Navegação – Mapa do site

InícioNúmeros31Dossiê "Estéticas engajadas e cid...ArtigosPráticas culturais juvenis e a ci...

Dossiê "Estéticas engajadas e cidade: reflexões sobre ativismos, sociabilidades e representações políticas num mundo em crise"
Artigos

Práticas culturais juvenis e a cidade como locus de ação política e disputa de sentidos sobre o espaço público

Youth cultural practices and the city as a locus of political action and public space meanings dispute
Letícia Oliveira Feijão Galvão e Frank Nilton Marcon

Resumos

Neste artigo investigamos como a cidade pode ser um lócus de ações e disputas por parte de certos grupos juvenis. Partimos da hipótese de que os jovens têm fortemente construído, pelo menos nas últimas duas décadas, estratégias de comunicação política através dos espaços das cidades, manifestando-se através da ocupação do espaço público, da produção artística e da adesão a determinados estilos de vida. Em Aracaju, capital do estado de Sergipe, no Brasil, alguns grupos que atuam dessa forma são vinculados ao punk e ao hip hop, ao slam poetry e à prática do skateboarding, entre outras. Os métodos utilizados nas pesquisas que originaram este artigo foram a observação direta, a realização de entrevistas semiestruturadas com jovens praticantes de tais expressões e envolvidos em coletivos juvenis, seguida pela análise interpretativa coligida com a bibliografia já existente sobre o tema. Concluímos que alguns espaços têm se tornado lugares de construção de estratégias e táticas (Certeau, 2014) coletivas para a reivindicação do direito ao debate público sobre a cidade, a partir de várias frentes de atuação estético-política.

Topo da página

Notas da redacção

Versão original recebida em / Original version 25/02/2023

Aceito em / Accepted 01/05/2023

Texto integral

Introdução

1A cidade é um espaço de confluência de diversas práticas culturais registradas pela literatura socioantropológica. Podemos tomar como ponto de partida as produções clássicas de Simmel (1900) sobre as novas configurações de sociabilidade dos centros urbanos europeus no início do século XX, os estudos de Foote Whyte (2005) sobre grupos de imigrantes nas esquinas de Boston, que já envolviam em particular a presença dos jovens, assim como o estudo de Frederic Thrasher (2013) sobre as gangues de Chicago, nos anos 20. Nos anos 60 e 70 surgem as análises dos Cultural Studies sobre as subculturas juvenis nas cidades inglesas, a partir de Hall e Jefferson (2006), que influenciaram os estudos sobre os múltiplos estilos de vida nas grandes cidades. Em particular, para este artigo, destacamos tal influência nos estudos sobre juventudes ibero-americanas dos anos 1990 e 2000, através de autores como Abramo (1994), Arce (1999), Feixa (1998), Magnani (2002; 2005), Pais (2003), Reguillo (2003), Velho (2013), entre outros.

2As particularidades da vida urbana e as juventudes aí envolvidas foram e continuam sendo um tema de frequente inquietação para alguns cientistas sociais contemporâneos tanto no Brasil (Aderaldo, 2013; Diógenes, 2020; Marcon, 2018; Pereira, 2020, entre outros), quanto em Portugal (Campos, 2007; Ferreira, 2008; Aderaldo; Raposo, 2016, entre outros), entre os quais a dimensão das desigualdades sociais, da precarização da cidadania, das relações de poder e dos usos da cidade como espaço de enfrentamento público, por parte das juventudes, têm sido abordados com alguma recorrência. O objetivo deste artigo é analisar como certas práticas culturais juvenis contemporâneas têm adquirido características políticas de reivindicação e de agência sobre a cidade e seus usos, tensionando o debate sobre os sentidos do público.

3Lefebvre (2011), Harvey (2014), Delgado (2019), Proença Leite (2002; 2007; 2008), entre outros, já demonstraram como as cidades se tornaram espaços regrados, controlados, planejados pela lógica do mercado e do grande capital, destacando as influências dos interesses do privado sobre o público; o que não ocorre sem embates e sem tensões. As cidades contemporâneas são terrenos de análises interessantes para observarmos como diferentes atores têm se articulado e movimentado em torno de tais disputas (Raposo, 2015), como é o caso, por exemplo, das diferentes táticas de intervenção estética no espaço urbano como forma de expressão política e agência dos jovens nas cidades.

4No caso deste artigo, em uma perspectiva de entendimento do fenômeno em escala macro, dialogamos com outros estudos já realizados sobre a relação entre juventudes, cidades e espaços públicos, interessados em analisar como as juventudes têm se colocado nesse tensionamento, de um ponto de vista também geracional. Estamos ainda interessados em uma perspectiva micro ou localizada, na forma como tal fenômeno ocorre a partir da cidade de Aracaju, capital do menor estado do Brasil, localizada no nordeste do país, tendo uma população metropolitana que não ultrapassa 1 milhão de habitantes, e que viveu um fenômeno de explosão demográfica nas últimas duas décadas, com presença significativa de jovens, principalmente residindo nas periferias da cidade1.

5Algumas pesquisas, que vêm sendo realizadas nos últimos anos em Aracaju, têm demonstrado correlações interessantes entre os usos do espaço urbano por parte de grupos juvenis que se constituem informal ou formalmente como coletivos (Wanderley, 2008, Silva, 2011; Almeida Neto, 2012; Marcon; Souza Filho, 2013; Freitas, 2018; Silva, 2020; Barros, 2020; Galvão, 2021). Desde pelo menos a última década, espaços e equipamentos públicos urbanos como calçadas, parques, praças, ruas, viadutos e orlas, à medida que têm surgido com o crescimento da infraestrutura urbana, têm se tornado territórios de produção de práticas e disputas de sentidos juvenis sobre o direito à cidade (Santos, 2017; Fusaro, 2018). Muitas destas práticas entrelaçam formas de estar e formas de sociabilidade às linguagens e produções artísticas que evidenciam diferentes modos de ocupação do espaço público, em uma correlação cada vez mais crescente entre a dimensão estética e política de certas agências juvenis, como já fora sugerido por Campos (2007), Aderaldo (2013), Raposo (2016), Marcon (2019), entre outros.

