria das vezes, conta com uma rede de fontes especializadas, com o trabalho de profissionais da comunicação que têm compromisso com aspectos éticos e morais além da própria credibilidade. Já na Internet, todos podem publicar. Garbin, Guilam e Pereira Neto (2012) salientam alguns aspectos negativos das informações difundidas na Internet. Para eles a variedade a que os indivíduos estão expostos pode gerar confusão, ansiedade e ainda mais incerteza. Muitas vezes, as informações em saúde veiculadas na internet são incompletas, incorretas, excessivas, fraudulentas e oriundas de fontes não credíveis (Brashers et al., 2002; Garbin et al., 2012). Nesse sentido, buscamos verificar o papel da literacia midiática e em saúde na gestão das informações obtidas pelos participantes do nosso estudo.
- 4 Disponível em https://bityli.com/LlArN.
10A Organização Mundial da Saúde (OMS)4 define saúde como um completo estado de bem-estar físico, mental e social. Podemos considerar esta a definição mais simples do termo, porém inúmeras são as críticas a esse conceito. Lunardi (1999) aponta que um estado de completo bem-estar é algo inalcançável, para além de remeter a algo que deve ser buscado constantemente e que não leva em consideração a individualidade de cada ser humano e coloca todos na busca de um lugar comum. O senso comum aceita a percepção de saúde como ausência de doença, como um estado de completo bem-estar. Quando se aborda a literacia em saúde é a definição da OMS a mais utilizada, pois, como veremos a seguir, a literacia é um “conjunto de conhecimentos, atitudes e habilidades necessárias para que os sujeitos, no exercício da cidadania, sejam donos de uma autonomia que lhes permita cumprir com seus deveres e exercer os seus direitos” (Vargas, Pinto, & Marinho, 2019, p. 84). A literacia tem por base três competências-chave elementares, que são a leitura, a escrita e o cálculo; reflete a nossa capacidade de utilizar essa matérias de forma crítica e reflexiva para a cidadania e para a participação na esfera pública (Lopes, 2013). Como competências, Perrenoud (2002) define:
(…) a aptidão para enfrentar uma família de situações análogas, mobilizando de uma forma correta, rápida, pertinente e criativa, múltiplos recursos cognitivos: saberes, capacidades, micro competências, informações, atitudes, esquemas de percepção, avaliação e raciocínio (Perrenoud, 2002, p. 19).
11Na presente pesquisa, buscamos levantar uma questão há muito debatida sobre a influência do nível de escolaridade no desenvolvimento da literacia do individuo. Lopes (2013) salienta que o baixo nível de literacia das populações tem sido associado aos baixos níveis de escolaridade. No entanto, a investigadora afirma que pesquisas empíricas demonstram que, “por um lado, a escolaridade parece ser a principal determinante em questões de literacia, por outro, a elevada escolarização não corresponde de forma linear e absoluta a um nível superior de competências” (Lopes, 2013, p. 82). Uma das precursoras do estudo sobre literacia em Portugal, Ana Benavente, e seus colegas publicaram em 1996 um estudo intuitulado A Literacia em Portugal: Resultados de uma Pesquisa Extensiva e Monográfica, no qual afirmam que não se pode traçar uma correspondência absoluta entre “níveis de instrução formal” e “níveis de literacia” porque o conceito da última se traduz em um conhecimento processual que é dinâmico e funcional, por ser centrado no uso de competências.
12No campo da saúde, a literacia se baseia nessa perspectiva de apropriação de saberes ao apontar para a necessidade de desenvolver nas pessoas uma série de habilidades para que elas acessem, entendam, critiquem e utilizem as informações sobre saúde (Vargas, Pinto, & Marinho, 2019). Para Nutbeam (2000), a literacia em saúde é uma das consequências da promoção da saúde, que se refere a uma série de ações públicas direcionadas para melhorar o controle das pessoas sobre todas as variáveis que influenciam na área. A promoção da saúde não inclui apenas comportamentos individuais, mas políticas públicas, condições de vida e trabalho que interferem indiretamente no comportamento das pessoas relacionado com a saúde.
