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Capa MIDAS 14

Capa MIDAS 14

Dossiê R - Parede-espelho (estudo). Exposição “R-Humor” (2020), de Catarina Simão    

 

Descrição

A escolha de obras de artistas para as capas da MIDAS visa o prolongamento da discussão sobre museus, sobre os seus modos de existência e sobre como são percebidos ou vividos na contemporaneidade sob o olhar dos artistas contemporâneos. Assim, a imagem que faz a capa do 14.º número mostra um estudo para o dossiê R, a peça central da exposição “R-Humor” da artista e investigadora Catarina Simão, nas Galerias Municipais – Galeria Avenida da Índia (Lisboa), em 2020. Segundo a artista:

«O dossiê R mostra 245 fotografias representando a arte makonde existente nos museus em Moçambique. A grande maioria das fotografias são do Museu de Etnologia de Nampula e, uma pequena parte, da secção dedicada à Etnologia do Museu de História Natural (Lourenço Marques, hoje Maputo). Em 1961, os antropólogos Jorge Dias e Margot Dias requereram a produção destas fotografias através do Instituto de Investigação Científica de Moçambique. Os antropólogos portugueses teriam em vista a preparação do «V Volume» monográfico da expedição ao Norte de Moçambique, que iria concluir a sua obra publicada entre 1964 e 1970, “Os macondes de Moçambique”, mas que permaneceu apenas com quatro volumes. Sobre o «V volume» muito pouco se sabe. Paradoxalmente, com a reabilitação destas 245 fotografias para a exposição R-Humor, ficamos a conhecer a parte da expressão escultórica makonde que seria descartada, caso este volume fosse concluído por M. Dias. Em 1991, estas 245 fotografias foram doadas ao curador G. Blesse, e são hoje pertença do Museu Grassi de Etnologia de Leipzig, na Alemanha, de onde a artista as recuperou em 2019. Em versão «parede-espelho», as mais icónicas representações do branco são evidenciadas e colocadas num mural de 15 metros, bem à altura dos olhos dos visitantes. Estas imagens exaltam a influência das Missões Católicas, assim como a figura transversal do «assimilado». À semelhança de outros exemplos onde o branco é apresentado de maneira caricatural também aqui a representação passa pela incorporação. As representações ocidentais clássicas mostram o colonizado como um Outro, um objeto a ser contemplado de longe. Nesse distanciamento existe um poder que não passa despercebido na forma como cada peça é fotografada. Apesar destas fotografias terem sido creditadas a M. Manarte, chefe do Departamento de Fotografia do Instituto de Investigação Científica de Moçambique, a pesquisa elaborada para a exposição R-Humor desvendou que o fotógrafo terá sido outro: «um funcionário africano, assimilado, que exerce neste instituto as funções de fotógrafo». O funcionário negro a trabalhar no Instituto foi Sebastião Langa, o fotógrafo moçambicano que ganhou relevo depois da independência de Moçambique, com uma obra que refletia um misto indeterminado de influências urbanas, muitas coloniais.» (fonte: Catarina Simão)

 

Catarina Simão (n. Lisboa 1972) é artista e investigadora. Na exposição “R-Humor” (2020), na Galeria da Avenida da Índia (Lisboa), a artista trabalhou o modo como a persistência das fontes cegam face à necessidade de imaginar a sua sobredeterminação; e, em contrapartida, o silenciamento, o diferimento e o humor, aparecem como formas de relação possíveis face à incompletude do arquivo. Mais sobre a artista em: www.catarinasimao.com       

Créditos
© Catarina Simão. Conceção da capa de Elisa Noronha Nascimento
Direitos de autor

Apenas o texto pode ser utilizado sob licença . Outros elementos (ilustrações, anexos importados) são "Todos os direitos reservados", à exceção de indicação em contrário.

Ficheiro original
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