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Os efeitos da pandemia no setor de turismo italiano: uma análise do plano nacional de recuperação e resiliência

The effects of the pandemic on the italian tourism sector: an analysis of the national recovery and resilience plan
Los efectos de la pandemia en el sector turístico italiano: un análisis del plan nacional de recuperación y resiliencia
Les effets de la pandémie sur le secteur du tourisme italien : une analyse du plan national de relance et de résilience
Vitória Batista Santos Silva, Larissa Lugli Hidalgo Gonçales e Andresa Silva Neto Francischini

Resumos

O objetivo geral desta pesquisa foi identificar se o setor de turismo italiano conseguiu se recuperar no período pós-pandemia, avaliando as estratégias aplicadas pelo governo por meio do Plano Nacional de Recuperação e Resiliência (PNRR). O fato de o trabalho analisar o que acontece no setor de turismo italiano durante a pandemia é o ponto de originalidade, pois avalia um tema recente e que possui poucos trabalhos a respeito, ajudando a preencher uma lacuna na literatura sobre o tema. O método da pesquisa foi exploratório. Os principais resultados da pesquisa mostram que no setor de turismo foi possível recuperar a demanda, sugerindo aspectos positivos do plano, além de indicar que uma análise no longo prazo pode auxiliar a verificação de medidas específicas, tais como digitalização, maior interação dos agentes envolvidos no funcionamento do setor de turismo, além da contribuição italiana para a União Europeia.

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Entradas no índice

Palabras claves:

turismo, PIB, pandemia, PNRR, inversión.

Palavras chaves:

turismo, PIB, pandemia, PNRR, investimento.
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Introdução

  • 1 Último ano para o qual há dados disponíveis para o país, quando esta pesquisa é escrita.

1A Itália historicamente é um país com elevada movimentação no setor turístico. De acordo com dados da Organização Mundial do Turismo (2022), o país recebeu em 20221 40,94 milhões de turistas, sendo responsável por 5% das chegadas de turistas em âmbito mundial. Vários motivos podem ser elencados para os resultados observados, tais como o rico patrimônio histórico, cultural, gastronômico, dentre outros. Este trabalho pretende discutir o setor de turismo italiano, explorando quais foram as principais consequências negativas da pandemia no setor, enfatizando a forma pela qual o governo agiu para controlar a falta de liquidez e como o turismo conseguiu se recuperar. O objeto central deste estudo é a análise do Plano Nacional de Recuperação e Resiliência (PNRR), que possui um dos segmentos dedicados à recuperação do turismo no país.

2O PNRR visa, no longo prazo, deixar um legado para as próximas gerações, visto que o governo almeja uma administração pública mais eficiente, direcionando diversos investimentos na área de transporte, saúde e no mercado de trabalho. Em termos monetários, foram destinados 194,4 bilhões de euros por meio do plano, e o governo italiano aliou ao PNRR o Piano Nazionale per gli investimenti complementare (Plano Nacional de Investimentos Complementares), que adiciona mais 30,6 bilhões de euros, totalizando 225 bilhões de euros para a recuperação da economia italiana. A Itália foi um dos países que mais sofreu com as mortes causadas pela crise sanitária, tornando-se epicentro da pandemia no início de 2020. O PNRR visa modernizar o país de forma mais ampla, com desenvolvimento e mobilidade sustentável. Além disso, um dos principais objetivos é ajudar a recuperar o setor de turismo (Italia Domani, s. d.).

3Diante disso, cabe a discutir: o setor de turismo italiano conseguiu se recuperar no período pós pandemia com as medidas propostas pelo Plano Nacional de Recuperação e Resiliência (PNRR) e resolver o problema de demanda? A originalidade deste trabalho é o período a ser explorado, isto é, o desempenho do setor de turismo pós-pandemia, além da avaliação do plano em si. Este trabalho foi constituído com base em uma pesquisa exploratória (Gil, 2019), analisando o setor indicado a fim de verificar os efeitos que a pandemia causou e se essas consequências foram (ou poderão ser) revertidas. O trabalho irá analisar dados, artigos e livros, por meio de uma pesquisa de caráter qualitativo.

4Segundo a Organização Mundial do Turismo (2022), no ano de 2020 houve uma queda de 61% na entrada de estrangeiros no país, em razão da pandemia. Já em 2021, com a retomada gradativa da atividade econômica, houve aumento de 6,7% em relação ao ano anterior. Em 2022, a variação positiva em relação ao ano anterior já foi de 85,7%, o que mostra uma retomada do setor. Cabe avaliar de que forma as medidas do PNRR contribuíram para a recuperação observada, dado que o setor de turismo contribuía, antes da pandemia, para cerca de 5% do Produto Interno Bruto italiano (Petrella et al., 2018).

5 Além desta introdução, inicialmente é apresentado o histórico do turismo italiano antes da pandemia, mostrando as mais relevantes características do setor. Posteriormente, são apresentados os dados que mostram os efeitos que no emprego nessa área, além do papel do setor creditício para o setor, fazendo que o retornasse timidamente, porém melhor do que os demais setores. Por fim, é discutido como está o cenário atual do setor e quais as perspectivas, elucidando as mudanças que a pandemia trouxe e que moldaram o setor a buscar formas alternativas para atrair turistas, avaliando se o que foi implementado pelo ministério do turismo obteve sucesso ou não.

Referencial teórico

6Esta seção está subdividida em duas, sendo a primeira parte consistindo em uma breve caracterização do setor de turismo italiano, e a segunda a respeito dos impactos da pandemia para o setor de turismo italiano.

Caracterização do setor de turismo italiano

7Uma premissa para o estudo do turismo italiano é a de que o país possui diferenças significativas entre as regiões, de forma que, além de serem distintos os atrativos turísticos ao longo do país, os aspectos históricos que influenciaram a formação do patrimônio cultural nacional devem ser analisados levando em conta as características de cada região.