6No primeiro tópico deste artigo, Juventudes, estetização e ação política na contemporaneidade, apresentamos a discussão sobre juventudes e a compreensão de como certas modalidades de ação política norteiam nossa análise e entendimento sobre agências estetizadas (Marcon, 2018; 2019). No segundo tópico, Culturas juvenis disputando a cidade, introduzimos a discussão sobre as dinâmicas de ocupação da cidade pelas culturas juvenis em Aracaju a partir de produções voltadas a essa temática. No terceiro tópico, Coletivos juvenis, estilos de vida, ocupações e ressignificações do espaço público, falamos sobre os variados grupos de jovens em Aracaju que articulam arte, estética e política como forma de reivindicar pautas que consideram relevantes, e como essas práticas se relacionam intimamente com o urbano como espaço público.

Juventudes, estetização e ação política na contemporaneidade

7Consideramos “juventude” como uma categoria social e política construída historicamente por formas de representações sobre o que é ser jovem, implicadas pelo entendimento de instituições médicas, jurídicas e sociais de saber, bem como construída por sentidos de identificação e diferença entre os sujeitos que se denominam ou são denominados como jovens. A noção de juventude pode dizer tanto sobre a condição de uma fase do ciclo da vida que se refere à transição entre a infância e a vida adulta, ou seja, o ser jovem e o que isso representa socialmente, quanto sobre os sujeitos que coletivamente se veem e são vistos como tais. É importante destacarmos que entendemos serem diversas as variáveis que se interconectam quando pensamos as juventudes como plurais, fundamentalmente enquanto definidas pela adesão a certos estilos de vida, visões de mundo e concepções do que significa ser (e estar) jovem, independente da parametrização etária das legislações e das instituições.

8Dessa forma, a noção de juventude que tomamos aqui é aquela interpretada pela literatura socioantropológica como uma categoria social marcada por sua transitoriedade e seu frequente estado de tensão com as estruturas pré-estabelecidas no mundo dos adultos, incluindo as formas de representação e de institucionalização do que é ser jovem. Além disso, em virtude das mudanças vividas na contemporaneidade - como a globalização, o descentramento do sujeito moderno e o surgimento de novas identidades culturais (Hall, 2019), não há uma única maneira possível de ser jovem. Ao falarmos sobre juventudes, precisamos considerar as diversas intersecções entre esses grupos sociais e suas variáveis como gênero, classe e raça/etnia. O que torna pertinente também falarmos sobre uma série de posições de sujeito que são assumidas a partir de determinadas formas de se viver essa fase da vida, como as identidades e culturas juvenis.

9Nesse sentido, há elementos que se tornam comuns a grupos juvenis de diversos contextos: a construção de modalidades de comunicação política e a adoção de diversas práticas culturais - ou, como posto por Foracchi (2018, p. 18) uma “estilização da inquietação política”, que atinge grupos juvenis dos mais variados estratos e segmentos sociais. Podemos analisar esse fenômeno a partir da ótica dos estilos de vida, já que consideramos que atualmente há uma crescente aproximação entre as múltiplas formas de expressão estética das juventudes com as pautas que esses grupos consideram relevantes em termos políticos, como desenvolveremos adiante.

10As juventudes como grupos de estilo já foram estudadas pelos Cultural Studies de Birmingham nos anos 70. Dick Hebdige (1979) foi quem melhor argumentou em torno da ideia de que as culturas juvenis podiam ser entendidas como culturas de estilo, fazendo conexões entre o consumo de certa estética musical, de roupas e linguagens e o senso de identificação social entre os adeptos de uma “subcultura”. O que posteriormente, e dadas algumas particularidades sobre o entendimento do conceito aplicado às juventudes, foi denominado por Michel Maffesoli (1998) de tribos urbanas, ao tomar os estilos de vida como constituidores de novos fenômenos de agregação social entre os jovens nas cidades. Ou seja, há um destaque para a concepção de que a construção de afinidades coletivas passaria também pelo consumo cultural e sua expressão compartilhada de gostos e sensações. Como parte deste entendimento sociológico, as dinâmicas de consumo passaram a ser percebidas como agências de negociação de sentidos (Baudrillard, 1995; Canclini, 1997; Certeau, 2014), surgindo a percepção de que certos estilos de vida são caracterizadores de culturas juvenis e identificados pelo modo de atribuir significado ao que os jovens usam, ouvem, assistem, consomem e, em geral, fazem de si próprios.

11De acordo com Mike Featherstone (1995), a noção de estilo de vida “no âmbito da cultura do consumo contemporânea denota individualidade, autoexpressão e uma consciência de si estilizada” (Featherstone, 1995, p. 119), embora também expresse um sentido social e coletivo de identificação e de diferenciação que agrega e repele os indivíduos entre si. Featherstone (1995), ainda nos anos 90, também deu início a uma discussão sobre o crescente processo de estetização do cotidiano, fenômeno que foi retomado posteriormente por diferentes autores, entre os quais Gilles Lipovetsky e Jean Serroy (2015) que, no livro A estetização do mundo: viver na era do capitalismo artista, argumentaram que durante o século 20, e especialmente nos últimos anos, o capitalismo e a arte entraram em um estado simbiótico que originou um “regime hiperindividualista de consumo” sob o qual vivemos. Um regime de produção de agências simbólicas hiperestetizadas, através das quais os indivíduos interagem mediados por atos de consumir/produzir.

