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Dossiê Geografia portuguesa, trópicos e colonialismo tardio
Artigos

Intercâmbios de saberes geográficos Salvador-Lisboa

o IV Colóquio Internacional de Estudos Luso-Brasileiros na Universidade da Bahia e os estágios de pesquisa no Centro de Estudos Geográficos da Universidade de Lisboa
Exchanges of geographic knowledge between Salvador and Lisbon: the IV International Colloquium on Luso-Brazilian Studies at the University of Bahia and the research internships at the Center for Geographical Studies at the University of Lisbon
Intercambios de conocimientos geográficos Salvador-Lisboa: el IV Coloquio Internacional de Estudios Luso-Brasileños de la Universidad de Bahía y las pasantías de investigación en el Centro de Estudios Geográficos de la Universidad de Lisboa
Échanges de connaissances géoraphiques Salvador-Lisbonne: Le IVe Colloque international d'études luso-brésiliennes à l'Université de Bahia et les stages de recherche au Centre d'études géographiques de l'Université de Lisbonne
Maria Auxiliadora da Silva e André Nunes de Sousa

Resumos

O objetivo deste artigo é discutir os intercâmbios de saberes geográficos entre geógrafos do Brasil e de Portugal, particularmente aqueles estabelecidos nas décadas de 1950 e 1960 entre os grupos de pesquisadores ligados ao Laboratório de Geomorfologia e Estudos Regionais da Universidade da Bahia, sob a liderança do professor Milton Santos, e o Centro de Estudos Geográficos da Universidade de Lisboa (CEG-ULisboa), sob a direção do professor Orlando Ribeiro. Buscamos, com isso, contribuir com esforços de sistematização que vêm sendo realizados acerca dessa importante página da História da Geografia em âmbito internacional. Para tanto, procedemos com investigações bibliográfica, documental e iconográfica que nos ajudaram a remontar e compreender as conjunturas político-econômica, institucional e científica em que esses intercâmbios de saberes foram realizados, bem como as parcerias de pesquisa e produções acadêmicas deles decorrentes.

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Introdução

1O objetivo deste artigo é discutir os intercâmbios de saberes geográficos entre cientistas do Brasil e de Portugal, sobretudo aqueles estabelecidos nas décadas de 1950 e 1960 entre os grupos de pesquisadores ligados ao Laboratório de Geomorfologia e Estudos Regionais da Universidade da Bahia, sob a liderança do professor Milton Santos, e o Centro de Estudos Geográficos da Universidade de Lisboa (CEG-ULisboa), sob a direção do professor Orlando Ribeiro. Trataremos, notadamente, das trocas científicas e parcerias acadêmicas empreendidas a partir da realização do IV Colóquio Internacional de Estudos Luso-Brasileiros na Universidade da Bahia, em 1959, e dos estágios de pesquisas que se sucederam no CEG-ULisboa, acolhendo estudantes e pesquisadores brasileiros.

2Para tanto, procedemos com investigações bibliográfica, documental e iconográfica que nos ajudaram a remontar e compreender as conjunturas político-econômica, institucional e científica em que esses intercâmbios de saberes foram realizados, bem como as parcerias de pesquisa e produções acadêmicas deles decorrentes. Adicionalmente, lançamos mão do testemunho autobiográfico de Maria Auxiliadora da Silva, coautora deste artigo, que foi estudante orientada, em níveis de graduação e de especialização, pelos dois expoentes da Geografia aludidos, tendo participado ativamente do IV Colóquio e tendo sido agraciada com uma das bolsas de pesquisa de estágio junto ao CEG-ULisboa em 1966.

3O artigo está dividido em três tópicos, além desta introdução e das considerações finais. No primeiro, discorremos sobre os contextos político-econômico e institucional em que estava inscrita a Universidade da Bahia na década de 1950, favorecendo a sua escolha como sede do IV Colóquio. No segundo tópico, realizamos uma descrição do evento, observando as relações institucionais entre portugueses e brasileiros e as produções acadêmicas desenvolvidas pelos membros do Laboratório de Geomorfologia e Estudos Regionais da Universidade da Bahia. Por fim, no terceiro tópico, discutimos os estágios realizados por brasileiros no CEG-ULisboa, especialmente a inserção de Maria Auxiliadora da Silva, como mencionado anteriormente.

Os intercâmbios de saberes geográficos entre Brasil e Portugal e a escolha da Universidade da Bahia como sede do IV Colóquio Internacional de Estudos Luso-Brasileiros

  • 1 Tais registros se verificam, sobretudo, em atas, relatórios, anais de congressos e demais publicaçõ (...)

4A história dos intercâmbios de saberes geográficos entre comunidades científicas de diferentes países é um tema de difícil delineamento analítico até meados do século XIX, quando, finalmente, a criação de sociedades científicas, a promoção de congressos de especialistas e a própria institucionalização da Geografia como disciplina universitária na Europa, nos permitem identificar ou definir marcos mais precisos para uma investigação historiográfica (Capel, 1981; Moraes, 2005). No tocante às trocas entre cientistas do Brasil e de Portugal, diversos autores mencionam registros seguros de intercâmbios de conhecimentos geográficos que remontam às últimas décadas do século XIX e começo do século XX. Mas, foi a partir da década de 1940 que esse processo se fortaleceu, impulsionado pela convergência de políticas implantadas pelos Estados Novos de Salazar e Vargas (Mary, 2010; Guimarães, 2011; Cardoso, 2013; Oliveira; Paiva, 2019a).1

5A primeira metade do século XX corresponde, notadamente, ao período de criação e consolidação da Geografia universitária nos dois países e, particularmente, em Lisboa e Salvador. Embora já houvesse cadeira de Geografia no curso superior de Letras de Lisboa desde 1901, foi após a Instauração da República Portuguesa (1910) que se criaram os dois primeiros cursos de Geografia em Lisboa e Coimbra, precisamente no ano de 1911 (Paiva; Oliveira, 2020). Já em Salvador, o primeiro curso superior de Geografia foi criado três décadas depois, em 1941, e teve lugar na antiga Faculdade de Filosofia da Bahia – assimilada mais tarde, em 1946, pela primeira universidade pública criada no estado, a Universidade da Bahia, rebatizada na década seguinte como Universidade Federal da Bahia (Simões, 1990; Marques, 2010; Sousa, 2015).

6Conforme José Ramiro Pimenta (2014), as três décadas que se seguiram ao fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) foram marcadas por uma política que intencionava o aumento da influência portuguesa no mundo, caracterizada pelo avanço do colonialismo tardio seja por meio de expansão e ocupação de territórios, seja pelo aumento de influência político-cultural, mediante às trocas entre diferentes agentes sociais portugueses e do ultramar – os cientistas entre eles. No âmbito dos trópicos, a política portuguesa se concentrou em quatro temas que Pimenta (2014) assim sistematiza: a) história da expansão portuguesa; b) a natureza e o ambiente dos trópicos; c) as relações interpessoais (culturais); e d) o Brasil como lócus em que a empreitada portuguesa teria tido melhor resultado.