8Angeloni (2021) explica que as regiões que mais contribuíram para o turismo em 2019 considerando o número de estadias domésticas foram Lombardia, Lazio, Veneto, Emilia-Romagna, Campania, Piemonte, Toscana, Puglia, Sicília e Marche, conforme é possível observar no gráfico a seguir. Além disso, estima-se que o setor de turismo em 2019 contribuiu de forma indireta para até 13% do Produto Interno Bruto (PIB) italiano, obtendo receitas significativas e figurando entre os dez setores que mais contribuíram para a economia (Atlas, 2019).

Figura 1 – As 10 regiões com mais estadias de turistas domésticos em 2019 (em milhares de pessoas)

Figura 1 – As 10 regiões com mais estadias de turistas domésticos em 2019 (em milhares de pessoas)

Fonte: Elaborado a partir dos dados disponíveis do ISTAT (2019), considerando a estatística Movimento dei clienti negli esercizi ricettivi.

9Os principais países que enviam turistas para a Europa, considerando o cenário anterior à pandemia, são a Alemanha, os Estados Unidos, a França, o Reino Unido e a China (OCDE, 2021). No caso da Alemanha, da França e do Reino Unido, fatores como a proximidade geográfica podem influenciar na opção por escolha da Itália como destino.

10Os fatores que influenciam a escolha da Itália para turismo incluem aspectos relacionados à já mencionada riqueza histórica e cultural presente no país, assim como características gastronômicas. De acordo com pesquisa realizada pelo ISNART (2021), do ponto de vista das empresas, enquanto a região do Lácio tem como fator principal de atração turística o patrimônio cultural, as demais regiões atraem turistas ou pelas belezas naturais, ou pela enogastronomia.

11Em termos institucionais e de regulação, Greenwood (2021) explica que o setor ainda enfrenta entraves que incluem uma complexa legislação para o setor e dificuldades nas representações sindicais, o que acaba por mascarar os reais potenciais e fragilidades do turismo italiano, tornando mais lento o seu desenvolvimento.

12O turismo italiano sofreu um efeito negativo por conta da pandemia. Conforme já mencionado, comparado com o ano anterior (2019), em 2020 o setor teve uma redução brusca na entrada de turistas internacionais e no movimento de turistas locais, com efeitos negativos sendo observados também em setores relacionados, como o hoteleiro e o aéreo.

13Notou-se que os italianos preferiam tirar férias no verão para aproveitar as praias e houve uma redução nos turistas que preferiam tirar férias na montanha, assim o sul do país teve uma recuperação mais rápida, resultando em menor impacto se comparado às regiões que têm montanha. Mostrou-se que as três regiões mais frequentadas pelos italianos nas férias foram Sicília, Puglia e Campania, todas localizadas no sul do país. No curto prazo, houve um aumento de turistas domésticos em relação aos turistas internacionais, aumento fundamentado nos turistas de países que fazem fronteira com a Itália.

14No curto prazo era esperado que o turismo doméstico contribuísse com uma retomada do crescimento do setor como um todo e, posteriormente, que o fluxo de turismo internacional retomasse sua relevância, com exceção da China, pois quando alguns países estavam começando a enfrentar o cenário pandêmico, ela já estava na segunda onda de pandemia.

Os efeitos da pandemia no turismo italiano

15Pigliucci (2021) explica que o mercado de turismo global sofreu uma mudança significativa, principalmente no continente europeu. Sendo que a Europa ocupa o primeiro lugar de continente mais visitado com mais de metade de chegadas de turistas internacionais, a Itália está em terceiro lugar considerando os países europeus, mas ainda assim a receita em dólares obtida por cada entrada de turista não faz com que o país seja classificado nas primeiras posições. Pelo contrário. Para qualquer país o planejamento estratégico territorial acaba orientando a competitividade do setor de turismo, pois este não é entendido somente como um setor econômico, mas sim como uma série de conjuntos de recursos que acabam constituindo uma identidade produtiva.

16É possível que cada região crie um plano de desenvolvimento para atender as necessidades locais. Em 2014, a Itália instituiu o Comitê Permanente para promoção do turismo, visando uniformizar em escala nacional os planos individuais de cada região, cujas iniciativas foram incorporadas ao Plano Estratégico do Turismo (Piano Strategico del Turismo, PST), que tem como seu principal objetivo mostrar o envolvimento do governo com a parte interessada, não sendo, portanto, específico do turismo, mas abrangendo outros setores também.

17O PST visa a construção de um serviço/produto complexo no turismo, reconhecendo que este tem um elemento fundamental no território nacional e trazendo como preocupação central a infraestrutura para atrair os turistas. O PST conseguiu definir pontos fortes e fracos do setor, procurando cada vez mais se aprofundar em tendências de desenvolvimento tanto no âmbito nacional quanto no internacional, através de elementos como: inovar, especializar e integrar a oferta nacional; aumentar a competitividade do sistema; desenvolver um marketing eficaz e inovador; e implementação governamental eficaz e participação do processo de elaboração e definição do Plano e de Políticas para o setor.

18O artigo de Demma (2021) buscou analisar a diminuição da procura do turismo em território italiano, devido à pandemia. A pesquisa mostra a queda no fluxo de turistas no país e o impacto em outros setores como o aéreo, além de discutir a queda no emprego. Como as empresas italianas conseguiram mais empréstimos – algo que antes da pandemia era mais difícil – houve um aumento de 13,5% dos empréstimos destinados a esse setor, o que ocorreu por conta da necessidade de liquidez. O setor de crédito ficou com uma alta demanda, pois diversas empresas e setores da economia italiana buscaram financiamento. Porém, essa procura de crédito afetou mais as empresas que tinham um balanço menos sólido.

