Nota prévia
Texto integral
1Na presente edição de Terra Brasilis, temos a satisfação de apresentar o dossiê “Geografia portuguesa, trópicos e colonialismo tardio”, sob a curadoria de Francisco Roque de Oliveira e João Sarmento, colegas da Universidade de Lisboa e da Universidade do Minho, respectivamente. Nesta breve nota, nos limitamos a saudar a oportunidade de estreitar laços com a comunidade internacional de pesquisadores em história da geografia e geografia histórica e concluir mais um número temático da revista na forma de dossiê, meta que vem sendo cumprida desde sua fundação. Como de hábito, a apresentação desse conjunto coeso e ao mesmo tempo diversificado de contribuições fica ao encargo dos editores convidados, a quem estendemos nosso agradecimento pela qualidade do material e das perspectivas de estudo aportadas à revista. Na condição de editores permanentes, esclarecemos apenas dois pontos. Primeiro, que o dossiê/dossier compreende não apenas artigos, mas também duas Notas de Pesquisa e a análise de um Documento, dispostos em sequência com vistas a evidenciar a unidade do conjunto. Além disso, decidimos manter o sistema de referências bibliográficas utilizado por cada autor em vez de uniformizá-lo segundo as normas da revista, em benefício da fluidez dos textos e a melhor adequação do sistema “citação/nota de rodapé” a trabalhos que utilizam farta documentação ou correspondência, como é o caso de algumas contribuições. Um pouco de flexibilidade não faz mal e nada afronta aos princípios de coerência editorial que buscamos seguir em Terra Brasilis.
2Dando sequência ao número, apresentamos com igual satisfação um bloco de três artigos que, em parte, apresenta afinidade com os temas colonial e descolonial cobertos no dossiê. É assim que vemos, primeiramente, Chet van Duzer, analisar em seu texto o imaginário colonialista manifesto nas cartelas decorativas de mapas europeus impressos desde o final do século XVII até o início do século XIX, que comunicam bem mais do que o elemento estético que aparentemente justifica sua presença no mapa. Em seguida, numa perspectiva temporal e analítica inteiramente distinta, o artigo de Luciene Cristina Risso traz um rico material de investigação de campo que evidencia a importância das discussões sobre a memória quilombola para o emergir de uma perspectiva histórica não hegemônica, tendo como referência a trajetória coletiva da comunidade de Mandira (Cananéia, São Paulo). Finalmente, encerra o bloco de artigos o interessante texto de Maria Alice Gabriel sobre os espaços mal-assombrados ou a “geografia do medo”, tema pouco usual nos estudos geográficos de corte histórico, mas que abre uma fronteira estimulante de diálogo com as ciências humanas em torno da relação entre lugares e relatos de aparições sobrenaturais.
3Após prolongada ausência, reaparece na revista a seção Trajetórias de Geógraf@s, em texto de Thiago Manhães Cabral sobre Fernando Antonio Raja Gabaglia. Trata-se de um personagem importante na configuração do campo geográfico no Brasil em diversos âmbitos: editorial, escolar, universitário e nas esferas governamentais encarregadas da política educacional e a gestão do território. Essa contribuição é reforçada pela publicação, na seção Clássicos e Textos de Referência, da conferência de Raja Gabaglia intitulada “Ratzel e a Geografia Moderna”, confirmando o papel do professor como propagador da geografia científica no Brasil, antes mesmo de sua institucionalização.
4Finalmente, completando este alentado número de Terra Brasilis, apresentamos ainda uma Resenha e uma Notícia. A resenha, assinada por Sergio Nunes Pereira, comenta o livro Evolução, Raça e Ambiente: darwinismo social e formação da geografia americana em Ellsworth Huntington e Ellen Semple, escrito por Fernando José Coscioni e publicado recentemente. A revista, fiel a seus propósitos, cumpre assim a função de divulgar a produção acadêmica no campo da história da geografia e da geografia histórica. Com objetivo similar, agora direcionado a fontes de pesquisa, o número encerra com a Notícia assinada por Filipe Pinto Monteiro (historiador) e Maurício Mendonça, Lorena Cristiano, Jéssica Soares e Margareth de Mattos (profissionais de Arquivo e especialistas em conservação de documentos antigos). Os autores relatam os procedimentos urgentes que permitiram salvar, em meio a uma catástrofe climática, dois atlas e outros livros raros que se encontram guardados nas dependências da Biblioteca Central Municipal Gabriela Mistral, em Petrópolis (Estado do Rio de Janeiro). Com tantas perdas e dificuldades impostas à pesquisa e à prática do trabalho historiográfico, Terra Brasilis sente-se orgulhosa de publicar essa alentadora notícia, congratulando enfaticamente as pessoas envolvidas no episódio e que assinam a matéria.
5Boa leitura!
6Os Editores
Para citar este artigo
Referência eletrónica
«Nota prévia», Terra Brasilis [Online], 17 | 2022, posto online no dia 30 junho 2022, consultado o 02 junho 2023. URL: http://journals.openedition.org/terrabrasilis/10537; DOI: https://doi.org/10.4000/terrabrasilis.10537
Topo da página