7Neste ínterim, em termos de Brasil, a Bahia vinha experimentando uma efervescência política e cultural que se estendeu de 1940 a 1960, aproximadamente, momento de instalação da Universidade na Bahia. Para uma melhor compreensão sobre a escolha da Universidade da Bahia como sede do IV Colóquio, é importante uma breve contextualização sobre o processo de instalação da universidade e sua relação com os rearranjos espaciais e político-econômicos pelos quais passava o estado no conjunto do território nacional à época.

8Segundo Pedro Vasconcelos (2002), Salvador e sua região ocuparam a posição de praça comercial mais importante da América portuguesa por cerca de dois séculos e meio, até meados do século XIX, quando uma série de eventos históricos fez a centralidade político-econômica do país migrar do Nordeste açucareiro e fumageiro para a região Sudeste – primeiro concentrando as riquezas na lavoura cafeeira e, depois, na indústria que passou a crescer e se expandir nas terras do sul no início do século XX. Essa centralidade político-econômica, antes de ser perdida pela Bahia, produziu, segundo Milton Santos (2005), a primeira rede urbana das Américas, formada por Salvador, Cachoeira, Nazaré das Farinhas e Santo Amaro da Purificação – parte da região conhecida como Recôncavo Baiano.

9Na alvorada do século XX, a Bahia se encontrava, portanto, em uma situação muito difícil do ponto de vista político-econômico, perdendo a centralidade nacional para o sul do país. Todavia, a despeito de tal processo, o final da terceira década do século XX foi marcado por um acontecimento que daria um novo ânimo tanto aos dirigentes e às elites regionais e nacionais, bem como a outros setores da sociedade, a exemplo da própria comunidade científica e, particularmente, a geográfica, àquela altura em processo de institucionalização. Trata-se da descoberta de petróleo no Brasil, encontrado pela primeira vez na bacia sedimentar do Recôncavo Baiano, no ano de 1939 – precisamente no subúrbio ferroviário de Salvador (Vasconcelos, 2002; Marques, 2010).

10O lançamento do primeiro número da Revista Brasileira de Geografia (1939), periódico do então recém-criado Conselho Nacional de Geografia (CNG), teve seu editorial destinado à descoberta do óleo na Baía de Todos os Santos. O texto curto e direto, tratando do acontecimento com entusiasmo e pouca informação, sugere uma espécie de surpresa e de necessidade de adequação de última hora do conteúdo do editorial, frente a um evento que, segundo o próprio texto, mudaria toda a geografia econômica do país (Revista Brasileira de Geografia, 1939).

11O periódico informava, ainda no seu editorial, sobre o deslocamento de um dos mais competentes técnicos do CNG (e um dos mais influentes politicamente também) para cobrir o acontecimento e explicar suas relações com o meio natural e consequências para a sociedade. Coube, portanto, a Sylvio de Froes e Abreu – baiano residente no Rio de Janeiro – a função especial de alimentar os próximos números do informativo geográfico oficial com notícias sobre os desdobramentos da descoberta do petróleo na Baía de Todos os Santos (Revista Brasileira de Geografia, 1939).

12Entretanto, não foi apenas a comunidade científica que se animou com a descoberta do óleo no litoral do Recôncavo Baiano, conforme dito. Nesse contexto, organizou-se na Bahia uma elite modernizante que buscava recolocar o estado numa posição mais favorável no cenário político-econômico nacional, tal e qual já havia experimentado. A partir da década de 1940 a sociedade baiana assistiu a um movimento melhor orquestrado em termos políticos e econômicos, articulado pela ação de agentes sociais em diferentes escalas geográficas, visando romper com a estagnação que durava décadas (Marques, 2010; Sousa, 2015). Para tanto, a criação de uma universidade era tida como um passo fundamental nesse projeto.

13Segundo Maria Inês Corrêa Marques (2010: 140):

A estagnação foi alterada a partir da segunda metade da década de 40, quando assumiu o poder uma elite modernizante que atuava no governo local e federal. Clemente Mariani, Rômulo Almeida, Anísio Teixeira e deputados como Pedro Calmon dividiam os mesmos ideais. Estavam dispostos a recolocar a Bahia no cenário político, econômico e cultural do país, pretendiam superar o atraso em que o estado se encontrava. Entendiam que, isoladamente, o poder econômico não conseguiria realizar essa tarefa; assim, o poder cultural seria aliado central da Universidade propulsora de mudanças.

14Coube a Edgard Santos, membro dessa elite modernizante, estar à frente do projeto da criação da Universidade da Bahia e se tornar o primeiro reitor. Novamente, é Marques (2010: 135-138) quem nos explica que

Após a Constituição de 1946, seguida da eleição do governo Eurico Gaspar Dutra, o professor Ernesto de Souza Campos, amigo de Edgard Santos, foi nomeado Ministro da Educação e Saúde, surgiu a oportunidade de se tentar a criação da Universidade da Bahia. (...) Edgard Santos não foi somente uma personalidade à frente de um projeto, representava a expressão de um pensamento coletivo, forças reunidas que permitiram uma configuração singular para a instituição nascente. O prestígio que gozava junto às autoridades federais, a visibilidade internacional que alcançara e sua ativa vida profissional, o conduziu ao comando da implantação da UBA.

15Aparentemente na contramão do país que se queria industrial e que há pouco havia descoberto o petróleo no Recôncavo Baiano, a Universidade da Bahia criou os primeiros cursos superiores de Dança, Teatro e Música do Brasil. Na verdade, tratava-se do projeto de modernização no seu sentido mais amplo. Para tanto, a universidade se esforçou em estabelecer intercâmbios internacionais e criar centros de pesquisa sobre as mais diversas áreas do conhecimento. Os resultados não tardaram a ser vistos. Cabe lembrar que, entre as décadas de 1950 e 1970, os principais movimentos estéticos vividos pelo Brasil no século XX – a Bossa-nova, o Tropicalismo e o Cinema Novo – foram concebidos em íntima relação e por ex-estudantes da Universidade da Bahia (Risério, 2004, 2013; Marques, 2010; Sousa, 2015).

  • 2 Entre alguns dos Laboratórios criados na Universidade da Bahia destacavam-se o Instituto de Economi (...)

16Marques (2010) lembra em seu texto as palavras do prestigiado antropólogo Darcy Ribeiro que afirmou não haver naquele momento nada parecido no Brasil em termos de universidade, tal era a efervescência cultural na Instituição. Nesse contexto, foi incentivada a criação de uma série de laboratórios impulsionando a pesquisa e a extensão universitárias na Bahia2. Entre esses centros de pesquisa, foi fundado em janeiro de 1959 aquele que seria o marco da renovação da Geografia na Bahia, o Laboratório de Geomorfologia e Estudos Regionais, idealizado por Milton Santos, com o apoio dos professores Jean Tricart, Tereza Cardoso da Silva, Nilda Guerra de Macedo, Anna Dias Carvalho e Antônia Déa Erdens (Sousa, 2014; Sousa, 2015).