19Antes da pandemia o turismo estava bem aquecido juntamente ao setor bancário, mas houve escassez especificamente com relação à questão do financiamento que, no curto prazo, era essencial para evitar o problema de falta de liquidez, e algumas empresas precisaram lidar com uma dívida muito alta, ou até mesmo declarar falência. Entre 2010 e 2019, o setor de turismo italiano observou incrementos positivos, o que estava diretamente relacionado à hospedagem, que cresceu a uma taxa média anual de 1,5%.

20Também entre 2010 e 2019, o emprego no setor de turismo crescia em média 2,2% ao ano, o que representava um crescimento rápido quando comparado a outros setores da economia. Em 2020, com as medidas tomadas para precaução da pandemia, o setor teve uma queda de 11,4% no emprego, além da redução na entrada de novas empresas no setor. Assim, embora no período anteriormente indicado o balanço patrimonial das empresas tenha tido um grau maior de solidez e resiliência, em 2020, quando a economia entrou em recessão por causa da pandemia, essa capacidade financeira para lidar com as consequências da crise ficou abaixo da média do setor de produção (Demma, 2021).

21No período anterior à pandemia, os empréstimos e os financiamentos concedidos pelas instituições financeiras para as empresas de turismo eram fracos em comparação a outros setores, conservando o patamar de uma taxa média anual de 0,8% entre 2010 e 2019. Durante a pandemia o impacto na dinâmica do crédito mudou comparado aos demais segmentos, pois houve aumento de 13,5% (Demma, 2021).

22A procura pelo crédito se deu porque era necessária uma maior liquidez, já que houve uma diminuição nos negócios, dado o aumento da incerteza das perspectivas econômicas. Esse aumento no crédito também foi impulsionado por diversas empresas de outros setores para contribuir com a liquidez que havia sido afetada. Como já citado, no setor de turismo antes da pandemia não era tão comum conseguir empréstimos, mas dado o momento mundial a facilidade para obter empréstimos aumentou. A moratória no final de 2020 era de 48,6% em território italiano para o setor de turismo, e os empréstimos adquiridos durante a pandemia tinham uma tendência de ser de médio e longo prazo. Vale mencionar que ocorreu uma deterioração na qualidade dos empréstimos para o setor, ao passo que o aumento da incerteza elevou o risco do crédito (Demma, 2021).

23De acordo com Bizzarri e Ceschin (2020), quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou estado de alerta para o mundo por conta do novo vírus, a população mundial se viu com perspectivas e costumes diferentes, e apenas em 2021 os países começaram a se recuperar gradativamente. A pandemia trouxe consequências diretas e indiretas afetando diversos setores da economia.

24Em uma pesquisa da Sociedade Italiana de Mobilidade Suave e Profissionais de Turismo Sustentável (SIMTUR, 2020), que monitorou o sentimento dos italianos e suas perspectivas e expectativas para o futuro, percebeu-se que havia insegurança para viajar e muitos cancelaram suas reservas, indicando que, futuramente – quando da recuperação gradativa da economia – as pessoas retomariam seu ritmo de atividade turística.

25Segundo Morvillo et al. (2020) a região que mais foi afetada foi o sul da Itália, que apresentou uma queda de 28,2% nas estadias em estabelecimentos hoteleiros no primeiro trimestre de 2020, em razão também de ter sido a primeira região que impôs medidas de restrição em razão da pandemia. Além disso, Brogna (2022) explica que em razão de diferenças históricas entre norte e sul da Itália, as empresas do norte são consideradas de forma geral como menos frágeis e expostas a riscos em comparação ao Sul. Do ponto de vista do emprego, na região centro-sul também está o maior número de trabalhadores do setor turístico.

26As viagens internacionais só retornaram em 2021, ajudando a Itália se fortalecer novamente, e impulsionando o turismo internacional. Por outro lado, a pandemia fez com que o turismo doméstico se fortalecesse, pois muitos italianos iam para outros países e não aproveitavam o próprio país, o que proporcionou um movimento de redescobrimento das atrações turísticas nacionais. Existem alguns destinos que irão se recuperar mais rápido do que outros, visto que atraem tanto turistas domésticos como internacionais. Portanto, algumas cidades ficaram menos vulneráveis devido à sua recuperação comparada com as outras, devido a uma maior rotatividade de turistas. Algumas cidades atraem mais turistas internacionais do que domésticos, resultando em uma demora maior para se recuperar.

27Para Gambino (2021) a Covid-19 foi uma crise de saúde que gerou impactos não apenas no setor de saúde, mas na economia mundial, expondo ainda mais as desigualdades, tanto no âmbito financeiro como em alguns setores da economia, mais especificamente no turismo. Como no início de 2020 a Itália era o epicentro da pandemia, o setor de turismo foi o primeiro a ter suas atividades pausadas, sendo possível observar impactos negativos no setor e nas cadeias produtivas interligadas a ele. O governo tem pensado em formas de deixar o turismo mais atrativo, formulando um modelo de desenvolvimento que é estruturado com base em segurança sanitária e na sustentabilidade econômica e socioambiental, a fim de que os turistas que planejam ir à Itália se sintam confortáveis com as medidas tomadas pelo governo. Segundo a Organização Mundial do Turismo (OMT, 2020) o setor de turismo em 2019 teve um crescimento de 4% comparado com o ano anterior, sinalizando a tendência de crescimento para os próximos anos – interrompida pela pandemia.

28A Itália atualmente é o país que tem o maior número de patrimônios mundiais considerados pela UNESCO, com 58 lugares. Países que fazem parte da UNESCO incentivam os Estados a inscreverem seus “patrimônios”, assegurando proteção do patrimônio natural e cultural com algumas políticas especificas, além de incentivarem os cidadãos locais a protegerem e a cuidarem das respectivas cidades e patrimônios (UNESCO, 2023).

