2A parceria LabNAU e CIAC, a qual ocorre desde 2015, vem proporcionando várias trocas acadêmicas por meio da realização de eventos, reuniões e trabalhos de campo em ambas as cidades enfocadas, a saber: Lima e São Paulo. Foram realizados, até o momento, 20 encontros: a primeira edição foi realizada via videoconferência, em 24 e 25 de maio de 2016; a segunda edição, “A etnografia urbana a serviço da investigação”, ocorreu também com apresentações por videoconferências e contou com a presença de pesquisadores do LabNAU em Lima, entre os dias 25 e 27 de maio de 2017. Pesquisadores do LabNAU ministraram de forma presencial, em dezembro de 2019, oficinas de formação em pesquisa etnográfica para estudantes da PUCP, ainda pouco familiarizados com o método etnográfico. Nos dias 29 e 30 de outubro de 2020, foi realizado de forma online o Seminário Binacional Etnografia Urbana e Centralidades; e, entre setembro e outubro de 2021, ocorreu – novamente de forma remota – o seminário Metrópolis em Clave Comparada: Lima & São Paulo. Cabe destacar que a presença de pesquisadores do LabNAU em alguns destes eventos permitiu a realização de algumas caminhadas etnográficas pelas centralidades de Lima para observar situações, relações e apropriações citadinas dos espaços urbanos da capital peruana, articulando assim os exercícios etnográficos com as questões teóricas e metodológicas debatidas ao longo dos encontros.

3Para além dos eventos e encontros supracitados, um dos desdobramentos dessa parceria é o projeto La dimensión social de las centralidades en las metrópolis de América Latina: el caso de Lima, realizado entre 2019 e 2022, que tem como objetivo abordar, através da etnografia urbana, as dinâmicas sociais, territorialidades e desigualdades em estudos comparativos das centralidades de Lima e em contraponto às centralidades de São Paulo.

4Para consolidar algumas das frentes de pesquisa desenvolvidas ao longo do projeto, a programação do seminário realizado em julho de 2022 propôs três dinâmicas distintas, porém complementares: apresentação de resultados parciais das investigações realizadas em Lima e em São Paulo, exercícios etnográficos nas centralidades paulistanas, além da previsão de produtos a serem concretizados a partir da finalização da pesquisa. O evento contou com a presença dos coordenadores Pablo Vega Centeno Sara Lafosse e José Guilherme Magnani, além de demais pesquisadores do CIAC/PUCP (Manuel Dammert Guardia, César Ponce e Tarik Tavera), do LabNAU/USP (Enrico Spaggiari e Yuri Basicchetto), do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de São Paulo (Alexandre Barbosa Pereira) e do Núcleo Citadino da Universidade Estadual de Montes Claros-MG (Giancarlo Marques Carraro Machado; Nayara Alvim Machado; Mariana Fernandes Teixeira e José Vitor Carignato).

5O primeiro dia do seminário, em 18 de outubro de 2022, ficou marcado pela apresentação dos resultados parciais das pesquisas sobre centralidades em diferentes contextos. A reunião para tal fim ocorreu nas dependências do prédio das Ciências Sociais, no âmbito da USP, a partir das 14 horas. Reunidos ao redor de uma ampla mesa, os pesquisadores detiveram-se, primeiramente, às reflexões sobre os espaços públicos das centralidades financeiras. Enrico Spaggiari abordou as apropriações cotidianas em áreas notadamente enobrecidas de São Paulo, quais sejam, Vila Olímpia e Berrini, ao passo que Pablo Lafosse, de igual maneira, trouxe reflexões a partir de observações realizadas por sua equipe na região de San Isidro, em Lima. Em seguida, a discussão enfocou as particularidades dos centros originais, bem como as disputas em torno das atividades comerciais. Yuri Bassichetto evidenciou a complexidade do centro de São Paulo, marcado por práticas díspares, por diversas camadas de memórias e pertencimentos, por toda sorte de conflitos cotidianos. Manuel Guardia revelou, da parte de Lima, dinâmicas relacionais e apropriações espaciais ocorridas na região de Gamarra, sendo esta notadamente caracterizada pelo comércio popular formal e informal.

