1A caminho da exposição do Mário Cesariny, no MAAT, e já com a capa da celebração dos 50 anos do 25 de Abril em mente, pela primeira vez estive a observar com atenção a intervenção dos 48 artistas, na reinterpretação de 2022 do mural do 10 de Junho. Ao aproximar-me do mural reparei em dois rapazes que tiravam uma fotografia em frente a uma das pinturas, que vim, mais tarde, a perceber ser desenhada por Manuel João Vieira. Decidi fotografar o momento e guardei a imagem.

2Mais à frente, elaborei várias propostas para a capa, que incluíam uma peça da artista plástica Ana Santos, uma fotografia de uma composição minha, e dois desenhos ainda em esboço. O esboço deste desenho foi o escolhido por todos.

3Fui fazendo novos desenhos de aproximação ao desenho final e, ao analisar melhor o mural do 10 de junho de 1974, por comparação com o mais recente, apercebi-me de que não havia no primeiro uma quadrícula fixa para cada artista. Os desenhos entravam uns nos outros, percebia-se que era um desenho de um movimento conjunto. Gostei disso e tentei, de alguma forma, retirar as “linhas de contorno” dos espaços reservados aos artistas no mural de 2022, fazendo com que alguns elementos do desenho de um artista participassem no seguinte.

4Fiz vários desenhos com diferentes composições, sabendo à partida, pela escala da imagem, que tinha de fazer uma escolha das intervenções, subjetiva. Podia ter sido fiel à fotografia, podia tê-la esquecido e feito um painel de todas as intervenções, numa escala muito reduzida, mas decidi, no entanto, seguindo o dado mais objetivo que tinha, incluir aquelas que tivessem leitura no registo do desenho a lápis de cor e numa escala reduzida. E no final foi pela repetição do desenho, e quase uma memória desse processo, que se foram fixando as imagens do desenho final.

5Hanoi, 10 de janeiro de 2024