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Livro « Das Ruínas do escravismo: teoria e história da transição ao capitalismo dependente.

Pedro Guimaraes Pimentel

Texto integral

Capa

1Editora: EDITORA CRV;

2ISBN: 978-65-251-1115-5;

3ISBN DIGITAL: 978-65-251-1110-0

4DOI: 10.24824/978652511115.5

5Ano de edição: 2022

6Número de páginas: 230

Snopse

7Quais são os vestígios suficientemente rígidos do escravismo para que o desenvolvimento do capitalismo em nosso país fosse estampado pelas “marcas do passado”? Através do materialismo histórico nacional e latino-americano, o autor busca responder a essa e outras questões, colaborando com os estudos acerca da passagem para o “trabalho livre” no Brasil.

8    A partir de uma perspectiva que opera não somente por recortes políticos e jurídicos, privilegia, em seu lugar, a análise da prolongada transição entre modos de produção definidores do caráter da formação socioeconômica brasileira. Neste sentido, temas como ciclo do capital, caráter de classes do Estado, abolicionismo, reificação e alienação e industrialização e proletarização são revisitados à luz da compreensão de um período transicional entre o escravismo colonial e o capitalismo dependente.

Prefácio

9As Duas Margens do Rio

10Por : Mário Maestri, doutor em Ciências Históricas pela UCL-Bélgica. Professor colaborador do PPGH da UPF, Rio Grande do Sul.

11Em 7 de abril de 2020, em plena explosão epidêmica do COVID-19 no Brasil, Pedro Guimarães Pimentel, Professor do Departamento de História do Colégio Pedro II, defendeu, no Programa de Pós-graduação em Políticas Públicas e Formação Humana da UERJ, a tese de doutoramento “Das Ruínas do Escravismo: subalternidade, ganho e marginalização no Rio de Janeiro. 1871-1920”, aprovada com louvor. Trabalho dirigido pelos doutores Floriano Godinho de Oliveira e Mônica Esmeralda Bruckmann Maynetto. Participaram da banca examinadora virtual os doutores Mathias Seibel Luce e Lená Menezes de Medeiros, além deste prefaciador.  Em verdade, tratava-se praticamente de duas teses. 

12A primeira parte, introdutória, constitui magnífico esforço teórico de leitura crítica e integração das visões analíticas de Jacob Gorender, com destaque para O Escravismo Colonial, com as interpretações avançadas pela teorias da Dependência, dos Sistemas-mundos – Theotônio dos Santos, Vânia Bambirra, Ruy Mauro Marini, sobretudo – e por Darcy Ribeiro, em seu esforço interpretativo magno, O Processo Civilizatório, publicado em 1968, no qual ambicionava apreender o desenvolvimento da civilização nos passados três últimos milênios

13A segunda parte da tese estabelece reconstituição histórico-crítica do espaço econômico-social escravista, no Rio de Janeiro, de 1871 a 1888, e seus desdobramentos posteriores, sob a vigência do trabalho livre, até 1920. Um estudo que representa, em forma indiscutível, importante contribuição para a história da escravidão colonial e sua transição ao domínio do trabalho livre na I República, tendo como base de análise a então capital do país.

14Em geral, nos trabalhos acadêmicos de pós-graduação, a introdução teórica destina-se a apoiar a interpretação das teses propostas, a serem comprovadas, pela investigação empírica, na segunda parte do texto. Em sua tese, Pedro Guimarães Pimentel empreendeu uma verdadeira inversão desse procedimento. O coração do trabalho não é a segunda parte, como se poderia esperar. Nesse caso, a investigação e a análise histórica servem sobretudo para testar-comprovar a elaboração teórica mais ambiciosa realizada inicialmente.

15O que não diminui, minimamente, a importância da parte histórica e empírica desenvolvida no segundo núcleo da tese. Nela, entre tantas outras questões fundamentais trazidas à discussão, destacaria a oportuna impugnação, desde um viés materialista, da proposta avançada de uma “Segunda Escravidão”, de natureza diversa da “primeira”. Proposta que, diga-se de passagem, romperia a coesão do modo de produção escravista colonial. Essa concepção desenvolveu-se, como habitual, nos USA, quando da abordagem do empuxe causado na escravidão pela produção algodoeira, e foi interpretada no Brasil ao se indicar espécie de renascimento da escravidão, com a produção cafeicultora, sempre no século XIX. Em nenhum momento há ruptura ou dissonância entre os dois momentos do escravismo, no contexto das proposições do autor.