29Segundo o ISNART (2022) há um projeto de “ações para valorização do setor turísticos dos territórios e das produções de qualidade”, sendo financiado pelo Ministério do Turismo, cujo principal objetivo é valorizar os territórios, os produtos e a comunidade, tanto para o mercado interno quanto para o mercado externo, visando implementar ações que estruturem a oferta dessa “nova visão de turismo”, além de aprimorarem a cadeia de abastecimento (Made in Italy), que é um dos principais ativos turísticos.

30Até 2019, as cidades que mais foram visitadas tinham como atrativo principal aspectos relacionados à arte, e mais de 60% dos turistas estrangeiros as visitaram, com percentual crescente ao longo dos anos. Após o início da pandemia os segmentos culturais tiveram um prejuízo muito grande. O período pós-pandemia fez com que o governo italiano adotasse uma estratégia de marketing territorial mais eficaz do que as demais nações. O ano de 2020 estava programado para ser um ano com forte destaque cultural e turística, com a rota Itália-China.

31Bizzarri e Ceschin (2020) explicam que a pandemia deixou consequências diretas e indiretas em diversas cadeias produtivas que precisaram interromper suas atividades, não só na Itália, mas no mundo. Como a demanda de algumas cadeias produtivas foi negativamente afetada, e essas são interligadas com outras – como o setor de turismo é com o setor aéreo e o setor hoteleiro – essa paralização das atividades teve um “efeito dominó”, visto que as atividades mantidas na época foram apenas as de setores considerados essenciais, como farmácias e mercados.

32A SIMTUR (2020) fez uma pesquisa para saber se os italianos nas próximas férias ou em breve gostariam de viajar. Uma boa parte dos cidadãos italianos responderam que se fossem viajar não iriam muito longe (cerca de 58,6%), outros explicaram que não pretendiam viajar por conta da incerteza (cerca de 13%), e os que já tinham viagem marcada cancelaram (cerca de 13,8%). Com base na pesquisa a foi elaborado o manual dos cuidados que devem estar presentes na atividade turística, cujos pilares fundamentais são: Saúde pública e segurança individual; Segurança dos visitantes e convidados; Envolvimento com o público; e Saber ser atraente e envolver o público.

33A velocidade da recuperação do coronavírus era relativa, pois partia do governo e da população tomarem medidas para se prevenir como o uso de máscara, distanciamento social, utilizar álcool em gel, evitar sair quando estivesse infectado, dentre outras. O enfretamento e a retomada do turismo pós pandemia seria possível seguindo os seguintes passos:

  1. Sobrevivência: o governo ajudaria nos primeiros socorros e cabia à população conscientizar-se do problema e tomar os respectivos cuidados;

  2. Aceitação: aceitar que estavam vivendo um momento difícil, mas tudo iria passar, aceitando as limitações momentâneas; e

  3. Desenvolvimento: pensar em como retomar o crescimento e o desenvolvimento dadas as limitações e restrições colocadas. O governo lançou uma série de auxílios e apoios a empresas úteis para a retomada das suas atividades e, no turismo, o governo fez uma ação baseada em escala geográfica.

34De acordo com Greenwood (2020), o setor de turismo impulsionou a economia italiana por muitos anos, gerando empregos e contribuindo para o PIB. Com o passar do tempo, nota-se o crescimento do número de turistas chineses na Itália, sendo que 82% deles procuram viajar para aproveitar o turismo, e 7% aproveitam para procurar emprego.

35Do ponto de vista dos transportes, como há uma demanda excessiva no setor de turismo, ocorre uma sobrecarga no serviço de transporte podendo trazer dificuldades no âmbito social, ambiental e econômico. Para saber a capacidade de que uma cidade italiana em relação à demanda turística, um modelo matemático foi utilizado para compreender o número diário ideal de turistas em uma área geográfica/específica, com o objetivo de demonstrar de forma empírica como definir a quantidade sustentável em vários setores e segmentos a fim de que seja possível acomodar a demanda do turismo e atender a população que habita em determinada área.

36Em um plano estratégico é necessário que haja missão, visão e valores bens estruturados para que se possa planejar, conceituando o chamado tripé estratégico baseado no modelo de análise SWOT, levando em conta o ambiente externo e interno. Esse planejamento estratégico busca vantagens competitivas, buscando destaque por um produto ou serviço de melhor qualidade comparado aos demais países. Além disso, a Itália tenta manter uma estratégia de diferenciação no setor.

37O turismo é um setor muito importante na União Europeia. Em 2019 a contribuição direta ou indireta do setor para o PIB da UE foi aproximadamente de 9,9%, além de estar relacionado a aproximadamente 11,6% da força de trabalho. A política adotada para o setor é de competência de todos os países que são membros da UE. Com a chegada da pandemia, em 2020 o setor de turismo perdeu cerca de dois milhões de postos de trabalho no setor, impactando fortemente o PIB quando comparado ao ano anterior (Corte Dei Conti Europea, 2021).

38O Quadro Financeiro Plurianual (QFP) não prevê um orçamento específico para o setor, embora tenha havido programas e iniciativas visando novos investimentos. O Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) foi o maior fornecedor financeiro da UE para investimentos relacionados diretamente ao turismo. Também houve um mecanismo de recuperação e resiliência (RRF) que oferecia aos membros uma possibilidade de financiar investimentos e reformas, como parte do plano nacional de recuperação e resiliência (Corte Dei Conti Europea, 2021).