13O conceito de literacia midiática, de acordo com Potter (2010), não possui um consenso, pois é compreendida de forma diferente por membros tanto da comunidade acadêmica, quanto da sociedade. Em seu trabalho de revisão da literatura sobre o termo literacia midiática, o autor conclui que todos os conceitos se apoiam em três ideias: a literacia midiática é um continuum, porque se desenvolve em patamares; é multidimensional, porque inclui todos os tipos de informação; e o objetivo da literacia midiática é a obtenção de mais controle sobre as interpretações do mundo que nos chegam através dos meios de comunicação.
- 5 Disponível em https://bityli.com/hU4Wf.
14De acordo com um documento do Parlamento Europeu, criado por um grupo de peritos em literacia midiática e intitulado Comunicação da Comissão ao Parlamento Europeu, ao Conselho, ao Comité Económico e Social Europeu e ao Comité das Regiões: Uma Abordagem Europeia da Literacia Mediática no Ambiente Digital5, em 2007, a literacia midiática pode ser definida como “a capacidade de aceder aos media, de compreender e avaliar de modo crítico os diferentes aspectos dos media e dos seus conteúdos e de criar comunicações em diversos contextos”. Essa capacidade, ou essas competências, começam a ser desenvolvidas nos primeiros anos de vida e, uma vez adquiridas, são usadas ao longo da vida de forma quase automática (Potter 2010, citado por Lopes, 2013).
15Essas competências, obtidas ainda no início da vida, são responsáveis pelo nosso primeiro nível de literacia midiática, que irá se desenvolver ao longo da vida conforme nosso interesse. Lopes (2013) explica que o nível mínimo de literacia midiática permite o reconhecimento de referentes e símbolos, além do reconhecimento de padrões e modelos e a associação de significados. Nesse sentido, as notícias falsas surgem como uma armadilha na avaliação dos padrões e modelos a que estamos habituados, conforme veremos no próximo ponto.
16Até às duas últimas décadas do século XX, o jornalismo e os meios de comunicação tradicionais, como a rádio, a televisão e a imprensa escrita, eram os detentores do monopólio da fala com relação à divulgação de informações. A relação com o público consumidor era linear, e a participação de alguém de fora das redações era restrita às fontes utilizadas pelos profissionais da comunicação. Além das características do relacionamento entre consumidor e produtor, o material produzido pelos meios de comunicação possuía (e possui) aspectos estruturais, normativos e estéticos que caracterizam o estilo jornalístico. Desde o surgimento do jornalismo, o gênero notícia é a razão de ser da instituição. De acordo com Traquina (2013), o gênero notícia pode ser caracterizado por três fatores: linguagem, forma e conteúdo. Linguagem porque o jornalismo é uma prática discursiva, com sua própria maneira de falar/escrever. Segundo Traquina (2013), uma das características desta linguagem é a sua qualidade de ser compreensível por todas as classes, com traços como frases curtas, parágrafos curtos, palavras simples, sintaxe direta e económica, concisão e possibilidade de uso de metáforas para melhor compreensão do texto. No que se refere ao conteúdo das produções jornalísticas, o autor argumenta que diversos estudos chegaram à conclusão de que as notícias apresentam um “padrão” geral estável e previsível, que se deve à existência dos critérios de noticiabilidade, ou seja, à presença de valores-notícia compartilhados pelos membros da tribo jornalística. Embora seja importante referir estas características do trabalho jornalístico e como elas agiram na mente dos consumidores para o reconhecimento do que é uma notícia, na presente pesquisa compreendemos que traços tão específicos seriam difíceis de ser observados ou explicados pelas pessoas que responderam ao questionário; por esse motivo, utilizámos a percepção da estrutura geral de uma notícia, da organização textual e da estrutura composicional (explicadas no parágrafo a seguir) como forma de analisar a influência da literacia em saúde e da literacia midiática.