12É a partir de tais análises que inferimos sobre o caráter estetizado dos estilos de vida e da sua relevância no cenário urbano, sobretudo no recorte social/etário das juventudes, que, no presente, se inserem em múltiplas dinâmicas e formas de usos e ocupações dos espaços da cidade e do ciberespaço (pela expressão e comunicação digital através da internet), nos quais os jovens se juntam por critérios comuns de linguagem, de percepções de mundo e de estilos de vida, exercendo modos de interação, de comunicação e de agência política, mediadas por inúmeros repertórios simbólicos, advindos das técnicas, das práticas e do conhecimento artístico, entendidos aqui como expressões de agências estetizadas (Marcon, 2019). Tais dinâmicas de atuação apresentam um teor político, que pode ser observado nas diversas práticas que compõem as culturas urbanas e juvenis, como já estudadas por Magnani (2005), Campos (2007), Ferreira (2008), Aderaldo (2013), Aderaldo e Raposo (2016), Marcon (2018), Tella (2020), Pereira (2020) e outros.

13Movimentos culturais como o punk, o hip hop e suas ramificações, e práticas culturais como a tatuagem, a grafitagem, o skateboarding, assim como os movimentos juvenis ambientalistas, negros e feministas, são exemplos de algumas dessas expressões em nível local e global. Porém, embora também existam diferentes dimensões da vida cotidiana em que estas expressões estético-políticas estão presentes, interessa-nos aqui pensar sobre tal relação com o urbano, e em que medida as disputas e produções de sentido sobre o direito a experimentar, entender, ocupar e estar na cidade fazem surgir novos sujeitos a reivindicar e a recriar as concepções de espaço público e as dinâmicas políticas da sociedade.

  • 2 O Grupo de Estudos Culturais, Identidades e Relações Interétnicas (GERTs) vem estudando as culturas (...)

14Propomos apresentar e analisar como esse fenômeno pode ser percebido na região metropolitana de Aracaju, por estarmos, enquanto grupo de pesquisa2, observando, acompanhando e analisando, há mais de dez anos, as dinâmicas da atuação dos jovens a partir de suas diferentes modalidades de agenciamento nesta cidade. A seguir, traremos alguns dados empíricos de duas pesquisas mais recentes, que realizamos nos últimos quatro anos com coletivos juvenis, nas quais observamos e analisamos, entre outras questões, as particularidades das suas formas de ocupar, de experimentar, de comunicar, de interagir e de agir sobre a cidade.

  • 3 A pesquisa de Iniciação Científica teve como título “Juventudes, Estilos de Vida e Sentidos da Tran (...)

15Os dados empíricos daí advindos foram obtidos a partir de entrevistas e da observação direta realizadas entre os anos de 2019 e 2023, no âmbito de duas pesquisas. Uma de Iniciação Científica3, sobre juventudes e políticas públicas, que nos permitiu obter o contato inicial com alguns dos coletivos juvenis aqui citados, e outra de Trabalho de Conclusão de Curso que depois se estendeu para a realização de uma Dissertação de Mestrado já concluída, a partir da qual foi possível realizar uma observação direta junto aos coletivos citados, e realizar entrevistas em profundidade com alguns dos sujeitos aqui destacados. Ou seja, os dados aqui analisados são oriundos de outras duas pesquisas e envolveram entrevistas gravadas, registros visuais e interlocução com os jovens através da observação participante. Em ambas as pesquisas, os interlocutores estiveram cientes e de acordo com sua realização e divulgação.

Culturas juvenis disputando a cidade

16Recuperando a bibliografia recente de pesquisas realizadas sobre o tema em Aracaju, percebemos uma diversidade de práticas culturais juvenis que tiveram ou têm a cidade como principal palco de manifestação. Nesse sentido, retomamos trabalhos anteriores, como as contribuições já trazidas por: Wanderley (2009), que pesquisou os headbangers e suas formas de sociabilidade através da realização de festas e de encontros em parques da cidade; Silva (2011), que investigou o que denominou de “circuitos undergrounds”, suas concepções éticas e estéticas e suas práticas de ocupação do urbano, especialmente sobre a praça da Catedral, localizada no centro de Aracaju; Almeida Neto (2012), que se aprofundou nas formas de ocupação cotidiana do bairro Siqueira Campos e sua principal praça, através do lazer e da pluralidade de estilos de vidas juvenis associados à música; Fusaro (2018), que estudou as dinâmicas de ocupação da cidade por parte de jovens que realizavam eventos de arte e cultura embaixo de viadutos, em parques, praças e calçadas, dando novos sentidos aos seus usos; Santos (2017) que, de modo similar, estudou as formas de contestação política e reivindicação do direito à cidade a partir de coletivos e movimentos sociais que produzem eventos artísticos improvisados e de microfone aberto em diferentes vias urbanas; Freitas (2018), que adentrou o universo dos encontros de rap, break e grafitti realizados pelas mulheres na região metropolitana, apontando para as disputas étnico-raciais e de gênero em eventos de hip-hop realizados na periferia; Barros (2020), que analisou as estratégias de resistência feminina a partir do grafitti, em espaços urbanos hegemonicamente hostis às mulheres; e Marcon e Souza Filho (2013) que estudaram as diferentes formas de sociabilidade, resistência, visibilidade e ativismo político do movimento hip hop através das suas formas de expressão e ocupação de diferentes equipamentos urbanos na cidade, como espaços de encontro e de realização de eventos. Embora todos estes trabalhos mencionados apresentem suas respectivas particularidades, juntos contribuem para sustentarmos o argumento central deste artigo sobre a relevância que as linguagens estéticas têm adquirido como meio e forma das agências juvenis na produção dos sentidos e usos sobre a cidade.

  • 4 Todas as entrevistas foram realizadas de maneira consentida e voluntária, de modo que todos os inte (...)

17No ano de 2020, iniciamos as atividades do projeto de pesquisa “Juventudes e políticas públicas: protagonismos versus precariedades” e demos início, dentre outras tarefas, ao recolhimento de uma série de dados empíricos sobre coletivos juvenis formais e não formais existentes em Aracaju, mapeando, em um primeiro momento, 19 coletivos envolvidos com diferentes pautas sociais. A maior parte desse mapeamento se deu a partir de redes sociais digitais e pela indicação de alguns interlocutores primeiramente contactados, configurando metodologicamente o que alguns autores entendem por técnica bola-de-neve (Gil, 2021), como forma de acesso a interlocutores que podem ser representativos de um mesmo fenômeno. Entramos em contato virtualmente e agendamos as primeiras entrevistas, estruturadas em 28 questões, de modo que pudéssemos contemplar diversas variáveis que atravessam a problemática das juventudes, como a percepção dos jovens acerca do seu conhecimento sobre disponibilidade de políticas públicas para juventudes, suas próprias ideias sobre o que significa ser jovem, o que esses sujeitos entendem como ativismo político, o que entendem por ocupar o espaço público e como e por que o ocupam4.