17A participação de Jean Tricart – o único estrangeiro do grupo – na criação do Laboratório, foi resultante de uma cooperação técnica que a França firmou com o Brasil no âmbito das presidências de Charles de Gaulle e Juscelino Kubitschek, favorecendo viagens constantes e estadias do mestre francês na Bahia. Além da relação de amizade pessoal estabelecida entre Jean Tricart e Milton Santos, a partir da realização do XVIII Congresso da União Geográfica Internacional (UGI), do qual trataremos mais a frente, a passagem regular de outros geógrafos franceses pelo Laboratório foi igualmente favorecida por essa cooperação técnica, influenciando, sobremaneira, nos intercâmbios de saberes estabelecidos entre os pesquisadores da Bahia e outras comunidades científicas, a exemplo dos portugueses.

18Segundo Milton Santos (1959a), em relatório enviado ao Reitor Edgard Santos, no final do ano de 1959, a primeira instalação do Laboratório se deu, por empréstimo, em duas salas do Instituto de Estudos Luso-Brasileiros, um dos centros de pesquisa então criados na Universidade da Bahia. A figura 1 apresenta um grupo de pesquisadores em frente às instalações do Laboratório de Geomorfologia e Estudos Regionais, durante a realização do IV Colóquio Internacional de Estudos Luso-Brasileiros, entre os quais foi possível identificar – da esquerda para a direita da fotografia – Nicole Lacroix, então estagiária no Laboratório; dois representantes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE); e os professores Henri Vogt e Jean Tricart.

Figura 1: Grupo de pesquisadores em frente às instalações do Laboratório de Geomorfologia e Estudos Regionais durante a realização do IV Colóquio Internacional de Estudos Luso-Brasileiros, 1959

Figura 1: Grupo de pesquisadores em frente às instalações do Laboratório de Geomorfologia e Estudos Regionais durante a realização do IV Colóquio Internacional de Estudos Luso-Brasileiros, 1959

Arquivo pessoal de Maria Auxiliadora da Silva

19A partir da criação do Laboratório e da realização do IV Colóquio de Estudos Luso-Brasileiros, os intercâmbios de conhecimentos geográficos entre pesquisadores de Salvador e estrangeiros se intensificaram e cenas como essa tornaram-se cada vez mais comuns. Todavia, mesmo antes da realização do evento, as trocas entre geógrafos brasileiros e portugueses, particularmente, já estavam em curso. Em linhas gerais, três momentos merecem ser citados como fundamentais no tocante ao estreitamento das relações institucionais entre as duas comunidades científicas.

20Inicialmente, tem-se a participação de portugueses nas atividades do X Congresso Brasileiro de Geografia, realizado no Rio de Janeiro em 1944. Na publicação dos anais do evento sobressaem os nomes dos portugueses Luís Schwalbach e Gago Coutinho, que apresentaram trabalhos sobre aspectos da Geografia de Portugal, e Jaime Cortesão, que versou sobre história da cartografia no Brasil. Um segundo momento refere-se ao primeiro congresso da UGI após a Segunda Grande Guerra, realizado em Lisboa em 1949, do qual participaram brasileiros como Aziz Ab’Saber, Aroldo de Azevedo, Nilo Bernardes, Lysia Bernardes, Nice Lecocq-Müller e Hilgard Sternberg (Congresso Brasileiro de Geografia, 1952; Daveau, 2019).

21Finalmente, um terceiro momento que marca o estreitamento das relações institucionais entre geógrafos brasileiros e portugueses, anterior ao IV Colóquio de Estudos Luso-Brasileiros corresponde à primeira vinda de Orlando Ribeiro ao Brasil, no ano de 1952, no âmbito de uma comitiva institucional mais ampla do que a comunidade geográfica, mas que lhe permitiu realizar excursões e proferir conferências por cerca de um mês junto aos colegas brasileiros que havia conhecido no congresso da UGI de Lisboa (Daveau, 2019). Quanto às relações entre os geógrafos de Salvador e Lisboa, especialmente, a bibliografia e os documentos trabalhados até então indicam que as trocas institucionais se iniciaram quatro anos mais tarde, quando da realização do XVIII Congresso da União Geográfica Internacional (UGI) no Rio de Janeiro, em 1956.

22Embora sediado na capital fluminense, o evento da UGI contou na sua programação com nove excursões a campo. A essas atividades aderiram geógrafos e geógrafas de diferentes partes do mundo. Com o apoio da Universidade da Bahia, da Prefeitura Municipal de Salvador, das seções locais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e da Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB), Milton Santos conseguiu viabilizar que uma das excursões ocorresse na Bahia, cuja capa do guia número 6 consta na figura 2 (Sousa, 2014; Sousa, 2015).

Figura 2: Livro da excursão Nº 6 (Bahia)

Figura 2: Livro da excursão Nº 6 (Bahia)

Arquivo pessoal de André Nunes de Sousa

23Embora os livros resultantes das excursões não listem os seus participantes, alguns dos geógrafos e geógrafas que estiveram na Bahia deixaram registros iconográficos e documentais. Esse foi o caso de Orlando Ribeiro, cujos registros fotográficos sobre Salvador e as regiões do Recôncavo Baiano e da Chapada Diamantina encontram-se arquivados na fototeca do CEG-ULisboa. Depois de 1956, Ribeiro voltou à Bahia no início da década seguinte para fazer pesquisas nessas regiões, em parceria com o grupo do Laboratório de Geomorfologia e Estudos Regionais.

24Adicionalmente, os textos jornalísticos assinados por Milton Santos no periódico A Tarde e organizados por Silva e Antunes (2019) também informam sobre encontros, excursões e diálogos entre Milton Santos e Orlando Ribeiro ocorridos em Lisboa no ano de 1958, portanto anteriores ao IV Colóquio. Em um desses textos, Orlando Ribeiro é tratado pelo geógrafo baiano como “(...) o mestre que a Bahia conhece e admira (...)” (Santos, 2019a [1958]: 413). Essas palavras de Milton Santos denotam a íntima relação que geógrafos da Bahia já estabeleciam com Orlando Ribeiro ou, pelo menos, com suas ideias publicadas, uma vez que não há maior detalhamento por parte de Milton Santos se essa admiração advinha do encontro favorecido pelas excursões do Congresso da UGI em 1956, da leitura de obras do professor português ou de ambos os contatos.