17Nesse sentido, além de ser definida por um conteúdo específico, a notícia também se caracteriza pela sua organização textual ou estrutura composicional, que nos permite identificar e distinguir a notícia de outros textos, jornalísticos ou não. Van Dijk (1990) propõe categorias de superestruturas que identificam uma notícia; são elas: resumo (headline e lead), evento principal, background, consequências e comentários. Às categorias de Van Dijk, Silva e Silva (2012) acrescentam que a notícia-gênero possui um relato do tipo narrativo e um estilo verbal objetivo e simples, que ainda conta com recursos contextualizadores. Koch e Travaglia (2003) explicam que esses recursos são aqueles que “ancoram” o texto em uma situação comunicativa determinada. Eles podem ser contextualizadores propriamente ditos, como data, local, assinatura, elementos gráficos, ou contextualizadores perspectivos ou prospectivos, como título, autor, etc.
18Essas características das notícias, na linguística, são consideradas frames evocados “para que a mente humana a compreenda (a notícia) como tal” (Barros, 2017, p. 630). Esse conjunto de frames é responsável pela compreensão dos gêneros de uma forma geral, e aqui especificamente do gênero notícia, e é considerado pelos linguistas um Modelo Cognitivo Idealizado (MCI). Logo, o MCI de uma notícia é formado por frames específicos de linguagem, formato, conteúdo e propósito. Do nosso ponto de vista, as notícias falsas também podem evocar os mesmos frames que uma produção jornalística ética e verdadeira.
19Fante, Silva e Graça (2019) referem que as fake news, por exemplo, se apropriam de elementos do jornalismo, desde a estrutura narrativa até aos valores-notícia, para ganhar um status de acontecimento real. Para os autores, a produção das notícias falsas parte do jornalismo, tem como base o interesse comum em determinado tema, além do lugar (interesse geográfico e cultural) e da proximidade, mas se diferencia do jornalismo na presença de uma reafirmação/aproximação ideológica. Para Roxo e Melo (2018), um dos aspectos que impulsionaram o crescimento e a aceitação das fake news perante o público se deve justamente à apropriação da autoridade jornalística – capacidade dos jornalistas de utilizar códigos de conhecimento coletivo – por outras áreas, ou seja, à “influência cultural do texto e de técnicas do jornalismo em outras produções – e que, em virtude dessa emergência, juntamente com mudanças tecnológicas que reduzem a assimetria entre jornalistas e sua audiência” (Roxo & Melo, 2018, p.4). Para além desses aspectos de apropriação do gênero notícia, as fake news também se aproveitam da crise de credibilidade enfrentada tanto pelo jornalismo como pela ciência. Conforme Roxo e Melo:
As notícias falsas divulgadas em redes sociais emulam o texto jornalístico para, com isso, também se apropriar do código social que legitima o trabalho jornalístico. No entanto, essa estratégia só tem condições de emergir (e ser mais ou menos bem-sucedida) porque há um enfraquecimento do pacto de credibilidade e, em consequência, da própria definição de notícia e de empresa jornalística (Roxo & Melo, 2018, p. 14).
20Valero e Oliveira (2018) apontam que a credibilidade do jornalismo está em dúvida porque as informações inventadas ou distorcidas surgiram dentro da própria instituição. Os autores citam, como exemplo, as peças falsas publicadas em 1835 no jornal New York Sun, nos Estados Unidos, sobre uma possível existência de vida na Lua. Esse tipo de notícia, que apela ao sensacionalismo e transmite informações não verificadas, foi muito difundido no século XIX em um momento de crescimento dos jornais ajudado pelo avanço das tecnologias. Era o momento de vender mais e atrair anunciantes. Lazer et al. (2018) definem notícia falsa como uma informação fabricada que imita o conteúdo da mídia na forma, mas não no processo organizacional ou na intenção. No presente estudo, entendemos as fake news como artigos intencionalmente falsos, que se apropriam da forma das notícias reais e da sua legitimidade através do uso de bots de notícias, que imitam a onipresença do jornalismo, com a produção subsidiada por questões financeiras e ideológicas, e que têm o público como coconstrutor de suas narrativas (Allcott & Gentzkow, 2017; Tandoc, Lim & Ling, 2017).