18A seguir, realizamos a observação direta de algumas práticas juvenis destes coletivos em determinados momentos, a partir de espaços e eventos os quais os nossos interlocutores nos informavam que iriam ocorrer ou nos quais eles diziam que iriam estar. Shows de grupos ligados ao punk e ao hip hop, e encontros promovidos em praças, calçadas, parques ou em pistas de skate foram os mais comuns. Essas situações possibilitaram a condução de conversas informais que também nos trouxeram outras formas de acesso às informações sobre os contextos culturais e políticos juvenis que buscávamos abordar.

19Após o contato com esses grupos e suas lideranças, pudemos observar como eles estabelecem suas diversas dinâmicas de reivindicação de pautas que consideram relevantes, e em que medida a cidade também é, aí, para eles, não apenas um meio, mas também um tema prioritário, o que já havia sido constatado por Marcon e Souza Filho (2013), por Fusaro (2018), Barros (2020) e Galvão (2023). Através do uso da linguagem do grafitti, da dança, da música e do vestuário e pela forma de ocupação da cidade com seus corpos, modos de expressão, registros e formas organização de encontros e eventos, tais jovens manipulam seus repertórios simbólicos como formas de empoderamento nas relações de poder e disputas políticas sobre os usos e os sentidos da cidade, provocando tensionamentos com as lógicas de poder hegemonicamente instituídas e controladas por perspectivas privatistas, mercadológicas e corporativas, como aponta a crítica de Harvey (2014).

Coletivos juvenis, estilos de vida, ocupações e ressignificações do espaço público

20A expressão estética através de equipamentos urbanos, a ocupação de praças e locais públicos da cidade para encontros ocasionais, para a realização de eventos festivos e artísticos, em consonância ou não com determinadas causas políticas, se tornaram formas de agência individuais e coletivas recorrentes que se contrapõem às formas hegemônicas sobre o entendimento e o uso dos espaços públicos da cidade. Como vimos acima, as juventudes têm ocupado o espaço público como forma de reivindicar sua participação política e de produzir suas próprias visões de mundo sobre a cidade, como também observamos através das pesquisas de campo e das entrevistas que realizamos e mobilizamos para este artigo.

21Alefake, membro do coletivo sergipano de graffiti Socorreria Arte Urbana, disse o aos autores deste artigo:

Eles [os jovens] entendem que o graffiti é uma arte da periferia, o graffiti é uma arte que dialoga com a sociedade, é uma arte que representa essa parte da sociedade que é calada, que é muda, né? Então eles veem o graffiti como uma forma de eles encontrarem um espaço de voz. [...] Eu falo dessa juventude que compra a nossa ideia, eles realmente gostam disso, sabe? Eles aprovam muito a ideia do graffiti (Alefake, 9 dez. 2020).

22A partir de suas estratégias de intervenção no espaço urbano, o coletivo Socorreria busca obter o engajamento de outros jovens para diversas questões envolvendo o debate sobre a cidade, principalmente sobre os sentidos do uso privado e do uso público dos espaços e equipamentos, ou sobre a relevância sobre os interesses individuais e coletivos de quem habita e se movimenta pela cidade. Deste modo, busca sensibilizar quem passa por tais lugares. (Galvão, 2023).

23Além disso, a slam poetry, ou apenas slam, também se faz presente em Aracaju a partir da formação de coletivos que realizam eventos públicos nos quais jovens apresentam suas próprias produções, como o Slam do Tabuleiro, o Slam das Pretas, entre outros eventos produzidos por grupos como o Poesia Marginal. A slam poetry é um tipo de batalha de poesia falada que surgiu em Chicago, nos anos 1980, e carrega influências dos poetas beatniks e do spoken word de poetas negros, como já analisado por Freitas (2020). No Brasil, os slams são frequentemente realizados de forma gratuita em praça pública, e muitas das poesias faladas nesses eventos tratam de questões como o machismo, o racismo, a LGBTfobia e outros tipos de violências enfrentadas por seus autores. De acordo com Freitas (2020, p. 1), “ao se afiliar simultaneamente aos suportes oral, visual e escrito, o slam mistura as esferas do público e do privado, do político e do pessoal.”

24A slam poetry brasileira tem a cidade como palco por excelência. Em Aracaju, os slams acontecem em espaços como a Praça Camerino, no centro da cidade, a Praça Lourival Bonfim, no bairro Santos Dumont, e a praça Horácio Souza Lima, no bairro Rosa Elze. Dessa forma, ao considerar o teor político da slam poetry a partir das pautas exploradas pelos poetas e das formas de ocupação da cidade propostas pelos coletivos de slam, concordamos com Freitas (2020) quando a autora afirma que

O centro da cidade se torna palco de dramas que são, ao mesmo tempo, pessoais e coletivos. A prática da cidadania insurgente acontece, então, no centro da pólis, na ágora, no fórum, e toma a praça, quebrando a lógica de funcionamento da cidade neoliberal, reclamando o espaço da cidade enquanto espaço de festa e manifestação, como apontava Lefebvre (2008), apropriando, ocupando e ressignificando o espaço público (Freitas, 2020, p. 13).