25Além da presença de Milton Santos e Orlando Ribeiro, os textos publicados no jornal A Tarde evidenciam a presença de assistentes do mestre português nos encontros que tiveram em Lisboa em 1958, destacando-se, entre eles, os professores Raquel Soeiro de Brito e Francisco Tenreiro (Santos, 2019a [1958]; 2019b [1958]). Na década seguinte, Ribeiro e seus assistentes receberam diversos geógrafos e geógrafas do Brasil para estágio no CEG-ULisboa, conforme será visto no terceiro tópico deste artigo. Todavia, é importante antes verificarmos como os intercâmbios de conhecimentos geográficos entre portugueses e brasileiros se deram em um importante momento de mudança teórico-epistemológica na ciência geográfica e como esse momento esteve marcado por forte presença e influência francesas.

A participação dos membros do Laboratório de Geomorfologia e Estudos Regionais da Universidade da Bahia no IV Colóquio Internacional de Estudos Luso-Brasileiros

26No âmbito do aprofundamento dessas relações, em agosto de 1959 a Universidade da Bahia promoveu, sob o seu patrocínio e o da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – UNESCO, o IV Colóquio Internacional de Estudos Luso-Brasileiros. A jornada acadêmica, artística e cultural ocorreu na cidade de Salvador entre os dias 10 e 21 daquele mês, nas dependências da jovem universidade, além de ter realizado algumas de suas atividades em outras instituições como o Gabinete Português de Leitura e a Casa da França, e os centros culturais Museu de Arte Sacra da Bahia, Teatro Castro Alves e Teatro Guarany (IV Colóquio Internacional de Estudos Luso-Brasileiros, 1959).

27A título de contextualização, cabe informar suscintamente que entre 1950 e 1966 foram realizadas seis edições do Colóquio Internacional de Estudos Luso-Brasileiros. Maria de Fátima Maia Ribeiro (1999), corrobora com as ideias de José Ramiro Pimenta (2014), comentadas no tópico anterior, de que Portugal empreendeu uma política de tentativa de aumento do seu prestígio e influência internacional após o fim da Segunda Grande Guerra. Nesse cenário, o I Colóquio Internacional de Estudos Luso-Brasileiros foi realizado nos EUA, na capital Washington, no ano de 1950, e buscava uma aproximação e divulgação da língua portuguesa junto a uma das duas potências que dividiriam o poder global nas décadas que se seguiram à Guerra. Havia no horizonte político de Portugal a intenção do ingresso na Organização das Nações Unidas (ONU), impossibilitado pela situação ditatorial do governo então vigente (Ribeiro, 1999). As edições seguintes do Colóquio Internacional de Estudos Luso-Brasileiros tiveram lugar nas cidades de São Paulo (1954), Lisboa (1957), Salvador (1959); Coimbra (1963); e, mais uma vez, numa cidade dos EUA, Boston (1966). Na pesquisa realizada por Ribeiro (1999), não foram encontrados registros significativos quanto às edições de São Paulo e o de Boston, seja de atas, anais ou outras formas documentais.

  • 3 Os países e número de adesistas ao evento estiveram assim distribuídos: Alemanha (4); Argentina (1) (...)

28Para a realização do IV Colóquio, particularmente, foram definidas oito sessões reservadas às comunicações de trabalhos científicos, além de mesas-redondas, excursões a campo, exposições artísticas, apresentações musicais e de dança e peças teatrais. As sessões, de títulos abrangentes, incluíam diferentes áreas do conhecimento como a Literatura, as Artes Plásticas, Ciências Jurídicas, Ciências Médicas, Antropologia, Política, Economia e Geografia. Ao todo, treze países3 estiveram representados pelos adesistas do evento (IV Colóquio Internacional de Estudos Luso-Brasileiros, 1959).

29A Figura 3 apresenta um grupo de geógrafos junto a outras personalidades em uma das mesas-redondas do evento, entre os quais, foi possível identificar os professores diretores do Laboratório, Milton Santos (ao centro da mesa) e Jean Tricart (extremidade esquerda da foto), bem como os portugueses Alfredo Fernandes Martins (terno e no canto direito da foto) e Francisco Tenreiro (ao lado de Jean Tricart) na antiga Faculdade de Odontologia da Universidade da Bahia. Cabe ressaltar que Tenreiro veio à Bahia como representante de Orlando Ribeiro, pois o professor português estava em trabalho de campo no continente africano quando da realização do evento.

Figura 3: Uma das mesas-redondas do IV Colóquio Internacional de Estudos Luso-Brasileiros

Figura 3: Uma das mesas-redondas do IV Colóquio Internacional de Estudos Luso-Brasileiros

Arquivo pessoal de Maria Auxiliadora da Silva

30Em termos de exposição de trabalhos, a Sessão I – intitulada O Meio e o Homem – reuniu o maior número entre os geógrafos e geógrafas que participaram do evento, destacando-se os brasileiros Fabio Macedo de Soares Guimarães, Manoel Corrêa de Andrade, Antônio Rocha Penteado, Nilo Bernardes, Aroldo de Azevedo e Aziz Ab’Saber. Vindos de outros países, sobressaem os nomes de Francisco Tenreiro, Peter Haggett, Jean Roche, Pierre Gourou e Michel Rochefort. Ainda na mesma sessão, somaram-se ao grupo dos geógrafos, os membros do recém criado Laboratório de Geomorfologia e Estudos Regionais. Houve também a participação de geógrafos e geógrafas em outras sessões, embora em menor número. Aqui cabe citar, como nome destacado, Jacqueline Beaujeu-Garnier, que fez adesão à Sessão V, intitulada A Sociedade, a Política e a Economia, presidida por Sérgio Buarque de Holanda, Francis Rogers e Manoel Lopes de Almeida (IV Colóquio Internacional de Estudos Luso-Brasileiros, 1959).

31Na Figura 4 é possível observar, entre os geógrafos e geógrafas da Bahia presentes na plateia da sessão O Meio e o Homem, os professores Milton Santos (de terno claro, sentado e de costas) e Teresa Cardoso da Silva (em pé e de costas), e as então estagiárias Maria Auxiliadora da Silva, Marlene de Aragão Carneiro e Dorcas Ferreira Chagas (primeira fileira atrás de Milton Santos). Além dos membros do Laboratório, observa-se na figura 4 personalidades destacadas da cena política e cultural da Bahia, notadamente o historiador e político Pedro Calmon (à frente de Milton Santos) e o redator-chefe do jornal A Tarde e político Jorge Calmon (de terno claro e às costas de Milton Santos).