- 6 Notícia publicada no website Observador.pt no dia 7 de fevereiro de 2019. Texto completo disponível (...)
21Realizou-se um questionário investigativo, entre os meses de abril e maio de 2019, com o objetivo de avaliar se há relação entre o nível de escolaridade e os elementos mais considerados nas informações sobre saúde pelas famílias com filhos em idade de vacinação contra o sarampo (12 meses aos cinco anos). Nossa hipótese de relação entre escolaridade e literacia midiática e em saúde tem como base os estudos de Lopes (2013), nos quais a escolaridade parece ser a principal determinante em questões de literacia. O surto de sarampo acometeu, em 2018, a região norte de Portugal, infectando 112 pessoas, e outra situação semelhante aconteceu no final de 2018, dessa vez na região de Lisboa, afetando 37 indivíduos. Além de Portugal, outros 46 países na Europa também enfrentaram surtos de sarampo em 2018, com 82 mil pessoas infectadas e 72 mortes no continente6.
- 7 A aplicação dos questionários em escolas públicas teve a autorização da Direção-Geral da Educação, (...)
22A amostra foi formada por famílias da cidade da Covilhã, interior de Portugal, que têm os filhos matriculados no pré-escolar de instituições públicas vinculadas ao Agrupamento de Escolas Pêro da Covilhã. O agrupamento possui seis escolas com jardim de infância e um total de 150 alunos com até cinco anos de idade – faixa etária indicada para a segunda dose da vacina contra o Sarampo, de acordo com o calendário de vacinação português. Partimos desta amostra de conveniência para posteriormente alargarmos o estudo às demais regiões. Utilizámos como método de pesquisa o questionário, por meio da aplicação de questionários junto aos 150 pais ou responsáveis7. Para a distribuição dos questionários, fomos até às escolas e contámos com o auxílio dos professores dos jardins de infância para o envio do material aos pais através dos alunos e, dos 150 questionários entregues, recebemos 89 válidos. As análises estatísticas utilizadas na presente pesquisa são de dois tipos: por um lado, análises descritivas univariáveis (frequências e percentagens de todas as variáveis) e, por outro lado, análises inferenciais bivariáveis (correlações de Pearson: r) para verificarmos se havia relação entre o nível de escolaridade dos indivíduos e a percepção dos mesmo sobre a estrutura da informação em termos de contextualizadores das superestruturas criadas por Van Dijk (1986) e complementadas por Koch e Travaglia (1990), conforme citado na secção anterior.
23O questionário é formado por 25 perguntas, sendo sete de múltipla escolha, que envolvem características sociais da amostra, como idade, nível de escolaridade, número de membros por família, assim como hábitos de consumo de informação, como assinatura de jornais e revistas, assinatura de serviço de Internet e canais de televisão, conhecimento sobre vacinas, a opinião sobre a eficácia desse método de imunização, compreensão do calendário nacional de vacinação, busca de informações sobre o tema, etc., conforme é possível observar na Tabela 1.
Tabela 1: Variáveis utilizadas no estudo
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Perguntas/Variáveis
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Gênero: ( ) Masculino ( ) Feminino ( ) S/R
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Faixa Etária: ( ) até 18 anos, ( ) 19-29 anos, ( ) 30-39 anos, ( ) 40-49 anos, ( ) mais de 50 anos, ( ) S/R
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Quantos filhos possui? ( ) 1, ( ) 2, ( ) 3, ( ) 4, ( ) mais de 4, ( ) S/R
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Sua família é composta por quantas pessoas? ( ) 2, ( ) 3, ( ) 4, ( ) 5, ( ) 6, ( ) mais de 6, ( ) S/R
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Você conhece o calendário de vacinação português? ( ) Sim, ( ) Não, ( ) S/R
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Você possui todas as vacinas que constam no calendário de vacinação português? ( ) Sim, ( ) Não,
( ) Não sabe, ( ) S/R
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Todos os membros da sua família receberam as vacinas indicadas no calendário de vacinação português?