16O presente livro, sob o título de Das Ruínas do Escravismo: teoria e história da transição ao capitalismo dependente, apresenta a parte teórico-metodológica da citada tese de doutoramento. Nela, por primeiro, o autor empreende revisão e discussão eruditas que constituem um verdadeiro retorno às propostas analíticas de Jacob Gorender, em O Escravismo Colonial, publicadas, inicialmente, em 1978, no início da chamada “Abertura lenta, gradual e segura” da ditadura militar (1964-85). Um trabalho que produziu, na época, um profundo e criativo impacto no meio acadêmico brasileiro.

17No magnífico O Escravismo Colonial, Jacob Gorender empreendeu crítica categorial-sistemática da formação social brasileira, propondo, através dessa investigação, seu domínio por “modo de produção escravista colonial”, definido como “historicamente novo”, até 1888. Uma démarche que tinha como objeto avançar o conhecimento da sociedade brasileira para revolucioná-la socialmente. No prosseguimento daquele projeto, Jacob Gorender publicou a seguir outros trabalhos de menor fôlego. Retomando aquela discussão, Pedro Guimarães Pimentel rompeu com o verdadeiro cancelamento acadêmico sobre aquela obra e reflexão magistrais propiciado pelos presentes tempos de conservadorismo galopante.

18A seguir, o autor empreende ensaio pioneiro de aproximação entre as interpretações “escravistas coloniais” e a “teoria da dependência”, desenvolvidas por uma plêiade de, sobretudo, sociólogos, como Sérgio Bagú, Paul A. Baran, Paul Sweezy e, no que se refere ao Brasil, Ruy Mauro Marini, André Gunder Frank, Theotonio dos Santos, Vânia Bambirra e Fernando Henrique Cardoso, este último, em um viés diverso, isso é, a favor da integração e não do rompimento com a dependência. A Teoria da Dependência alcançou enorme difusão e prestígio em fins dos anos 1960 e durante parte de 1970, com, desde então, crescente perda de impacto e legitimidade. Visões de mundo daqueles autores, apresentadas igualmente com maestria pelo autor. 

19Aquelas interpretações analíticas das formações sociais latino-americanas, que resultaram na Teoria da Dependência, foram criticadas diversas vezes por Jacob Gorender. Não é aqui, certamente, o momento de retomar algumas das dissonâncias centrais daquela leitura do passado e as propostas de “modo de produção escravista colonial”, hegemônico não apenas na antiga formação social brasileira. Entretanto, entre essas dissonâncias, destaca-se a defesa de raízes capitalistas, sempre adjetivadas, da colonização americana, não raro desde a dita Descoberta. Em geral, devido à busca do lucro, desde a origem, pelos colonizadores. 

20Essas e outras contradições, entre as duas interpretações, certamente aumentam a importância do esforço intelectual de Pedro Guimarães Pimentel em aproximá-las. Sem se deixar levar pela frequente opção de dogmatizar as bases teóricas de uma investigação acadêmica, o autor reitera a validade da tese de Gorender acerca da particularidade do escravismo enquanto modo de produção distinto do capitalismo e faz emergir uma conceituação da transição entre estes, bem como traça suas principais características.

21Para isso, analisa a alteração nos padrões de acumulação no contexto dos mecanismos da dependência, cotejando, a todo instante, os eventos derradeiros da crise do escravismo no interior do Estado brasileiro, que opuseram as elites senhoriais e as amplas camadas do movimento abolicionista, estas que tinham como força propulsora a luta incessante dos escravizados pela emancipação. Na sequência, o autor apresenta um interessante exame do percurso histórico de formatação das consciências no período, tema tão caro aos estudos materialistas. Por fim, no último capítulo, o leitor encontrará uma demonstração daquilo que destacamos acerca da potência do constructo teórico empreendido nesta obra, momento no qual Pedro Guimarães Pimentel averigua a transformação de uma das cidades-escravistas – o Rio de Janeiro – em cidade-industrial, através da decomposição do trabalho escravizado nos anos que antecedem a Abolição e da concomitante e consequente proletarização e industrialização do espaço urbano.

22O presente livro é, portanto, leitura incontornável para todos os interessados na presente discussão, de singular importância, para a compreensão de nosso passado e de nosso presente. E para a superação da profunda crise em que vivemos atualmente.

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Para citar este artigo

Referência eletrónica

Pedro Guimaraes Pimentel, «Livro « Das Ruínas do escravismo: teoria e história da transição ao capitalismo dependente.»Espaço e Economia [Online], 23 | 2022, posto online no dia 30 julho 2022, consultado o 19 abril 2024. URL: http://journals.openedition.org/espacoeconomia/21889; DOI: https://doi.org/10.4000/espacoeconomia.21889

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Autor

Pedro Guimaraes Pimentel

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