Figura 4: Vista da plateia durante apresentação de trabalhos na sessão O Meio e o Homem

Figura 4: Vista da plateia durante apresentação de trabalhos na sessão O Meio e o Homem

Arquivo pessoal de Maria Auxiliadora da Silva

32Entre os diversos trabalhos apresentados na sessão O Meio e o Homem ressaltamos as exposições de geógrafos e geógrafas do Laboratório: “A população do Recôncavo da Bahia”, de autoria de Milton Santos e Antônia Déa Erdens; “A competição entre a rodovia, a ferrovia e o transporte fluvial na zona cacaueira da Bahia”, assinado por Milton Santos; “Bibliografia crítica da Geografia Urbana brasileira”, coautoria de Milton Santos e a estagiária Dorcas Ferreira Chagas; “A rede urbana do Recôncavo”, de Milton Santos; e “O bairro de Nazaré, estudo de Geografia Urbana”, assinado pelas estagiárias Norma Maria Ramos de Freitas, Maria Auxiliadora da Silva e Marlene de Aragão Carneiro. Além desses, houve a exposição e publicação oriundas da parceria entre Teresa Cardoso da Silva e Jean Tricart do artigo “Problemas Geomorfológicos da Bahia” (IV Colóquio Internacional de Estudos Luso-Brasileiros, 1959).

33De acordo com o relatório apresentado por Milton Santos ao Reitor Edgard Santos, no final de 1959, a participação dos membros do Laboratório na jornada acadêmica se deu de forma ampla e diversa, buscando colaborar para o sucesso do evento. Quanto aos professores, consta no relatório a participação da professora Nilda Guerra de Macedo na mesa-redonda intitulada Problemas africanos de interesse luso-brasileiro e que coube ao professor Valdir Oliveira participar da comissão de redação dos anais do IV Colóquio, bem como a função de Secretário da Sessão O Meio e o Homem, conforme podemos ver na figura 5. Além disso, Valdir Oliveira (canto esquerdo da foto) apresentou o texto “Alguns aspectos do povoamento do Brasil: a marcha para o Oeste e a imigração”. Ainda entre os professores, Antônia Déa Erdens apresentou a comunicação Aspectos geográficos da população do Recôncavo, em colaboração com Milton Santos, e participou das excursões dirigidas pelos professores franceses Pierre Monbeig e Jean Tricart ao Recôncavo Baiano (Santos, 1959a).

Figura 5: Valdir Oliveira, Professor da Universidade da Bahia e secretariando sessão comandada por Jean Tricart

Figura 5: Valdir Oliveira, Professor da Universidade da Bahia e secretariando sessão comandada por Jean Tricart

Arquivo pessoal de Maria Auxiliadora da Silva

34Já a figura 6 apresenta a professora Teresa Cardoso da Silva, uma das responsáveis por capitanear na Bahia as pesquisas e o debate acerca das questões geomorfológicas e questões ligadas ao problema da seca no Nordeste brasileiro na década seguinte juntamente com Jean Tricart, com uma série de publicações no Boletim Baiano de Geografia, bem como outros periódicos no Brasil e no exterior.

Figura 6: Participação de Teresa Cardoso da Silva no IV Colóquio Internacional de Estudos Luso-Brasileiros

Figura 6: Participação de Teresa Cardoso da Silva no IV Colóquio Internacional de Estudos Luso-Brasileiros

Arquivo pessoal de Maria Auxiliadora da Silva

35As estudantes estagiárias do Laboratório, por sua vez, participaram de diversas palestras ministradas por professores franceses e das excursões de campo. A participação de Yolanda Maria dos Santos e Dulce Lima de Brito no evento se circunscreve, segundo o relatório, às palestras e excursões, enquanto Norma Maria Ramos de Freitas, Dorcas Ferreira Chagas, Maria Auxiliadora da Silva e Marlene de Aragão Carneiro destacam-se pela apresentação e publicação de artigos científicos. Entre as atividades realizadas por Marlene de Aragão Carneiro, ressalta-se também sua atividade como intérprete do IV Colóquio (Santos, 1959a).

36Já nas figuras 7 e 8, é possível observar a participação de Francisco Tenreiro em outras atividades do evento. Na figura 7, o professor Tenreiro aparece de pé na plateia de uma das sessões da jornada acadêmica, onde também se pode observar no canto esquerdo da fotografia o professor Manoel Corrêa de Andrade. A figura 8, por sua vez, apresenta Francisco Tenreiro em um momento de maior descontração na praia do Jangadeiro, no bairro da Pituba, em Salvador, junto com outras geógrafas.

Figura 7: Francisco Tenreiro na plateia do IV Colóquio Internacional de Estudos Luso-Brasileiros

Figura 7: Francisco Tenreiro na plateia do IV Colóquio Internacional de Estudos Luso-Brasileiros

Arquivo pessoal de Maria Auxiliadora da Silva

Figura 8: Francisco Tenreiro na Praia do Jangadeiro, bairro da Pituba, Salvador

Figura 8: Francisco Tenreiro na Praia do Jangadeiro, bairro da Pituba, Salvador

Arquivo pessoal de Maria Auxiliadora da Silva

37O pequeno intervalo entre os anos de 1956 e 1959 – ou seja, entre os encontros dos geógrafos brasileiros e portugueses no XVIII Congresso da UGI e no IV Colóquio Internacional de Estudos Luso-Brasileiros – marca uma importante transição ou virada epistemológica na Geografia produzida na Bahia, acompanhando um movimento que estava em curso em outras partes do país em maior ou menor intensidade e que pode ser verificada na leitura dos trabalhos aludidos. Trata-se, notadamente, de uma mudança de perspectiva científica entre aquilo que se convencionou a chamar de Geografia vidaliana – centrada na identificação de conjuntos de paisagens formadores de quadros regionais – para o aumento de interesse pela produção científica sistemática, de base quantitativa, e que se tornou o principal paradigma de produção de conhecimento geográfico no Brasil até a virada crítica nos anos 1970/80.

38A trajetória de pesquisa do líder do Laboratório de Geomorfologia e Estudos Regionais, por exemplo, evidencia essa virada epistemológica. Se, por um lado, identificamos uma forte influência vidaliana em publicações de Milton Santos como Os estudos regionais e o futuro da Geografia (1953) e em Zona do Cacau, introdução ao estudo geográfico (1955) – livros com particular interesse na síntese regional clássica –, por outro lado, após intenso contato com os geógrafos estrangeiros, trabalhos como A rede urbana do Recôncavo (1959b) e A cidade como centro da região: definições e métodos de avaliação da centralidade (1959c), por exemplo, demonstram o aumento do interesse do mestre baiano pela Geografia sistêmica.

39No relatório de 1959 fica evidente a mudança no pensamento de Milton Santos e seu interesse em formar um número considerável de geógrafos e geógrafas na Bahia sob essa nova orientação científica, acompanhando a produção geográfica desenvolvida nos principais centros de pesquisa à época, tanto em termos nacional quanto internacional. Segundo Milton Santos: “Este Laboratório empenhou-se na preparação de especialistas em Geografia Aplicada, através de leitura dirigida, sessões de discussão e de método, de excursões, de pesquisas, de didáticas, além de orientações para trabalho pessoal” (Santos, 1959a, s/p).