( ) Sim, ( ) Não, ( ) Não sabe, ( ) S/R
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Quantos dos seus filhos são vacinados? ( ) Todos, ( ) Nenhum, ( ) Alguns, ( ) S/R
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Voçê é: ( ) a favor da vacinação, ( ) Contra a vacinação, ( ) Nem contra, nem a favor, ( ) S/R
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Você acredita na eficiência das vacinas? ( ) Sim, ( ) Não, ( ) S/R
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Qual seu nível de escolaridade? ( ) Até Pré-escolar, ( ) Até Ensino Básico 1, ( ) Até Ensino Básico 2,
( ) Até Ensino Secundário, ( ) Ensino Profissionalizante, ( ) Licenciatura, ( ) Mestrado, ( ) Doutoramento, ( ) S/R
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Costuma ler, ouvir e/ou assistir notícias? ( ) Sim, ( ) Não, ( ) S/R
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Em sua casa, você tem acesso à: (Pode assinalar mais de um item)
( ) Televisão (canais abertos), ( ) Televisão (canais por assinatura), ( ) Linha telefónica, ( ) Internet
( ) Assinatura de jornais, ( ) Assinatura de revistas, ( ) Aparelho de rádio, ( ) Outros, ( ) S/R
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Que meio de comunicação costuma utilizar para ter acesso às notícias? Pode assinalar mais de um item.
( ) Jornal Impresso, ( ) Revistas, ( ) Rádio, ( ) Televisão, ( ) Internet, ( ) Outros, ( ) S/R
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Que conteúdos costuma acompanhar quando tem contato com as notícias? Pode assinalar mais de um item.
( ) Saúde e Ciência, ( ) Economia, ( ) Cultura, ( ) Política, ( ) Policial, ( ) Entretenimento, ( ) Desporto,
( ) Religião e Espiritualidade, ( ) Outros, ( ) S/R
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Se costuma utilizar a Internet, você possui perfil em alguma rede social (Facebook, Twitter, Instagram, etc.)? ( ) Sim, ( ) Não, ( ) S/R
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Caso tenha respondido SIM à pergunta anterior, em quais redes sociais você possui perfil/conta? Pode assinalar mais de uma opção. ( ) Facebook, ( ) Twitter, ( ) LinkedIn, ( ) Instagram, ( ) Snapchat,
( )WhatsApp, ( ) Outro, ( ) S/R
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Se costuma utilizar a Internet para ter acesso às notícias, tem acesso de que maneira? Pode assinalar mais de uma opção.
( ) Através de websites de empresas jornalísticas
( ) Através de páginas no Facebook de empresas jornalísticas
( ) Através do Facebook, mas conforme o que surge na minha linha do tempo
( ) Através do Twitter
( ) Através do LinkedIn
( ) Através do Instagram
( ) Através do WhatsApp
( ) Através do Snapchat
( ) Através do e-mail
( ) Outras Redes Sociais Digitais
( ) Outros websites
( ) S/R
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Na sua opinião, TODA NOTÍCIA publicada ou partilhada na internet é VERDADEIRA? ( ) Sim, ( ) Não, ( ) S/R
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Na sua opinião, para uma notícia ser considerada verdadeira quais características ela deve possuir?