39Com as informações apresentadas é possível perceber que a pandemia gerou um impacto negativo muito grande no setor de turismo. Com base nisso, a União Europeia (UE) propôs algumas medidas para ajudar pequenas e médias empresas durante o período em que elas foram afetadas, e percebeu uma nova oportunidade para modernizar o turismo torná-lo mais sustentável. Estima-se que tenham sido afetadas entre 22 e 26 milhões de pessoas que trabalhavam diretamente ou indiretamente no setor. Na UE o setor de turismo contribui com 9,5% do PIB total, 11,2% da força de trabalho e 90% das empresas são de pequeno e médio. (Parlamento Europeu, 2020)

Método

40As pesquisas exploratórias têm como principal finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias, tendo em vista a formulação de problemas mais precisos ou hipóteses a serem testadas em estudos posteriores (...) Procedimentos de amostragem e técnicas quantitativas de coleta de dados não são costumeiramente aplicados nestas pesquisas (Gil, 2019, p. 26).

41Considerando que este trabalho pretende inicialmente explicar quais foram os efeitos e de que forma a pandemia impactou o setor de turismo italiano, foram utilizados estudos qualitativos como fundamentação teórica. Para verificar se o setor conseguiu ou conseguirá se recuperar e quais medidas aplicadas por meio do PNRR para controlar a queda de demanda durante a pandemia foram analisados dados de órgãos como Instituto Nazionale di Statistica (ISTAT), Banca D’Italia, Organization for Economic Co-operation and Developement (OECD), além de artigos e livros.

42Do ponto de vista metodológico também vale mencionar o uso da pesquisa fenomenológica (Gray, 2012), uma vez que esta pesquisa avalia características de um fenômeno específico, observado em determinado momento da história. Pelo caráter qualitativo da pesquisa, os resultados não podem ser generalizados, e devem ser interpretados como pertinentes exclusivamente ao caso discutido.

43Dados esses questionamentos, este estudo propõe a analisar informações e dados de caráter descritivo e numérico, levando em consideração que o mundo estava em pandemia e um país específico, no caso, a Itália, analisando os principais impactos gerados na economia italiana, visto que o turismo contribui muito.

Resultado e discussão

Plano Nacional de Recuperação e Resiliência

44A crise econômica gerada pela pandemia fez com que a União Europeia repensasse em uma série de aspectos, como a suspensão do pacto de estabilidade e o lançamento do programa Next Generation EU (NGEU), que traria mudanças na União Europeia. Os eixos estratégicos desse plano são: digitalização e inovação; transição ecológica; e inclusão social. A digitalização e a inovação são vistas como fatores fundamentais para a transformação do país, enquanto a transição ecológica tem como escopo principal reduzir as emissões de poluentes, prevenir e combater a instabilidade do solo e entre outros, incrementando a competitividade. Por fim, a inclusão social tem como objetivo central aprimorar a coesão territorial, gerando crescimento e atenuando as desigualdades que foram acentuadas na pandemia. Acredita-se que o PNRR é uma oportunidade de acelerar a transição ecológica e superar barreiras, pois acaba aumentando investimentos. Além disso, é um plano mais sustentável no longo prazo.

45O PNRR é um plano baseado em reformas, focado em melhorar as condições regulatórias e legais, em aumentar a equidade permanente, a eficiência e a competitividade do país. Assim, as reformas buscar identificar as eventuais fragilidades do país por meio de uma perspectiva estrutural, com ações que visam aumentar o potencial de crescimento, além de reduzir disparidades regionais, de gênero, entre outras, que podem ser consideradas entraves para desenvolvimento da economia. O governo se comprometeu a implementar reformas de três tipos:

  1. Horizontais: consistem em inovações estruturais que tenham elementos transversais em todos os segmentos do plano, visando uma maior e melhor equidade, mais eficiência e competitividade no país, identificando lacunas na administração pública e no sistema judicial;

  2. Facilitadoras: partem do princípio de que haverá intervenções funcionais para garantir a implementação do plano, removendo obstáculos administrativos, regulamentares e processuais que possam condicionar as atividades econômicas e a qualidade do serviço prestado aos cidadãos e aos negócios; e, por fim,

  3. Setoriais: voltadas às missões individuais, enfatizando medidas que almejem inovações regulamentares relativas a áreas específicas da atividade econômica, além de introduzir regimes regulamentares e processuais mais eficientes nos setores da economia.

46A digitalização visa modernização no processo produtivo e na respectiva infraestrutura, tais como nos setores de energia e transporte, além de focar na educação e na saúde – estando presentes aspectos transversais. Os investimentos são necessários para garantir um salto na qualidade e no processo de digitalização. Ademais, declínios na produtividade quando comparada aos demais países da Europa podem ocorrer, em razão de fatores como baixa taxa de investimentos. Nesse sentido, o investimento previsto pelo plano garantiu um salto no processo de digitalização na economia italiana. De acordo com dados do relatório DESI (European Commission, 2023), após o PNRR a Itália já conseguiu atingir diversas medidas no que diz respeito à quesitos como cloud first, interoperabilidade, Tecnologia da Informação e Comunicações (TIC), dentre outros.

47O crescimento digital e a modernização da administração pública são algumas das prioridades para o relançamento do sistema nacional, consistindo em um programa de administração pública que inclua todos os componentes e facilitadores da tecnologia, a fim de prestar aos cidadãos e às empresas serviços eficazes, seguros e acessíveis. Mas para que isso aconteça são necessárias medidas preparatórias para a plena implementação das reformas administrativas públicas, tais como o desenvolvimento e aquisição de novas competências para o pessoal da administração pública.

48Além disso, a digitalização da infraestrutura tecnológicas e serviços públicos é vista como uma aliada para os cidadãos e empresas, pois é capaz de encurtar distâncias e reduzir a burocracia entre entidades e particulares. A pandemia e o afastamento social aceleraram esse processo evidenciaram a importância da digitalização nas esferas econômicas e sociais.

49A transformação digital se deve a uma abordagem de cloud first, por meio da qual ocorre a migração de dados e aplicações informáticas de administrações individuais para uma nuvem. Para tanto é necessário um programa de apoio que incentive as transferências de base de dados e aplicações, direcionados às administrações locais, as quais poderão escolher uma lista predefinida pelo governo com fornecedores certificados com critérios de adequação no quesito segurança e proteção.

