Leandro Dias. Geopolítica Ambiental: A construção ideológica do Desenvolvimento Sustentável (1945-1992)
Leandro Dias. Geopolítica Ambiental: A construção ideológica do Desenvolvimento Sustentável (1945- 1992). Rio de Janeiro: Autografia, 2019.
Texto integral
1Livro que é o resultado da publicação da tese de doutorado defendida, em 2011, no Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP e que recebeu Menção Honrosa do Prêmio Capes em 2012. O autor desvenda no livro o processo da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento – CNUMAD e o Fórum das Organizações não Governamentais e Movimentos Sociais – Fórum Global, em 1992. Leandro Dias, contribui, assim, para revelar os meandros da Conferência e da Agenda dela resultante, analisando, dentre outras coisas, a geopolítica mundial do desenvolvimento sustentável. Leitura indispensável para compreender como os grandes eventos alteram a dinâmica dos processos sociais e socioambientais.
2Como escreve em seu prefácio Arlete Moysés Rodrigues, o livro « [...]elucida, de forma clara e contundente, as matrizes discursivas presentes nos dois eventos, além de demonstrar como as propostas da sociedade civil não foram incorporadas na Agenda 21. Demonstra como uma "efemeridade" tem conexões políticas com o antes, as teias que marcam o durante e o depois em políticas nacionais e em novas agendas internacionais. Desvenda as relações intrínsecas das Conferências da ONU no espaço e no tempo. Leitura fundamental para compreender a dinâmica da articulação mundial com a inclusão do sustentável nas propostas de desenvolvimento que, na lógica da produção, reprodução e consumo do espaço, não se alteram. »
3Uma frase do próprio autor, Leandro Dias, resume a obra: « O objetivo central do livro é o de realizar uma análise da trajetória da concepção de desenvolvimento sustentável, a partir do que aqui intitulamos Geopolítica Ambiental, que pode ser sintetizada como o processo contemporâneo de disputa dos Estados-maiores pelo controle da natureza-território. Dentro de um grande amálgama que pode ser entendido como a relação sociedade-natureza na contemporaneidade, este estudo está situado no debate sobre a construção e celebração da ideologia do desenvolvimento sustentável em caráter global. Neste sentido, o foco na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio de Janeiro, 1992) é primordial, tanto pela celebração por meio de seus documentos – especialmente a Agenda 21 – quanto pela ilusão de comunhão de interesses por meio de um verdadeiro simulacro de consenso entre centro e periferia, diplomatas e movimentos sociais, ricos e pobres. »
4O livro, publicado em 2019, vem em bom momento para se fazer um balanço do que ocorreu nas últimas décadas, pois justamente atravessamos um período onde está colocado de forma central, 30 anos depois da Conferência do Rio de Janeiro, o debate sobre os impasses onde nos levam o capitalismo e, em particular, o capitalismo neoliberal. A espoliação de meio, no sentido pleno da palavra, tanto social quanto ambiental, associada a uma ordem discursiva que procura vender a ideia de que a técnica tudo pode e, que, portanto, por meio das engenharias tanto tecnológicas (o que alguns autores chamam de propostas de terra-formação, de nova formação da terra, enviando, por exemplo, refletores da luz do sol no espaço para diminuir a temperatura da Terra, e com isso produzindo mais poluição, etc.) quanto financeiras (capitalismo verde, especulação em bolsa com os « créditos de carbono » que autorizam empresas a emitirem poluentes comprando títulos emitidos por outras empresas que seriam menos poluidoras), poderíamos sair do processo de mudanças climáticas e de destruição dos ecossistemas e das sociedades que os mantém.
5Um exemplo flagrante, dentre muitos outros, do que dissemos, é atual pandemia da COVID-19 que tem provavelmente sua origem, como inúmeros outros patógenos nas últimas décadas, na devastação das florestas e no cada vez menor território de vida das diferentes espécies animais que acabam entrando em contato com os seres humanos e transmitindo doenças contra as quais não temos defesas imunológicas e, também, os animais tampouco a tem em função da mutação de seu meio. Da mesma forma, os ataques e a guerra social e ambiental levados adiante pelo governo federal brasileiro atual, contra o próprio povo em nome do neoliberalismo, nos alertam para a urgência de compreender e agir diante das inúmeras estratégias políticas e geopolíticas a nível nacional e global. Para tal é importante colocar em evidência o discursos relativos ao « desenvolvimento sustentável » que, transformado em nome comum, apropriado pelas classes dominantes e pelo capitalismo global, somente têm a função de recobrir o real sentido do que se vive com o objetivo de obter mais lucro, pois o preceito da « concorrência pura e perfeita » enquadrada pelo Estado que lhe serve como coadjuvante, permite tratar a natureza como pura mercadoria e a sociedade como sendo composta de indivíduos sob a forma de pequenas almas (ou pequenas unidades individuais) com seus próprios interesses empreendedores. O que no fundo se revela uma auto-exploração de todos os momentos e uma colonização da subjetividade dos sujeitos, nos colocando no caminho da destruição das solidariedades e da ainda relativa busca constante da igualdade econômico-social.
Para citar este artigo
Referência eletrónica
Cláudio Luiz Zanotelli, «Leandro Dias. Geopolítica Ambiental: A construção ideológica do Desenvolvimento Sustentável (1945-1992)», Geografares [Online], 33 | 2021, posto online no dia 15 dezembro 2021, consultado o 06 dezembro 2023. URL: http://journals.openedition.org/geografares/3592
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