40O relatório também evidencia a preocupação do mestre baiano com a questão do método, tanto em termos de desenvolvimento de pesquisas quanto no tocante à formação dos novos profissionais da Geografia. Suas reflexões sobre método e a forma de condução dos estudos se mostravam sintonizadas com as pesquisas desenvolvidas nos principais centros produtores de conhecimento geográfico com os quais passou a se relacionar no Brasil, em Portugal e na França. Essa afinidade se reflete em duas moções de louvor aos trabalhos apresentados por Milton Santos e a equipe do Laboratório ao longo do IV Colóquio, assinadas por um grupo diverso de destacados pesquisadores desses três países.

41A primeira moção, mais extensa, foi assinada pelo geógrafo português Alfredo Fernandes Martins, juntamente com o brasileiro Nilo Bernardes e os franceses Pierre Deffontaines e Jean Tricart, que diziam, entre outras palavras:

(...) Logo de início de suas atividades, esse organismo se colocou na ponta do progresso da Geografia brasileira, sabendo aproveitar dos mais modernos métodos de pesquisa e encaminhando os seus trabalhos de maneira tal que sejam de maior utilidade para melhor utilização dos recursos naturais e para ajudar no estabelecimento de um planejamento econômico, a serviço do homem. (Santos,1959a, s/p)

42A segunda moção, bem mais concisa, parabeniza os geógrafos baianos, especialmente aqueles vinculados ao Laboratório, pelo “(...) alto valor das contribuições apresentadas ao IV Colóquio Luso-Brasileiro” (Santos,1959a, s/p [sic]), e é assinada pelos geógrafos brasileiros Aroldo de Azevedo, Antônio Rocha Penteado, José Ribeiro de Araújo Filho, Oliveira França, Luiz Rodrigues, Lysia Bernardes e Nilo Bernardes e pelos geógrafos portugueses Francisco Tenreiro e Alfredo Fernandes Martins. Passado o IV Colóquio, os intercâmbios de saberes entre as duas comunidades científicas se estenderam pela década seguinte. Verdade é que a ruptura do Estado democrático no Brasil em março de 1964 trouxe impactos para essa relação, como para todo o restante da vida no país. Em termos da Geografia que se desenvolvia na Bahia, o seu principal nome e organizador, Milton Santos, foi compelido a deixar o Brasil e viver no exílio por mais de uma década após ser preso e mantido no cárcere por alguns meses. A professora Antônia Déa Erdens – que também estagiou em Portugal – ficou à frente do Laboratório por um tempo, mas a descontinuidade da normalidade institucional no país e a distância de Milton Santos dificultaram sobremaneira as trocas.

Os intercâmbios de brasileiros no CEG-ULisboa: contribuições a uma sistematização necessária

43Esforços empreendidos do lado português contribuíram para que os intercâmbios de conhecimentos geográficos produzidos dos dois lados do Atlântico encontrassem ainda meios de interlocução. A essa altura, o CEG-ULisboa dispunha de prestígio pelos trabalhos realizados e algum montante de dinheiro que possibilitaram importantes ações como a criação do periódico Finisterra – Revista Portuguesa de Geografia e que Orlando Ribeiro e seus assistentes pudessem receber no Centro uma série de estudantes estrangeiros em nível de especialização, iniciando o que a professora Suzanne Daveau (2019: 33) nomeou de “período dos estagiários”.

44Entre os estagiários lembrados por Daveau (2019) em entrevista concedida no I Colóquio Luso-Brasileiro de Teoria e História da Geografia, realizado em novembro de 2017 na Universidade de Lisboa, figuram os nomes de Antônia Déa Erdens e Maria Auxiliadora da Silva, ambas referidas pela professora como pesquisadoras que se destacaram em suas passagens por Portugal. Particularmente no tocante a Maria Auxiliadora, ao final do seu estágio houve uma solicitação de Orlando Ribeiro para renovação e prorrogação do período dos trabalhos – solicitação que não era muito comum –, o que não foi possível devido à necessidade de mudança da jovem geógrafa para doutoramento na França. De todo modo, as recordações de Daveau coadunam com as impressões registradas em cartas e documentos redigidos e trocados entre Orlando Ribeiro, o Diretor da Faculdade de Filosofia da Bahia – Thales de Azevedo – e Milton Santos, que expressam satisfação pelo compromisso, seriedade e qualidade dos trabalhos realizados por essas duas pesquisadoras.

45No ano de 1966, Maria Auxiliadora da Silva foi contemplada com uma bolsa de pesquisa em nível de especialização concedida pelo Instituto de Alta Cultura junto ao CEG-ULisboa. Depois de Antônia Déa Erdens, Maria Auxiliadora foi a segunda estagiária do Laboratório de Geomorfologia e Estudos Regionais da Universidade da Bahia a seguir para o CEG-ULisboa. Sua admissão se deu por meio de uma seleção intermediada pelo Gabinete Português de Leitura em Salvador, em que concorreram quarenta candidatos, sendo aprovados três professores – os historiadores Luiz Henrique Dias Tavares e Joildo Athayde e o artista plástico Carlos Eduardo – e a recém-licenciada Maria Auxiliadora da Silva.

  • 4 Agradecemos aos Professores Isabel Medeiros e Carlos Alberto Medeiros pela ajuda na identificação d (...)

46Embora tenha estabelecido fortes laços com o casal Orlando Ribeiro e Suzanne Daveau, a orientação dos trabalhos de campo que realizou e da redação da monografia que Maria Auxiliadora da Silva redigiu sobre a região de Coruche ficou a cargo daquele que passaria a ser reconhecido pelos seus orientandos como Engenheiro Cunha – o agrónomo e geógrafo José Correia da Cunha. A Figura 9 retrata uma das excursões orientadas por Correia da Cunha, visto no primeiro plano à esquerda da foto4. Logo atrás deste professor segue-se um grupo de estudantes onde se vê Maria Auxiliadora da Silva, António de Brum Ferreira e Carlos Alberto Medeiros – esses dois últimos assistentes do professor Orlando Ribeiro.

Figura 9: Excursão em Portugal

Figura 9: Excursão em Portugal

Arquivo pessoal de Maria Auxiliadora da Silva

47Em seguida, na figura 10 é possível ver um grupo mais amplo de estudantes do professor Orlando Ribeiro em atividade de campo nos arredores de Lisboa. Nesse grupo, além de Maria Auxiliadora da Silva, sentada e ao centro da imagem, destaca-se novamente a presença de dois assistentes do professor Ribeiro identificados na figura 9 – Carlos Alberto Medeiros e António de Brum Ferreira – que estavam sempre juntos aos estudantes estrangeiros recebidos pelo CEG-ULisboa e que, particularmente, estreitaram fortes laços de amizade com a geógrafa baiana, então estagiária em Portugal, como pode ser visto também na figura 11, a qual fixou alguns dos assistentes de Orlando Ribeiro e a jovem geógrafa da Bahia.