25Outra expressão da juventude é o movimento punk, que se insere no contexto das culturas underground da cidade, como estudado por Galvão (2023), Silva (2011) e Ribeiro (2010), cujas principais frentes de ação se associam ao anarquismo, ao movimento feminista, ao antiespecismo e ao antifascismo. Jovens punks, assim como aqueles ligados ao hip hop, se utilizam da música, da moda e das artes plásticas como modalidades de produção artística que frequentemente apresentam teor político. Na capital sergipana, jovens da cena punk organizam eventos artísticos como a ocupação da Praça da Bandeira no dia 1º. de maio e produzem vários eventos festivos como o Clandestino, que consiste na realização de shows em locais públicos de Aracaju a partir de recursos dos próprios músicos, membros da cena, e da contribuição espontânea dos espectadores. Os shows já aconteceram em locais como a Praça Camerino, na orla da praia, embaixo das pontes de concreto do Viaduto do D.I.A, que são pontos de grande fluxo e de visibilidade para transeuntes da cidade.

  • 5 Segundo o antropólogo José Guilherme Magnani (2005, p. 178), manchas são áreas contíguas do espaço (...)

26Dessa forma, o movimento punk em Aracaju possui uma série de relações de proximidade com o espaço público, que se torna o palco principal das diversas formas de manifestação da cena. A vivência na “rua”, além de constituir a história do punk em Aracaju, é vista como parte do processo de se tornar punk, como posto por alguns dos nossos interlocutores. É interessante mencionar que também há, em certas situações, alguns pontos de encontro entre as manifestações da cena punk e da cena hip hop, sendo que uma das principais formas de interação entre ambas é o skateboarding e seus pontos de encontro. A prática do skate, que consiste em transitar e elaborar manobras a partir de recursos preexistentes no espaço urbano, como bancos, batentes, corrimões e o próprio asfalto, estabelece territórios – como manchas, de acordo com Magnani5 (2005) – e traz outras perspectivas de uso dos equipamentos urbanos, que reúnem corpos, movimentos e expressões do vestuário também mediados por expressões do grafitti e das sonoridades que se misturam.

27A prática do skateboarding também pode ser considerada um estilo de vida que condensa estética, visualidade e performance a partir de uma forma específica de se ocupar a cidade. Em Aracaju, jovens skatistas se encontram em locais como as pistas Cara de Sapo, Aruana Skatepark e Mosquito Skatepark, na zona sul da cidade, e as pistas de skate da Orla do Porto Dantas e a B.I. Skatepark, na zona norte da cidade. E o deslocamento entre as pistas é facilitado pela topografia plana da cidade.

28A expressão do grafitti, os encontros de slam, os eventos punks e a prática do skate podem ser entendidos aqui como “contrausos” da cidade, no sentido como o conceito é trabalhado por Leite (2007). O conceito diz respeito às práticas de usos do espaço urbano de formas dissonantes das finalidades originalmente pensadas por aqueles que o planejam e detêm poder sob seu ordenamento, de modo que significa “não apenas subverter os usos esperados de um espaço regulado como de possibilitar que o espaço que resulta das ‘estratégias’ se cinda, para dar origem a diferentes lugares” (Leite, 2007, p. 215) de sentido para os usuários que intervêm sobre ele mobilizando agências de expressão estética.

  • 6 De acordo com o perfil do coletivo no Instagram, o nome Macacore também é uma sigla para “Movimento (...)
  • 7 O hardcore, ou hardcore-punk, pode ser entendido como um subgênero musical e estilístico circunscri (...)

29Além de uma quantidade considerável de skatistas associados ao punk e ao hip hop em Aracaju, cabe mencionar as contribuições do Movimento Macacore: um coletivo6 cujo nome faz uma referência direta ao bairro Bugio - cujo nome, por sua vez, diz respeito ao macaco bugio, parte da fauna local - localizado na periferia de Aracaju, onde o Macacore realiza suas principais ações e eventos. Essas ações, aliadas à simbologia construída pelos articuladores do movimento, evocam um sentido de identidade territorial (Lima, 2011) que, aliado ao hardcore7, mobiliza novas formas de ocupar a cidade a partir da arte. Questões como essa, referentes às relações entre o punk e a periferia, foram levantadas por alguns dos nossos interlocutores:

[...] O punk tá muito na rua nesse aspecto também, de tá fazendo show, de tá andando pela rua em grupo, e isso tá sendo uma coisa de ocupar o espaço também, de tá ali, sabe, de existir naquele lugar. E pra muita gente que se acostuma a ouvir um punk feito por gente do subúrbio, de classe média, e tal talvez seja esquisito ouvir isso, mas punk é uma coisa da periferia. Porque sempre tem punk na periferia. Em todas as periferias têm punk, toda periferia tem uma banda de punk, toda periferia tem alguém que ouve punk. E nasceu na periferia, tá ligado? É um movimento periférico (Entrevista com Afonso Ramalho, 33 anos, 2022).

30Como já dito por Diógenes (2020, p. 43, grifos da autora), “o escape dos rótulos e a confabulação de modos outros de estar, intervir e até mesmo recriar espacialidades na cidade, ou interzonas, é o que parece mobilizar as juventudes contemporâneas” - o que nos leva a inferir que há uma relação entre os jovens e a cidade mediada por apropriações simbólicas dos espaços urbanos, que os tornam parte da linguagem e das suas agências.

31De acordo com Leite (2008, p. 194), essas apropriações podem ser entendidas como

demarcações de fronteiras físicas e simbólicas que circunscrevem determinados espaços como lugares. Os lugares são necessariamente identitários: trazem a marca dos processos sociais de identificação que delimitam acessos e usos, atribuindo sentido de pertencimento. A experiência urbana contemporânea é rica em demarcações que estruturam o que Guattari (1985) denominou “territórios da subjetivação” (Leite, 2008, p. 194).

32Nesse sentido, podemos entender as práticas de ocupação do espaço público citadas neste artigo como parte um processo de construção de “lugares” que reivindicam narrativas identitárias juvenis, bem como “táticas” de ressignificação desses espaços e de demarcação socioespacial da diferença. Segundo Leite (2002, p. 122), a partir de uma leitura de Michel de Certeau e Sharon Zukin, as “táticas” seriam “movimentos heterogêneos e imprevisíveis em espaços que não lhes são ‘próprios’”. Segundo o próprio Certeau (2014, p. 94), “a tática não tem por lugar senão o do outro”: é um movimento realizado por sujeitos à margem do poder, que agem no espaço público a partir dos seus próprios mecanismos de intervenção.