PNRR e o turismo

50O terceiro componente do PNRR é o setor de turismo e cultura, enfatizando o papel identitário da imagem e da marca do país em nível mundial, e considerando a relevância econômica do setor. Portanto, investir nesse setor pode ser representado como uma oportunidade de interação com outras prioridades estratégicas do PNRR. Além disso, as medidas previstas pelo plano nesse setor podem definir uma estratégia de apoio e relançamento do setor.

51Um dos pontos do plano é a regeneração do patrimônio turístico e cultural que será seguido através de um programa extenso de reestruturação dos principais pontos turísticos e culturais. A Itália, por ter um patrimônio histórico riquíssimo, conta com muitos locais que requerem investimentos para impulsionar a atratividade, a acessibilidade e a segurança. Essa regeneração abrange tanto cidades pequenas e zonas rurais, estimulando novas experiências no setor de turismo e cultura, buscando equilibrar os fluxos turísticos de forma mais sustentável e apoiar a recuperação.

52No setor de turismo serão tomadas algumas medidas para garantir a aceleração digital, com foco na restauração e na inovação do patrimônio cultural físico, que serão acompanhadas por um programa de digitalização que tem como principal objetivo “virtualizar” o patrimônio no âmbito cultural e turístico, além de abordá-los de forma padronizada e inspirada em práticas internacionais já implementadas em outros países, enfatizando a comunicação de qualidade. Essas intervenções são divididas em quatro áreas de atuação: Patrimônio cultural para a próxima geração; Regeneração de pequenos locais culturais, patrimônio cultural religioso e rural; Indústria cultural e criativa 4.0; e Turismo 4.0 – que conta com uma grande participação dos agentes públicos.

53A primeira área tem como principal objetivo incluir investimentos para a criação de um patrimônio digital da cultura, alocados para digitalizar esse patrimônio e para promover a informação e o desenvolvimento de serviços do setor cultural e criativo, além de melhorias na acessibilidade de atrações culturais e na sustentabilidade ambiental. Essa intervenção será acompanhada da digitalização em locais culturais como museus, bibliotecas, arquivos, dentre outros, servindo para que a sociedade possa explorar novas formas de utilização do patrimônio. Através de uma estrutura digital nacional, ocorrerá o recolhimento, a integração e a preservação dos recursos digitais, disponibilizando-os para uso público, por meio de uma plataforma na qual serão feitas criações de novos conteúdos culturais e o desenvolvimento de serviços digitais com elevado valor que serão adicionados por empresas culturais e criativas e startups inovadoras. Portanto, o objetivo final é estimular a economia baseada na cultura. Uma barreira do plano é aumentar a acessibilidade ao patrimônio cultural, pois existem barreias sensoriais, físicas, cognitivas e arquitetônicas. Portanto, existem muitas instituições que ainda não removeram as barreiras físicas, sendo necessária intervenções combinadas com as atividades de formação de funcionários administrativos e operadores culturais.

54A intervenção também é destinada a uma melhora na eficiência energética da infraestrutura relacionada à cultura, pois frequentemente observa-se que as instalações são antigas e ineficientes, gerando um custo alto de manutenção no que se refere a ar-condicionado, iluminação, comunicação e segurança. Ou seja, parte dos recursos destinados ao PNRR será para o financiamento de intervenções para melhorar a eficiência de locais como museus, teatros, cinemas, aliando benefício cultural e contribuição para construções locais. Essas intervenções não serão feitas somente em cidades grandes, pois o PNRR traça uma linha onde irá desenvolver os locais turísticos e culturais em zonas rurais e periféricas. Portanto, o investimento que será aplicado na área de turismo irá ampliar e valorizar o patrimônio histórico também em áreas mais afastadas dos centros, contribuindo ainda para o comércio e desenvolvimento local.

55Os fluxos turísticos italianos são catalisados por algumas soluções particularmente conhecidas em nível internacional. As implicações dessa polarização são, de um lado, o uso intensivo de lugares mais demandados, que traz o risco de empobrecê-los no longo prazo colocando em risco a sustentabilidade ao decorrer do tempo. Por outro ângulo, muito outros lugares de grandes valores artísticos e culturais são cortados desses fluxos turísticos.

  • 2 Em tradução literal, Plano Nacional de Aldeias, mas é direcionado a pequenas comunidades, cidades, (...)

56Nos pontos turísticos das cidades grandes muitas vezes ocorre superlotação, de forma que investir em pequenas cidades com centro histórico contribui para um turismo mais sustentável. A intervenção proposta nessa área será implementada pelo Piano Nazionale Borghi2, que apoia o crescimento de áreas com o desenvolvimento econômico e social menos favorecidos. Inicialmente serão implementadas ações para “resgatar” o patrimônio histórico dessas cidades, promovendo o redesenvolvimento de espaços públicos abertos. Em seguida serão promovidos novos itinerários e visitas guiadas; por fim, o apoio financeiro que será introduzido nas variadas atividades terá o intuito de ajudar as economias locais se aprimorarem através de seus produtos e conhecimentos.

57Nas zonas rurais houve abandono e degradação de muitos locais, de modo que o intuito do plano é investir e impulsionar a valorização dos edifícios rurais históricos e proteger a paisagem. A recuperação desse patrimônio proporcionar acesso um patrimônio edificado e subutilizado, trazendo impactos positivos para as economias locais e incentivando o turismo sustentável, além de melhorar a produção de atividades como o artesanato e a agricultura.

58Todo investimento implementado pelo plano tem como principal objetivo a melhora da qualidade de vida e aprimoramento do patrimônio cultural do país, promovendo ações extensas para regenerar parques e jardins históricos, que podem ser considerados “centros de beleza pública” e locais de identidade para a população urbana. Essa intervenção tem um caráter sistemático e estabelece uma grande ação de recuperação dos jardins e parques com uma manutenção para que seja possível preservá-los no longo prazo.