( ) Assinatura da pessoa que escreveu/produziu a informação
( ) Ter o nome das fontes que deram as informações para a produção do conteúdo
( ) Ter fotografia
( ) Ter vídeo
( ) Ter áudio
( ) Ter sido veiculada por mais de um meio de comunicação social
( ) Ter sido partilhada na Internet por meios de comunicação social
( ) Ter sido partilhada na Internet por pessoas que você conhece
( ) Ter sido enviada para você por pessoas que você conhece
( ) Outros
( ) Não sabe
( ) S/R
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Nas informações sobre saúde, você costuma acreditar no que lê na Internet? ( ) Sempre, ( ) Algumas vezes, ( ) Nunca, ( ) S/R
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Quando recebe ou tem contato com algum tipo de informação sobre saúde, costuma verificar se esta informação é correta? ( ) Sempre, ( ) Algumas vezes, ( ) Nunca, ( ) S/R
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Antes de vacinar seu filhos, buscou informações sobre as vacinas? ( ) Sim, ( ) Não, ( ) S/R
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Onde, ou com quem, você obteve informações sobre vacinação? Pode assinalar mais de uma opção.
( ) Centro de Saúde, ( ) Hospital, ( ) Médico de Família, ( ) Outros profissionais de saúde, ( ) Com sua família, ( ) Escola, ( ) Televisão, ( ) Rádio, ( ) Jornais, ( ) Revistas, ( ) Internet, ( ) Outros, ( ) Não sabe,
( ) S/R
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Na sua opinião, qual – ou quais – o melhor lugar para obter informações corretas sobre vacinação?
( ) Centro de Saúde, ( ) Hospital, ( ) Médico de Família, ( ) Outros profissionais de saúde, ( ) Com sua família, ( ) Escola, ( ) Televisão, ( ) Rádio, ( ) Jornais, ( ) Revistas, ( ) Internet, ( ) Outros, ( ) Não sabe,
( ) S/R
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24Dos 89 questionários que recebemos, podemos verificar que 76,4% das pessoas que responderam são do gênero feminino, têm idade entre os 30 e os 39 anos (46,1%) e têm dois filhos (44,9 %). Quanto ao nível de escolaridade, podemos observar no Gráfico 1 a maior incidência de familiares com licenciatura:
Gráfico 1 – Nível de Escolariedade
Fonte: Produção dos autores.
25Verificou-se que 87,6% dos participanes afirmaram conhecer o calendário de vacinação português e 92,1% declararam confiabilidade na eficácia das vacinas. A maioria (69,7%) buscou informações sobre vacinas antes de decidir imunizar seus filhos. Essas informações foram acessadas principalmente no serviço de saúde, com profissionais e internet, como pode ser observado no Gráfico 2.
Gráfico 2 – Principais fontes de informação sobre vacinas
Fonte: Produção dos autores.
26A maioria costuma consumir algum tipo de notícia veiculada por meio da televisão e da Internet (Gráfico 3).
Gráfico 3 – Meios mais utilizados para obter informações
Fonte: Produção dos autores.
- 8 Para a realização da correlação de Pearson foi necessário codificar a variável “Escolaridade” de fo (...)
27A análise da relação entre nível de escolaridade8 e o hábito de consumo de notícias, considerando a correlação de Pearson, não indicou significância estatística [r (84) = -0,100; p = 0,359].
28Como podemos perceber através do Gráfico 3, a Internet é o principal meio utilizado por nossos inquiridos para aceder às notícias e informações de todos os tipos. Por esse motivo, questionámo-los também, enquanto na Internet, sobre como costumam consumir informações, as respostas podemos verificá-las no Gráfico 4.
Gráfico 4 – Meios de informação mais utilizados na Internet
Fonte: Produção dos autores.
29Um dos principais objetivos do nosso estudo foi verificar quais as características mais observadas pelos familiares nas informações para estas serem consideradas confiáveis. Partimos da questão “Toda notícia publicada e partilhada na Internet é verdadeira?”, na qual 91% dos inquiridos responderam que não, para, então, perguntarmos aos nossos inquiridos quais características consideram importantes e quais consideram dar credibilidade a uma notícia.
Gráfico 5 – Características da informação (em frequência)
Fonte: Produção dos autores.
