Texto integral
1Este é o primeiro número da revista do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES): Geografares. Esta revista representa um momento histórico de fundamental importância para a consolidação do debate científico no nosso curso.
2Desejamos que a revista Geografares contribua para a reflexão dos geógrafos e sirva como material de estudo em sala de aula. Mas desejamos, também, que ela seja a ponte que estabeleça ligações diversas entre o continente da Geografia e os continentes dos outros domínios das Ciências Humanas e Naturais.
3Por que Geografares? Ao verbo transitivo direto « Geografar », que significa descrever geograficamente, acrescentamos o « ES » que nos lembra o Espírito Santo e, ao mesmo tempo, dá a idéia de pluralidade e de diversidade.
4Abrimos este primeiro número com a apresentação da primeira parte de uma entrevista, concedida a uma rádio francesa (a Rádio France Culture), do geógrafo Yves Lacoste. Este texto é inédito na França e no Brasil!
5Yves Lacoste, fez prova de grande originalidade de pensamento e de ação a partir dos anos 50. Ele tirou dos limbos, ao qual estava relegada no interior da Geografia, a Política e a Geopolítica. Dentre outros livros importantes ele publicou em 1976, La Geographie, ça sert d’abord à faire la guerre, livro polêmico e fértil. O texto demonstra, com acuidade, a maneira pela qual a Geografia deveria ocupar o campo da cidadania buscando retirar o monopólio da utilização cartográfica das mãos dos especialistas e dos « estados-maiores » dos Estados e das grandes firmas. Foi Lacoste, igualmente, que criou a revista Hérodote, que nos dizeres do historiador Pierre Chaunu, foi tão importante para as Ciências Humanas quanto a célebre revista dos Annales, lançada pelos dois grandes historiadores Lucien Fèbvre e Marc Bloch em 1929. O que podemos dizer a mais? Simplesmente convidar os leitores a seguir os passos de Yves Lacoste nesta Tarde de um Geógrafo através do seu « Deleite » (Título do Programa da Rádio France) e esperar que esta entrevista possa servir para o enriquecimento do debate dentro da Geografia, bem como estimular uma maior participação cidadã dos geógrafos nestes tempos difíceis que atravessa a sociedade brasileira.
6Este primeiro número buscou primar pela diversidade geográfica das temáticas tratadas (Espírito Santo, Pará, Paraíba). Buscamos diversificar as contribuições, vários autores são de Estados, universidades e organismos diferentes (UFES, USP, UFRJ, UFPA, Faculdade de Filosofia de Colatina, Centro Universitário de João Pessoa e o IBGE de Goiás).
7A heterogeneidade das temáticas e dos autores se refletiu nas diferentes perspectivas apresentadas pelas contribuições.
8No que diz respeito aos estudos urbanos existem diferentes tipos de abordagens, inicialmente nos é apresentada uma discussão sobre os diferentes caminhos que podem tomar a administração dos conflitos envolvidos na construção das cidades (Carlos Teixeira de Campos Júnior). Seguindo a veia teórica busca-se decifrar o enigma da naturalização da sociedade nos espaços urbanos (Odette Carvalho de Lima Seabra). Um artigo discute os problemas advindos para as cidades da (re)espacialização industrial, lançando mão do que o autor chama de pessimismo metodológico (Paulo Cesar Scarim). Dois outros textos calcados em realidades distintas (João Pessoa e Belém do Pará), procuram entender a expansão das grandes cidades e metrópoles brasileiras (respectivamente Regina Celly Nogueira e Saint-Clair Cordeiro da Trindade Júnior). Um outro texto, sob a perspectiva urbana, apresenta um estudo de caso da migração para Vitória, Espírito Santo, de trabalhadores atraídos pelo pólo industrial de Tubarão (Cláudio Luiz Zanotelli).
9Outros artigos buscam uma discussão mais conceitual. Nesta perspectiva há uma análise epistemológica muito instigante sobre o conceito de formação espacial em Milton Santos (Luiz Carlos Tosta dos Reis). Um outro texto aborda as bases teóricas e conceituais da Geomorfologia (Lindinalva Mamede). É feita uma leitura crítica original, utilizando a Semiologia, das mitologias que recobrem a representação cartográfica (Gisele Girardi). Finalmente, nos é apresentado um longo e rico debate sobre a exclusão nas sociedades contemporâneas a partir do acesso às tecnologias da informação e da Comunicação (Rainer Randolph e Mário Hélio Trindade de Lima).
10Está lançado, assim, o desafio. Estamos abertos para acolher contribuições de outros geógrafos e de profissionais de áreas afins para os próximos números da revista.
OS EDITORES
Para citar este artigo
Referência eletrónica
«Editorial», Geografares [Online], 1 | 2000, posto online no dia 01 junho 2000, consultado o 21 junho 2025. URL: http://journals.openedition.org/geografares/23687
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