33Também podemos inferir que essas práticas culturais, como o graffiti, o skate e a ocupação de praças por grupos de slam e do movimento punk estabelecem o que Tella (2020) entende por “conexões urbanas”. De acordo com o autor, que estudou o movimento hip hop nas cidades de São Paulo e João Pessoa,

As conexões urbanas se configuram apoiadas nas atividades e performances desses(as) jovens, a partir dos seus bairros. São essas conexões urbanas que jovens negros(as), moradores(as) de bairros de cidades fragmentadas, formam redes sociais, sem um pré-planejamento, essas atuando por meio de relações horizontalizadas entre os sujeitos (Tella, 2020, p. 71).

34Dessa maneira, algo que pode ser observado de forma comum às diversas culturas e movimentos juvenis de Aracaju, trazidos neste artigo, é que todos têm o espaço urbano como palco de práticas que podem ser interpretadas como formas de expressão simbólica e política de múltiplas agências juvenis que aprendem e exercitam novas formas de cidadania e que reivindicam e negociam o seu direito à cidade, produzindo novos sentidos sobre os lugares, sobre a ideia de espaço público e de participação política. O visual, o sonoro, a escrita e as performances, por exemplo, são as linguagens predominantes nas práticas cotidianas e nos ativismos juvenis na última década (Marcon, 2019, p. 192), como pudemos observar a partir das estéticas e disputas protagonizadas pelos movimentos tratados mais enfaticamente aqui, como o punk e o hip hop, e suas diversas formas de expressão: o rap, o grafitti, o slam e o skateboarding, entre outras.

Considerações finais

35As discussões que buscamos levantar neste artigo se debruçaram sobre algumas questões envolvendo a ocupação do espaço público a partir de práticas culturais juvenis que têm a cidade como locus de diversas formas de ação cultural e política. Algo que pudemos constatar a partir destas discussões diz respeito às agências juvenis que se consolidam nesse contexto. A base do conceito de agência que utilizamos aqui já foi amplamente discutido pela literatura, enquanto um conjunto de recursos incorporados pelos sujeitos sociais que viabilizam a execução de projetos culturalmente definidos (Ortner, 2007), ao que adicionamos a concepção da forma expressiva que ela adquire. Quando vinculada às ações e relações sociais, a noção de agência precisa ser entendida como “sinônimo das formas de poder que as pessoas têm à sua disposição, de sua capacidade de agir em seu próprio nome, de influenciar outras pessoas e acontecimentos e de manter algum tipo de controle sobre suas próprias vidas” (Ortner, 2007, p. 64).

36Durante a pesquisa de campo, essas disposições puderam ser vistas nas várias estratégias e táticas de ocupação do espaço público adotadas por jovens de diferentes coletivos, movimentos e culturas juvenis, como o punk, o hip hop e em práticas adjacentes a esses contextos, como o grafitti, o skate e o slam. Para esses jovens, como pudemos constatar a partir dos discursos dos interlocutores, a arte e a performance são formas de comunicação política com a sociedade; e ocupar os espaços performaticamente é também disputar sentidos políticos sobre a cidade, bem como um desejo de agência, de transformar, de interpelar, de reivindicar e de produzir um registro de suas existências, seja de forma corporal, visual, sonora ou pictórica.

37O conceito de agências estetizadas, desenvolvido por Marcon (2019), também oferece um aporte teórico nesse sentido, ao inferir que a intervenção estética, seja escrita, plástica, sonora ou corporal, através da dança, da música, do skate, do grafitti, da performance ou da presença dos sujeitos jovens é uma ação de significação sobre a cidade, como disputas sobre o sentido político do espaço e do público. Essas agências podem ser entendidas como “formas de ação, de narrativa e de comunicação que emergem da intencionalidade das expressões sensíveis dos sujeitos, negociadas entre quem as produz e quem as consome, ou entre quem as propaga e quem as recebe, considerando que ambos são produtores de sentido neste processo” (Marcon, 2019, p. 193).

38Estas agências promovem tensões, criam demandas, transformam as cidades, e, embora nem sempre modifiquem radicalmente suas lógicas injustas, produzem inflexões e têm recolocado reiteradamente a questão do debate público sobre o direito à cidade, seus usos e sentidos em outros termos. Em Aracaju, como pudemos constatar, há uma escassa disponibilidade de iniciativas e políticas públicas para as juventudes por parte do Estado e, como reação, são estabelecidas formas criativas de atuar, praticar e participar politicamente da vida pública da cidade. Nesse sentido, as diversas modalidades de ação cultural e política, trazidas para análise neste artigo, evidenciam um comprometimento dos jovens e das culturas juvenis em resistir, em construir e estabelecer as suas próprias “artes de fazer” (Certeau, 2014) sobre a cidade e reivindicá-la.

Topo da página

Bibliografia

ABRAMO, Helena W. Cenas juvenis: punks e darks no espetáculo urbano. Anpocs, Editora Scritta, 1994.

ADERALDO, Guilhermo. Reinventando a "cidade": disputas simbólicas em torno da produção e exibição audiovisual de "coletivos culturais" em São Paulo. Tese (Doutorado em Antropologia). Universidade de São Paulo, 2013.

________ & RAPOSO, Otávio. Deslocando fronteiras: notas sobre intervenções estéticas, produções culturais e mobilidade juvenil em áreas segregadas de São Paulo e Lisboa. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 22, n. 45, p. 279-305, jan./jun. 2016.

ALMEIDA NETO, Mateus. Juventudes e estilos de vida: sociabilidades no bairro Siqueira Campos. Dissertação (Mestrado em Antropologia). Universidade Federal de Sergipe, 2012.

ARCE, José M. Valenzuela. Vida de Barro Duro: Cultura Popular Juvenil e Grafite. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1999.

BAUDRILLARD, Jean. A sociedade de consumo. Lisboa: Edições 70, 1995 [1. ed. 1990].