30O Gráfico 5 nos mostra que as principais características de uma notícia consideradas pelos inquiridos são a presença da autoria, ou seja, o nome da pessoa que produziu a informação, e também estar claro o nome das fontes que contribuíram para que aquela peça pudesse ser produzida. Para verificarmos se existe uma relação entre o nível de escolaridade e a avaliação das características da informação, utilizámos novamente o software SPSS e obtivemos o seguinte resultado: a correlação que existe entre o nível de escolaridade e a capacidade para interpretar a característica das notícias quanto à autoria é estatisticamente significativa [r (84) = 0,381; p < 0,001].
31Quanto à presença do nome das fontes de informação utilizadas, a correlação que existe entre o nível de escolaridade e a capacidade para interpretar a característica das notícias quanto à presença do nome das fontes de informação também é estatisticamente significativa [r (84) = 0,334; p < 0,01].
32Já no que refere ao meio de divulgação das notícias, os inquiridos, na sua maioria, responderam que, quanto mais meios de comunicação social veicularem a notícia, maior será a credibilidade da mesma. No entanto, não existe correlação entre o nível de escolaridade e a capacidade para considerar que, quanto mais meios de comunicação divulgarem uma informação, maior será a credibilidade dessa informação, pois a correlação não é estaticamente significativa [r (84) =0,096; p = 0,380].
33Como foi possível observar, nossa amostra é formada por pais ou familiares com uma faixa etária prevalente entre os 30 e os 39 anos e, na sua maioria, possuem licenciatura, além de terem declarado ter o hábito de consumir notícias, principalmente pela Internet e pela televisão. Estamos cientes de que a amostra de nosso estudo apresenta uma predominância de inquiridos com ensino superior, o que limita a compreensão acerca dos demais públicos. No entanto, trata-se de um estudo exploratório que terá continuidade com uma amostra mais representativa. Mesmo assim, é importante destacar que o consumo de notícias por meio de jornais e revistas não é priorizado pelos indivíduos que participaram da nossa pesquisa, assim como a utilização da rádio. Também se verifica a tendência dos portugueses de utilizar a Internet como principal fonte de informação, com destaque para o uso de redes sociais digitais, especialmente o Facebook. Por se tratar de um estudo em fase de ampliação – sendo essa a primeira fase –, os dados aqui apresentados estão, ainda, limitados aos representantes educacionais de alunos de um dos Agrupamentos Escolares da cidade. Mas, para obtermos uma amostra que pudesse ser representativa, escolhemos o maior deles. A partir do contato com os professores responsáveis por cada turma, recebemos e classificámos como respostas válidas quase 60% dos questionários aplicados. Um número alto, dado a complexidade do Estudo em questão.
34Embora uma grande parte dos inquiridos tenha afirmado que suas principais fontes seguem sendo os Médicos de Família e o próprio Centro da Saúde, chama a atenção, entre os dados coletados, a insignificante diferença entre televisão e a Internet no que tange ao meio de comunicação preferido para coleta de informações acerca das vacinações em Portugal. Visto que a faixa etária de maior resposta aferida pelos questionários se concentra nos 30-39 anos, e por essa classificação ser associada a uma Geração Y totalmente já adaptada às conexões em rede, surpreendeu-nos a taxa elevada de consumo televisivo, deixando as outras plataformas, como jornais, rádio e revistas, quase relegadas nesse quesito.
35Outro dado a ser considerado diz respeito à pesquisa Digital News Report 2019, supracitada nesta investigação, que diz que o Facebook e o Facebook Messenger são as redes sociais digitais com maior volume de acesso e troca de mensagens entre os portugueses, fato que se comprova também quando o assunto é a vacinação, com mais de 31% dos inquiridos a responderem que buscam neste espaço esclarecimentos sobre o tema, seja em perfis de empresas jornalísticas, seja em publicações que acabam por surgir na linha do tempo a partir do algoritmo.