Figura 10: Excursão nos arredores de Lisboa

Figura 10: Excursão nos arredores de Lisboa

Da esquerda para a direita, identificamos Carlos Alberto Medeiros (primeiro à esquerda), Manuel Lucas Estêvão, então finalista de Geografia (no último plano), Maria Auxiliadora da Silva (sentada ao centro) e o Eng.º José Correia da Cunha (em pé), tendo à sua frente (sentado) Joaquim Lino da Silva, na altura bolseiro na área de Etnografia do Instituto Científico de Angola. À direita, António de Brum Ferreira e Fernando Rebelo (?), na altura assistente da Universidade de Coimbra e que frequentava o CEG de Lisboa enquanto cumpria o serviço militar

Arquivo pessoal de Maria Auxiliadora da Silva

Figura 11: Excursão dirigida por Jorge Gaspar

Figura 11: Excursão dirigida por Jorge Gaspar

Na qual se pode também ver o Eng.º José Correia da Cunha, Carlos Alberto Medeiros e a estagiária Maria Auxiliadora da Silva

Fonte: Arquivo pessoal de Maria Auxiliadora da Silva

48Além dos membros de participação frequente vistos nas fotografias anteriores, destaca-se, na figura 12, outra geógrafa baiana em atividade na Universidade de Lisboa – Norma Maria Ramos de Freitas, com quem Maria Auxiliadora da Silva apresentou no IV Colóquio Internacional de Estudos Luso-Brasileiros o trabalho “O bairro de Nazaré, estudo de Geografia Urbana”, como dissemos. Na figura 13, ainda foi possível identificar Carlos Alberto Medeiros, Maria Novaes Pinto, António de Brum Ferreira e Jorge Gaspar.

Figura 12: Momento de pausa e explicação em um dos trabalhos de campo coordenados por Orlando Ribeiro

Figura 12: Momento de pausa e explicação em um dos trabalhos de campo coordenados por Orlando Ribeiro

Os três primeiros, sentados, da esquerda para a direita: Joaquim Lino da Silva, Eng.º José Correia da Cunha, Fernando Rebelo (?), sendo os três últimos Manuel Lucas Estêvão, António de Brum Ferreira e Carlos Alberto Medeiros. Sentado, de costas: Jorge Gaspar

Arquivo pessoal de Maria Auxiliadora da Silva

49As figuras 13 e 14, por sua vez, retratam as pesquisadoras do Laboratório de Geomorfologia e Estudos Regionais da Universidade da Bahia, Maria Auxiliadora da Silva e Norma Maria Ramos de Freitas, em momento de lazer com os amigos que fizeram no CEG-ULisboa. Na figura 14 também foi possível identificar a presença de Joildo Atayde, outro pesquisador baiano em intercâmbio e com o qual, particularmente, Maria Auxiliadora estabeleceu forte laço de amizade e foi também, mais tarde, colega na Universidade da Bahia após ambos serem admitidos como professores. Por ser historiador, Joildo Athayde foi direcionado para outro centro de pesquisa na Universidade de Lisboa quando da sua passagem como estagiário em Portugal.

Figura 13: Norma Maria Ramos de Freitas e Antônio de Brum Ferreira em momento de lazer em um lago nos arredores de Lisboa

Figura 13: Norma Maria Ramos de Freitas e Antônio de Brum Ferreira em momento de lazer em um lago nos arredores de Lisboa

Arquivo pessoal de Maria Auxiliadora da Silva

Figura 14: Da esquerda para a direita: o primeiro não foi identificado, Norma Freitas, Maria Auxiliadora da Silva e Joildo Athayde

Figura 14: Da esquerda para a direita: o primeiro não foi identificado, Norma Freitas, Maria Auxiliadora da Silva e Joildo Athayde

Fonte: Arquivo pessoal de Maria Auxiliadora da Silva

50O “período dos estagiários”, para citarmos a expressão utilizada pela professora Suzanne Daveau (2019), não se circunscreveu apenas à presença de estudantes estrangeiros no CEG-ULisboa, conforme pode ser visto na figura 15. Na imagem é possível ver o destacado geógrafo brasileiro Orlando Valverde portando uma máquina fotográfica em trabalho de campo pelos arredores de Lisboa, juntamente com os professores Suzanne Daveau, Alfredo Fernandes Martins e Orlando Ribeiro. Atrás de Orlando Ribeiro (de chapéu branco), à esquerda, parece reconhecer-se o etnólogo Manuel Viegas Guerreiro.

Figura 15: O geógrafo brasileiro Orlando Valverde ao lado de outros professores portugueses

Figura 15: O geógrafo brasileiro Orlando Valverde ao lado de outros professores portugueses

Arquivo pessoal de Maria Auxiliadora da Silva

51Os documentos armazenados nos arquivos do CEG-ULisboa ou em acervos pessoais, ainda carecem de maior sistematização e de um trabalho de interpretação, de modo a contribuir para a remontagem de um capítulo importante da história da Geografia em âmbito internacional. Nesse sentido, muito ainda precisa ser feito para que haja uma organização sistemática sobre os materiais de pesquisa referentes aos intercâmbios e trocas de saberes geográficos entre portugueses e brasileiros. Para contribuir com esses primeiros esforços de sistematização, trouxemos nesse tópico parte do acervo iconográfico de Maria Auxiliadora da Silva, de forma comentada, buscando evidenciar sujeitos e lugares envolvidos nos intercâmbios de conhecimentos favorecidos pelos estágios no CEG-ULisboa.

52A história da Geografia – paralelamente à sua epistemologia – escrita no século XX centrou suas atenções nas produções anglo e francófonas, contribuindo para que a produção do conhecimento geográfico nos países ibéricos e latino-americanos fossem postos, via de regra, em uma posição semiperiférica, conforme destacam Paiva e Oliveira (2020) ao tratarem, particularmente, dos casos de Portugal e Brasil. Os contextos políticos e econômicos bastante turbulentos vividos por esses países no último século, marcado por governos autoritários, crises econômicas e toda ordem de problemas ou empecilhos à produção científica, contribuíram para tal situação e para que importantes páginas da história da Geografia em nível internacional permaneçam ainda desconhecida de grande parcela dos geógrafos pelo mundo a fora (Paiva e Oliveira, 2020; Sousa, 2020).

  • 5 Intercâmbios de saberes geográficos têm sido fomentados nos últimos anos entre geógrafos do CEG-ULi (...)

53Todavia, alguns importantes esforços têm ocorrido nos últimos anos, materializados nas formas de projetos de cooperações transnacionais, simpósios e seminários, produções bibliográficas e intercâmbios de conhecimentos e demais modos de parcerias.5 Esperamos, nesse primeiro momento, com a escrita desse artigo e a disponibilização no texto desse acervo pessoal construir mais pontes, caminhos e questões de pesquisa do que encerrar conclusões maiores acerca de capítulos fundamentais para a compreensão da nossa história disciplinar e, por consequência, sua epistemologia.