59A Itália tem por volta de 5.000 vilas, parques e jardins históricos protegidos, ou seja, muito deles são de propriedade pública e abertos ao público, mas geralmente estão em um estado de conservação muito ruim. O plano tem como objetivo impulsionar esses locais, além promovendo treinamentos com a equipe local para que possam cuidar e preservar o local a longo prazo. Essa ação pode impactar positivamente no bem-estar social e na inclusão, trazendo benefícios econômicos. Os parques e jardins também tem valor histórico, cultural e ambiental, podendo contribuir para o papel ecológico e fornecer diversos serviços nessa área, que vão além do âmbito cultural e recreativo, contribuindo para a conservação da biodiversidade e para a redução da poluição ambiental.

  • 3 Fundo destinado à conservação de patrimônio religioso e demais segmentos relacionados.

60 Por meio do Fondo Edifici di culto3 (FEC) serão implementadas ações antissísmicas preventivas que têm como principal objetivo reduzir o risco sobre o patrimônio cultural e evitar o investimento necessário para as devidas restaurações após calamidades. O plano tem três componentes: proteção contra terremotos locais, restauração do patrimônio do FEC, e criação de depósitos para abrigo de obras de arte afetada por fenômenos naturais. Os eventos naturais que ocorreram nos últimos 25 anos acabaram deixando os edifícios históricos mais frágeis, justamente por falta de ação preventiva, o que resultou em perdas e danos consideráveis ao patrimônio. Por isso é necessário reconstruir esses edifícios que foram danificados e aplicar uma metodologia capaz de verificar a vulnerabilidade sísmica. O investimento nessa área inclui a construção do Centro Funcional Nacional para a proteção de bens culturais contra riscos antropogênicos e naturais (CEFURISC), permitindo uso sinérgico das tecnologias e dos sistemas ambientas existente para o devido monitoramento.

61Na área da indústria cultural e criativa o plano prevê duas linhas de intervenções, sendo a primeira a de investimentos no setor cinematográfico e audiovisual, com o objetivo de melhorar a competitividade, ou seja, busca um novo propósito para a produção de filmes – por meio da Cinecittà, que é essencial para a produção cinematográfica nacional – e televisão em Roma, visando aumentar a atratividade para a produção cinematográfica e para a televisão na Itália e também internacionalmente, contribuindo para o emprego e o crescimento do setor, além de gerar alguns efeitos indiretos. A segunda linha de intervenções concentra-se na evolução das operadoras nos setores culturais e criativo, por meio de revisão dos contratos públicos para eventos culturais, priorizando a sustentabilidade e apoiando a capacidade de desenvolvimento dos operadores com as questões ecológicas e digitais. Na parte cultural o plano deve adotar critérios ambientais mínimos para os eventos, com o propósito de melhora ecológica em acontecimentos como exposições e festivais, que poderão ocorrer por meio da inclusão de critérios sociais e ambientais que serão feitos através de contratos públicos, financiados e promovidos pelo setor público.

62Outra intervenção proposta é a capacitação dos operadores culturais para gerenciar a transição digital e ecológica o principal objetivo desse investimento é apoiar a recuperação e a revitalização dos setores culturais e criativos. A primeira intervenção proposta é apoiar a capacidade e ação da implementação de abordagens inovadoras, no meio digital, quanto aumentar as devidas capacidades gerenciais e econômicas, já na segunda intervenção é um incentivo a abordagem ecológica, ou seja, em toda a cadeia de suprimento, assim, promovendo uma inovação e design ecológico inclusivo, além da economia circular, podendo orientar o público através de um comportamento ambiental mais responsável.

63No setor de turismo os investimentos têm como principal objetivo melhorar as instalações e os serviços de acomodações, além de aprimorar e melhorar os padrões de oferta, ou seja, os principais objetivos é aumentar a capacidade competitiva das empresas e promover ofertas no setor de turismo se baseando na sustentabilidade ambiental, inovação e digitalização dos serviços. As intervenções implementadas servem para a renovação e modernização das empresas que operam nesse setor, além de aumentar o nível da digitalização. O plano tem como intuito também promover modelos inovadores de organização do trabalho, o que será feito por meio do desenvolvimento de redes e demais formas de agregação para o desenvolvimento de habilidades, digitais e não digitais, além de treinamento qualificado.

  • 4 Evento de cunho religioso.

64Serão tomadas medidas que irão explorar o potencial de grandes eventos, Como Giubileo 20254, nos quais está presente tentativa de reduzir os efeitos do turismo excessivo por meio de criação de rotas alternativas e integradas, abrangendo todas as regiões do território italiano. O impulso público também irá desencadear um efeito de alavancagem, se refletindo-se em investimentos e recursos por meio de iniciativas apropriadas para os fundos de investimentos.

65Um dos intuitos do investimento proposto é criar um hub de turismo digital, cujo acesso se dá por meio de uma plataforma na internet, permitindo que todo o setor de turismo seja conectado com o intuito de aprimorar, integrar e promover a oferta. O investimento é feito através por três ações:

  1. Ampliação do portal Italia.it, além de melhorar a interface e facilitar o acesso, integrando com fontes de dados adicionais, expandindo o portifólio de serviços e aumentando a capacidade de resposta com dados adicionais, e a expansão do portifólio de serviços disponíveis aos turistas, como o exemplo de assistência e informação sobre saúde e também para os guias turísticos;

  2. Desenvolvimento de dados e adoção da inteligência artificial possibilitando analisar o comportamento do usuário e os fluxos de turistas de área de maior e menor interesse, permitindo melhor segmentação da demanda;

  3. Desenvolvimento de um “kit de suporte de serviços digitais básicos” para beneficiar as pequenas e médias empresas voltadas ao setor turístico nas áreas menos desenvolvidas no país, resultando em fortalecimento das empresas mais fracas do setor com o desafio da transformação digital, aprimorando a qualidade do serviço prestado no setor.