36Apesar de ter nessa Rede Social Digital um grande espaço de consumo dessas informações, mais de 90% dos pais que participaram desta pesquisa responderam estar cientes de que nem toda publicação disponível nestes espaços pode ser tratada como informação verídica, estando a grande maioria de acordo que toda e qualquer informação deve vir acompanhada do nome do autor, ter clarificadas suas fontes, bem como ser referenciada por um meio de comunicação social. O número se relaciona com os 47,6% dos pais que responderam que, ao utilizar a Internet, buscam o conteúdo nos sites das empresas jornalísticas ou nos perfis destas empresas. Mesmo que tais dados representem uma pequena parcela da sociedade local, são dados que nos interessam a ponto de continuar com a investigação, pois tais números referem a força que a Comunicação Social ainda exerce entre as pessoas e ser essa uma parceira para a diminuição constante da propagação de desinformação.
37Em relação ao desenvolvimento da literacia midiática, o que podemos retirar das respostas dos participantes de nossa pesquisa é que o nível e a evolução da literacia midiática têm mais relação com hábitos de consumo do que propriamente os níveis de escolaridade – conclusões que já haviam sido apontadas em estudos anteriores, como os de Benavente et al. (1996) e Perrenoud (2002). Embora nossa amostra não seja suficiente para refletir resultados de abrangência nacional, por exemplo, compreendemos que se enquadra no grupo de estudos do sujeito em contexto. Quanto à literacia em saúde, quando começámos a pesquisa acreditávamos em um papel maior dos meios de comunicação social no desenvolvimento de conhecimentos sobre saúde na população. No entanto, o que observámos nos questionários aplicados foi a predominância dos profissionais da saúde como principais fontes de conhecimento acerca da vacinação e, no que se refere ao consumo pela Internet, as páginas de empresas jornalísticas ainda são as mais procuradas, o que demonstra um grau avançado no que Brashers et al. (2002) apontam como gerenciamento da informação através de atividades comunicativas e cognitivas.
38O objetivo do nosso estudo foi verificar se o nível de escolaridade interfere na perceção do que o indivíduo considera características importantes para fiabilidade e credibilidade em uma informação sobre saúde, assim como os seus meios de divulgação. Nesse aspecto, muitas pesquisas divergem e até apontam distanciamentos entre o nível de escolaridade de um indivíduo e a literacia desenvolvida pelo mesmo. Sendo a literacia um conjunto de conhecimentos, atitudes e habilidades necessárias para o exercício da cidadania, ela é desenvolvida ao longo da vida tanto nos primeiros ensinamentos passados pela família, quanto nos transmitidos na escola, no local de trabalho, com os artefactos com que temos contato, e na sociedade na qual estamos incluídos.
39Lopes (2013) nos diz que o nível mínimo de literacia midiática permite o reconhecimento de referentes, símbolos, padrões e modelos e a associação de significados; nesse sentido, também questionámos se a exposição frequente aos meios de comunicação sociais ou o uso destes nos torna mais capacitados para detetar a veracidade das informações. No entanto, no que toca ao consumo de notícias, não tendo relação com o nível de escolaridade, notámos que, das três características da informação mais assinaladas pelos inquiridos, apenas a presença da autoria da peça e do nome das fontes de informação têm relação significativa com o nível de escolaridade.
40Neste estudo, após análise dos questionários, podemos considerar que o nível de escolaridade do indivíduo não interfere de maneira significativa nos seus hábitos de consumo de informação, assim como não tem relação com a sua perceção dos elementos da informação. Notámos que, para as pessoas que fazem parte da nossa amostra, as fontes, assim como sua credibilidade, são os fatores mais importantes no que se refere à obtenção de notícias ou de conteúdos sobre saúde. Dessa forma, a percepção da estrutura da narrativa ou a presença de elementos contextualizadores, como fotografia, áudio ou vídeo, pouco teve que ver com a confiança depositada pelos participantes desta pesquisa nas informações sobre a vacinação infantil.
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