6Após um breve intervalo, Giancarlo Machado ficou responsável por apresentar, sob um prisma sociológico, os desdobramentos das centralidades paulistanas, além dos embates entre diversas associações e instituições que vêm direcionando os rumos da produção e reprodução das paisagens de poder (centro tradicional; centro paulistano; Vila Olímpia, Berrini e Faria Lima). As explanações tiveram como mote certas pesquisas já realizadas, como as de Heitor Frúgoli Jr. (2000) e Mariana Fix (2001). Por fim, no sentido de orientar os exercícios etnográficos subsequentes, foram estabelecidos os trajetos a serem percorridos pela equipe de pesquisadores nos limites de cada centralidade.

7Nos três dias seguintes, realizamos caminhadas em diferentes contextos paulistanos: terça-feira, 19 de julho, no centro tradicional, pelas regiões do Arouche, Praça da República, Vale do Anhangabaú; quarta-feira, 20 de julho, no bairro da Vila Olímpia, aqui entendida como principal centralidade financeira da cidade; quinta-feira, 21 de julho, no centro comercial, abrangendo Mercado Municipal, rua 25 de Março e bairro da Liberdade.

8O último dia do seminário, na tarde de sexta-feira, 22 de julho, foi destinado à troca de experiências entre os pesquisadores a partir dos exercícios etnográficos realizados nos três dias anteriores. Durante o encontro, realizado no Estúdio Ceda el Paso na Galeria 7 de Abril, cada participante compartilhou suas principais impressões obtidas durante as caminhadas. Em seguida, a fim de conectar com a questões da pesquisa, problematizamos as peculiaridades de cada centralidade paulistana, bem como as contrastamos com aquelas identificadas em Lima pelos pesquisadores peruanos. Após este momento, partimos, então, para o alinhamento dos próximos passos do projeto e também para a definição dos produtos a serem alcançados: produção deste dossiê na Ponto Urbe, publicação de artigos em periódicos internacionais; organização de uma coletânea com capítulos escritos por pesquisadores/as brasileiros/as e peruanos/as; além da organização de mais um evento, desta vez na capital peruana, em novembro de 2022, a fim de dar desdobramentos às discussões acerca das centralidades de São Paulo e de Lima.

9O dossiê da presente edição da revista Ponto Urbe, primeiro produto textual deste projeto interinstitucional, reúne textos escritos por pesquisadores/as brasileiros/as e peruanos/as, com base nas observações e descrições das caminhadas realizadas durante o seminário "Lima-São Paulo: las centralidades como espacio habitado" e de outros exercícios etnográficos realizados pelo LabNAU ao longo de 2022, como preparação para o evento. Acrescidos de uma introdução e breves considerações finais, os textos buscam, a despeito de um menor investimento analítico, valorizar um formato textual tradicional dentro do métier antropológico: o relato de campo.

10Os relatos que compõem este dossiê abordam, a partir de diferentes perspectivas das Ciências Sociais e da Arquitetura, questões de ordem teórico-metodológica e temas bastante diversos relativos à Antropologia Urbana (processos de urbanização, usos da cidade, segregações, relações de poder, resistências, sociabilidades, desigualdades sociais, entre outras tantas inquietações), sempre orientados pela diversidade de olhares etnográficos sobre os espaços urbanos contemporâneos.

11Por fim, gostaríamos de agradecer aos professores Pablo Vega Centeno e Manuel Dammert Guardia do Centro de Investigación de la Arquitectura y la Ciudad (CIAC) e aos estudantes da PUCP pela parceria e promoção de importantes espaços de interlocução. Afinal, esta pequena coletânea de textos é resultado de um projeto de intercâmbio coletivo e compartilhado entre pesquisadoras e pesquisadores interessados em compreender, a partir de perspectivas interdisciplinares, as temáticas e dinâmicas urbanas dos contextos metropolitanos latino-americanos.

12Boa leitura a todes! Buena lectura a todos y todas!