66A pandemia tornou mais visível a necessidade de abordar uma série de problemas do turismo italiano, seja considerando fragmentação das empresas do setor, seja avaliando a perda progressiva da competitividade em termos de qualidade dos padrões de fornecimento, capacidade de inovação, dentre outros. O investimento é voltado para áreas como:

  1. Crédito fiscal, visando incrementar a qualidade e hospitalidade turística com investimentos voltados para a sustentabilidade ambiental e no aumento do padrão de qualidade das instalações de acomodações;

  2. Aprimoramento do Fundo Nacional de Turismo para a modernização de propriedades com alto potencial turístico;

  3. Facilitação do crédito aos empresários que administram empresas ou quem estiver iniciando no ramo.

  • 5 Parte do programa Next Generation EU focado nos grandes eventos com potencial turístico.

67A terceira parte do investimento no setor de turismo se dá através do patrimônio turístico nacional, explorando diversos eventos. O Caput Mundi5 é uma forma de aproveitar a oportunidade e desenvolver modelo de turismo sustentável em polos turísticos em nível nacional e a conexão com o evento Giubileo, com o foco de criar um itinerário turístico nacional que saia de uma capital e leve os turistas para rotas muitas vezes desconhecidas. Essa é uma proposta diferenciada de oferta, pois o projeto visa o treinamento e a criação de novos empregos no setor com o objetivo de aliviar o excesso de turistas nas principais cidades e atrações culturais.

Considerações finais

68

69O PNRR no setor de turismo italiano mostrou que é necessária uma sinergia entre as pessoas e a tecnologia, equilíbrio fundamental para a valorização de ambientes e para a prosperidade, tendo em vista que o plano tem como um dos principais objetivos desenvolver zonas rurais e/ou esquecidas, além da sustentabilidade, o que contribui para um país mais sustentável e menos desigual. Ademais, a relação estreita entre o setor público e privado valoriza o território italiano, indicando que o setor de turismo vem se recuperando pós-pandemia, com aprimoramento no setor hoteleiro e nos pontos turísticos, ajudando o setor de turismo a impulsionar o crescimento que tinha perdido durante a pandemia.

70A missão 1 do PNRR alocou um vasto investimento no setor de turismo. Uma das principais medidas foi a requalificação das estruturas, com o objetivo de necessitar de menor intervenção do Estado no que diz respeito a ajudar as empresas e as operadoras a ampliarem o faturamento. A questão da digitalização é muito importante, pois impulsiona as notícias nas redes e informa sobre cidades que são pouco procuradas pelos turistas.

71 Em 2023 foi liberada a terceira parcela do fundo (18,5 bilhões de euros), porque o governo conseguiu cumprir as metas estipuladas pela União Europeia, tendo em vista que é observada uma melhora em vários âmbitos, tais como saúde, mercado de trabalho, educação, dentre outros setores. Esses investimentos têm como principal objetivo promover a transição tecnológica e a sustentabilidade.

72 A Comissão Europeia delega elevado valor à capacidade dos agentes de atingir as metas e os objetivos contidos no plano. Os objetivos impostos pela EU foram alcançados antes do prazo determinado, o que permite assegurar e superar os resultados esperados para 2026. Além disso, é preciso levar em conta o custo e a urgência de intervenções estruturais, a fim de assegurar uma oferta mais homogênea e possíveis ações para administrar questões relacionadas à densidade populacional e aos serviços prestados à comunidade.

73Como sugestão de pesquisas futuras, seria importante reavaliar os resultados do plano no longo prazo, ou pelo menos após o ano de 2026. Assim, será possível verificar a eficácia das medidas implementadas em um horizonte temporal maior, sendo possível verificar inclusive quais serão os impactos de ações específicas como a digitalização, a maior interação entre os agentes envolvidos na dinâmica do setor, bem como o papel da Itália no turismo em comparação aos demais países da União Europeia.

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Notas

1 Último ano para o qual há dados disponíveis para o país, quando esta pesquisa é escrita.

2 Em tradução literal, Plano Nacional de Aldeias, mas é direcionado a pequenas comunidades, cidades, povoados e equivalentes.

3 Fundo destinado à conservação de patrimônio religioso e demais segmentos relacionados.

4 Evento de cunho religioso.

5 Parte do programa Next Generation EU focado nos grandes eventos com potencial turístico.

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Índice das ilustrações

Título Figura 1 – As 10 regiões com mais estadias de turistas domésticos em 2019 (em milhares de pessoas)
Créditos Fonte: Elaborado a partir dos dados disponíveis do ISTAT (2019), considerando a estatística Movimento dei clienti negli esercizi ricettivi.
URL http://journals.openedition.org/espacoeconomia/docannexe/image/28908/img-1.png
Ficheiro image/png, 6,7k
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Para citar este artigo

Referência eletrónica

Vitória Batista Santos Silva, Larissa Lugli Hidalgo Gonçales e Andresa Silva Neto Francischini, «Os efeitos da pandemia no setor de turismo italiano: uma análise do plano nacional de recuperação e resiliência»Espaço e Economia [Online], 28 | 2025, posto online no dia 06 fevereiro 2025, consultado o 12 junho 2025. URL: http://journals.openedition.org/espacoeconomia/28908

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Autores

Vitória Batista Santos Silva

Universidade Presbiteriana Mackenzie

vitoriabatista.silva@mackenzie.br

Larissa Lugli Hidalgo Gonçales

Universidade Presbiteriana Mackenzie

Andresa Silva Neto Francischini

Universidade Presbiteriana Mackenzie

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