BARROS, Erna. “Uma cidade muda não muda”. Mulheres, graffiti e espaços urbanos hostis. Tese (Doutorado em Sociologia). Universidade Federal de Sergipe, 2020.

CAMPOS, Ricardo. Ricardo. Pintando a Cidade. Uma abordagem Antropológica ao Graffiti urbano. Dissertação de Doutoramento em Antropologia. Universidade Aberta do Porto, 2007.

______.; SARROUY, Alix. Juventude, criatividade e agência política. Revista Tomo, 37, 2020, pp. 17-46.

CANCLINI, Néstor García. Consumidores e cidadãos: conflitos multiculturais da globalização. 3. ed. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1997.

CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano: artes de fazer. 22 ed. Petrópolis: Editora Vozes, 2014 [1. ed. 1990].

DELGADO, Manuel. El espacio público como ideología. 2. ed. Barcelona: Los Libros de La Catarata, 2019.

DIÓGENES, Glória. Diagramas da juventude contemporânea: artes e astúcias de reinvenção da cidade. In: Juventudes Contemporâneas: desafios e expectativas em transformação. Rio de Janeiro: Telha, 2020.

______. Cartografias da cultura e da violência: gangues, galeras e o Movimento Hip Hop. Tese (Doutorado em Sociologia). Universidade Federal do Ceará, 1998.

FEATHERSTONE, Mike. Cultura do consumo e pós-modernismo. São Paulo: Studio Nobel, 1995.

FERREIRA, Victor Sérgio. Ondas, cenas e microculturas juvenis. PLURAL, Revista do Programa de Pós‑Graduação em Sociologia da USP, São Paulo, v.15, 2008, pp. 99‑128

FOOTE WHYTE, William. Sociedade de Esquina. Jorge Zahar Editor, 2005 [1. ed. 1943].

FUSARO, L. Juventude e ocupações culturais em Aracaju: da arte ao protesto. Dissertação (Mestrado em Antropologia). Universidade Federal de Sergipe, 2018.

FREITAS, D. Slam Resistência: poesia, cidadania e insurgência. Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea, n. 59, 2020.

FREITAS, R. Jovens mulheres, hip hop, estilo de vida e feminismo. Dissertação (Mestrado em Sociologia). Universidade Federal de Sergipe, 2018.

FORACCHI, Marialice. A juventude na sociedade moderna. 2. ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2018.

FUSARO, L. Juventude e ocupações culturais em Aracaju: da arte ao protesto. Dissertação (Mestrado em Antropologia). Universidade Federal de Sergipe, 2018.

GALVÃO, Letícia. “A arma que eu tinha era fazer música”: o movimento punk como estilo de vida e expressão política em Aracaju. Dissertação (Mestrado em Sociologia). Universidade Federal de Sergipe, 2023.

______. Juventudes e políticas públicas na Grande Aracaju: os coletivos MUDE e Socorreria Arte Urbana. Monografia (Graduação em Ciências Sociais). Universidade Federal de Sergipe, 2020.

GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2021.

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Lamparina, 12ª. edição, 2019 [1. ed. 1992] .

HALL, Stuart e JEFFERSON, Tony. Resistance Through Rituals: Youth Subcultures in Post-War. Routladge, 2ª. edição, 2006 [1. ed. 1976].

HARVEY, David. Cidades Rebeldes: Do Direito à Cidade à Revolução Urbana. Martins Fontes, 2014.

HEBDIGE, Dick. Subculture: the meaning of style. 1. ed. London; New York: Routledge, 1979.

LEFEBVRE, Henri. O direito à cidade. 5. ed. Trad. Rubens Eduardo Frias. São Paulo: Centauro Editora, 2011 [1. ed. 1991].

LEITE, Rogério Proença. Contra-usos e espaço público: notas sobre a construção social dos lugares na Manguetown. Revista Brasileira de Ciências Sociais. v. 17, n. 49, jun. 2002.

______. Image making. Notas sobre a estética visual nas cidades contemporâneas. In: Rogério Proença Leite (Org.). Cultura e Vida Urbana: ensaios sobre a cidade. São Cristóvão: Editora UFS, 2008.

______. Contra-usos da cidade: lugares e espaço público na experiência urbana contemporânea. 2. ed. Campinas, SP: Editora da Unicamp; Aracaju, SE: Editora UFS, 2007.

LIMA, R. Atitudes e percepções na construção de territórios identitários: o Bairro Bugio em Aracaju/SE. Dissertação (Mestrado em Geografia). Universidade Federal de Sergipe, 2011.

LIPOVETSKY, G. SERROY, J. A estetização do mundo: viver na era do capitalismo artista. 1. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

MAFFESOLI, Michel. O Tempo das Tribos. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1998.

MAGNANI, José Guilherme Cantor. Os circuitos dos jovens urbanos. Tempo Social, v. 17, n. 2, p. 173–205, 2005.

______. De perto e de dentro: notas para uma etnografia urbana. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 17, n. 49, jun. 2002.

MARCON, Frank. Agências estetizadas, geração digital, ativismos e protestos no Brasil, Ponto Urbe, n. 23, 2018.

______. SOUZA FILHO, Florival de. Estilo de vida e atuação política de jovens do hip-hop em Sergipe. In: Revista de antropologia, v. 56, p. 36, 2013.

______. Agências estetizadas: Juventudes, mobilizações e ativismos em Angola, Crítica e Sociedade, v. 9, n. 2, p. 18, 2019.

______. GALVÃO, Letícia. Juventudes, coletivos e políticas públicas em Sergipe. Revista Mundaú, n. 10, p. 92-116, 2021.

______, SEDANO, Lívia e RAPOSO, Otávio. Introdução ao Dossiê Juventudes e Músicas Digitais Periféricas. Cadernos de Arte e Antropologia. vol. 7 n. 1, 2018. Pp 5-14.

ORTNER, Sherry. Uma atualização da teoria da prática. In: Miriam Pillar Grossi, Cornelia Eckert, Peter Henry Fry (orgs.) .Conferências e diálogos: saberes e práticas antropológicas. 25a Reunião Brasileira de Antropologia: Goiânia, 2006. Blumenau: Nova Letra, 2007.

PAIS, José Machado. Culturas Juvenis. 2. ed. Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 2003.

PEREIRA, Alexandre Barbosa. Entre fluxos juvenis: relatos multissituados de rolês por espaços de encontros em São Paulo. In: Juventudes Contemporâneas: desafios e expectativas em transformação. Rio de Janeiro: Telha, 2020.

RAPOSO, Paulo. “Artivismo”: articulando dissidências, criando insurgências. Cadernos de Arte e Antropologia [Online], Vol. 4, No 2 | 2015, posto online em 01 out 2015, consultado em 25 jun 2023. URL: http://journals.openedition.org/cadernosaa/909; DOI: https://doi.org/10.4000/cadernosaa.909

REGUILLO, R. Ciudadanías Juveniles en América Latina. In: Ultima década, v. 11, n. 19, 2003.

RIBEIRO, H. Da fúria à melancolia: a dinâmica das identidades na cena rock underground de Aracaju. São Cristóvão: Editora UFS, 2010.

SANTOS, Jonatha Vasconcelos. “As manifestações de junho de 2013 pra gente não acabou”: um estudo sobre as formas de contestação no Coletivo Debaixo em Aracaju. Dissertação (Mestrado em Sociologia). Universidade Federal de Sergipe, 2017.

SIMMEL, Georg. Philosophie des Geldes. 1. ed. Leipzig: Verlag von Duncker & Humblot, 1900.

SILVA, A. Juventudes, Hip-hop e Políticas Públicas na Grande Aracaju. Dissertação (Mestrado em Sociologia). Universidade Federal de Sergipe. 2020.

SILVA, Williams Souza. A galera da Catedral: representações de um estilo de vida underground e lógicas de apropriação do espaço urbano. Dissertação (Mestrado em Sociologia). Universidade Federal de Sergipe, 2011.

TELLA, Marco Aurélio Paz. Práticas performáticas e resistência de jovens negros na cidade. In: Juventudes Contemporâneas: desafios e expectativas em transformação. Rio de Janeiro: Telha, 2020.

THRASHER, Frederic. The Gang: A Study of 1313 Gangs in Chicago. Chicago: University of Chicago Press, 2013 [1. ed. 1927].

VELHO, Gilberto. Individualismo e Cultura: notas para uma antropologia da sociedade contemporânea. 8. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2008.

______. Um antropólogo na cidade: ensaios de antropologia urbana. 1. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2013.

WANDERLEY, Maurício. A Cena Metal Aracajuana: Identidade e conflitos entre grupos antagônicos. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Ciências Sociais). Universidade Federal de Sergipe, 2008.

Topo da página

Notas

1 Ver IBGE: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/se/aracaju/panorama (Último acesso em 23/06/2023)

2 O Grupo de Estudos Culturais, Identidades e Relações Interétnicas (GERTs) vem estudando as culturas juvenis em Sergipe desde 2008. O grupo é parte do diretório de grupos de pesquisa do CNPq.

3 A pesquisa de Iniciação Científica teve como título “Juventudes, Estilos de Vida e Sentidos da Transição para a Vida Adulta: protagonismos versus precariedades”. Algumas discussões provenientes do projeto de pesquisa podem ser vistas no artigo de Marcon e Galvão (2021) sobre juventudes, coletivos e políticas públicas no estado de Sergipe.

4 Todas as entrevistas foram realizadas de maneira consentida e voluntária, de modo que todos os interlocutores concordaram com a utilização de trechos das entrevistas em trabalhos futuros. Nós também os consultamos em relação ao anonimato ou à utilização de possíveis nomes fictícios em nossas produções; todos os entrevistados preferiram que utilizássemos os seus nomes reais (exceto um caso, no qual o interlocutor optou por ser representado a partir do seu nome artístico).

5 Segundo o antropólogo José Guilherme Magnani (2005, p. 178), manchas são áreas contíguas do espaço urbano, dotadas de equipamentos que marcam seus limites e viabilizam - cada qual com sua especificidade, competindo ou complementando - uma atividade ou prática predominante.”

6 De acordo com o perfil do coletivo no Instagram, o nome Macacore também é uma sigla para “Movimento ambientalista, comunicador, artístico, cultural, opositor, reformador e ecológico”.

7 O hardcore, ou hardcore-punk, pode ser entendido como um subgênero musical e estilístico circunscrito ao punk (GALVÃO, 2023, p. 28)

Topo da página

Para citar este artigo

Referência eletrónica

Letícia Oliveira Feijão Galvão e Frank Nilton Marcon, «Práticas culturais juvenis e a cidade como locus de ação política e disputa de sentidos sobre o espaço público»Ponto Urbe [Online], 31 | 2023, posto online no dia 25 julho 2023, consultado o 16 fevereiro 2025. URL: http://journals.openedition.org/pontourbe/15056; DOI: https://doi.org/10.4000/pontourbe.15056

Topo da página

Autores

Letícia Oliveira Feijão Galvão

Doutoranda em Sociologia pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Sergipe. Membro do Grupo de Estudos Culturais, Identidades e Relações Interétnicas

E-mail: leticiaofg@gmail.com

ORCID: https://orcid.org/0000-0002-2833-9781

Frank Nilton Marcon

Doutor em Antropologia Social. Professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de Sergipe. Coordenador do Grupo de Estudos Culturais, Identidades e Relações Interétnicas

E-mail: marconfrank@hotmail.com

ORCID: https://orcid.org/0000-0002-2195-6701

Topo da página

Direitos de autor

CC-BY-4.0

Apenas o texto pode ser utilizado sob licença CC BY 4.0. Outros elementos (ilustrações, anexos importados) são "Todos os direitos reservados", à exceção de indicação em contrário.

Topo da página
Pesquisar OpenEdition Search

Você sera redirecionado para OpenEdition Search