Considerações finais

54A realização do IV Colóquio Internacional de Estudos Luso-Brasileiros na Universidade da Bahia no ano de 1959 e os estágios de brasileiros no CEG-ULisboa na década seguinte foram centrais para o estreitamento de relações e intercâmbios de conhecimentos geográficos entre pesquisadores de Salvador e Lisboa, particularmente. O ânimo social vivido pelo estado e pela universidade da Bahia naquele momento foi, certamente, elemento levado em consideração para tal escolha. Decerto que a jornada acadêmica e artístico-cultural ultrapassou questões e interesses mais especificamente geográficos, todavia, o fato de uma das suas sessões ter comportado um grande número de geógrafos e geógrafas de diferentes países contribuiu, sobremaneira, para que o recém-criado Laboratório de Geomorfologia e Estudos Regionais encontrasse ambiente propício para apresentar suas propostas e ambições em âmbito internacional.

55Coadunando com o espírito de uma elite modernizante que visava recolocar a Bahia em um contexto político-econômico mais favorável no conjunto do território nacional, os líderes do Laboratório enxergavam na Geografia toda a potencialidade que a disciplina tinha a oferecer a esse projeto e, para tanto, buscaram pôr em prática e refletir sobre uma Geografia que estivesse em sintonia com as premissas e métodos científicos desenvolvidos nos principais centros produtores de conhecimento geográfico internacionalmente. Àquela altura as principais interlocuções dos geógrafos de Salvador parecem mesmo ter se dado com portugueses de Lisboa e franceses de Strasbourg.

56Entre os frutos do IV Colóquio, diretos ou indiretos, evidenciamos nesse artigo os intercâmbios de estudantes brasileiros para temporadas de estágio em Lisboa, mas poderíamos também citar a manutenção das cooperações acadêmicas e dos laços de amizade que se estenderam pelas décadas seguintes, incluindo a França como ponto de interseção das relações entre os geógrafos de Salvador e de Lisboa. A geração de geógrafos formada pelo Laboratório de Geomorfologia e Estudos Regionais da Universidade da Bahia deu, posteriormente, um direcionamento acadêmico ao Departamento de Geografia da Universidade Federal da Bahia, criado no final da década de 1960.

57A história que se seguiu foi a do tensionamento entre uma geração que iniciou seus trabalhos na década de 1950 entendendo a dimensão cosmopolita da ciência e a necessidade da projeção internacional de um lado e, de outro, as dificuldades de toda ordem enfrentadas na porção periférica ou semiperiférica do mundo acadêmico. Tema para outros textos.

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Notas

1 Tais registros se verificam, sobretudo, em atas, relatórios, anais de congressos e demais publicações de agremiações como o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), a Seção da Sociedade de Geografia de Lisboa no Brasil e a Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro (SGRJ) (Mary, 2010; Guimarães, 2011; Cardoso, 2013; Oliveira; Paiva, 2019a).

2 Entre alguns dos Laboratórios criados na Universidade da Bahia destacavam-se o Instituto de Economia e Finanças; o Instituto de Estudos Luso-Brasileiros; o Laboratório de Fonética, o Gabinete de Filologia Românica, entre outros.

3 Os países e número de adesistas ao evento estiveram assim distribuídos: Alemanha (4); Argentina (1); Brasil (241); Chile (1); Espanha (14); Estados Unidos (22); França (22); Holanda (3); Inglaterra (4); Itália (11); Portugal (109); Romênia (1); Uruguai (2) (IV Colóquio Internacional de Estudos Luso-Brasileiros, 1959).

4 Agradecemos aos Professores Isabel Medeiros e Carlos Alberto Medeiros pela ajuda na identificação dos pesquisadores portugueses presentes nas imagens deste tópico.

5 Intercâmbios de saberes geográficos têm sido fomentados nos últimos anos entre geógrafos do CEG-ULisboa e de diferentes universidades do Brasil acerca de temas os mais diversos. Particularmente no tocante à História da Geografia, destacam-se os esforços de Francisco Roque de Oliveira que têm estabelecido recentemente uma plataforma de diálogo com pesquisadores da Bahia, Rio de Janeiro e Brasília, resultando em cooperações internacionais, seminários e publicações que versam sobre as relações recíprocas na produção do conhecimento geográfico entre as duas comunidades científicas.

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Índice das ilustrações

Título Figura 1: Grupo de pesquisadores em frente às instalações do Laboratório de Geomorfologia e Estudos Regionais durante a realização do IV Colóquio Internacional de Estudos Luso-Brasileiros, 1959
Créditos Arquivo pessoal de Maria Auxiliadora da Silva
URL http://journals.openedition.org/terrabrasilis/docannexe/image/11116/img-1.jpg
Ficheiros image/jpeg, 80k
Título Figura 2: Livro da excursão Nº 6 (Bahia)
Créditos Arquivo pessoal de André Nunes de Sousa
URL http://journals.openedition.org/terrabrasilis/docannexe/image/11116/img-2.jpg
Ficheiros image/jpeg, 74k
Título Figura 3: Uma das mesas-redondas do IV Colóquio Internacional de Estudos Luso-Brasileiros
Créditos Arquivo pessoal de Maria Auxiliadora da Silva
URL http://journals.openedition.org/terrabrasilis/docannexe/image/11116/img-3.jpg
Ficheiros image/jpeg, 44k
Título Figura 4: Vista da plateia durante apresentação de trabalhos na sessão O Meio e o Homem
Créditos Arquivo pessoal de Maria Auxiliadora da Silva
URL http://journals.openedition.org/terrabrasilis/docannexe/image/11116/img-4.jpg
Ficheiros image/jpeg, 48k
Título Figura 5: Valdir Oliveira, Professor da Universidade da Bahia e secretariando sessão comandada por Jean Tricart
Créditos Arquivo pessoal de Maria Auxiliadora da Silva
URL http://journals.openedition.org/terrabrasilis/docannexe/image/11116/img-5.jpg
Ficheiros image/jpeg, 102k
Título Figura 6: Participação de Teresa Cardoso da Silva no IV Colóquio Internacional de Estudos Luso-Brasileiros
Créditos Arquivo pessoal de Maria Auxiliadora da Silva
URL http://journals.openedition.org/terrabrasilis/docannexe/image/11116/img-6.jpg
Ficheiros image/jpeg, 225k
Título Figura 7: Francisco Tenreiro na plateia do IV Colóquio Internacional de Estudos Luso-Brasileiros
Créditos Arquivo pessoal de Maria Auxiliadora da Silva
URL http://journals.openedition.org/terrabrasilis/docannexe/image/11116/img-7.jpg
Ficheiros image/jpeg, 58k
Título Figura 8: Francisco Tenreiro na Praia do Jangadeiro, bairro da Pituba, Salvador
Créditos Arquivo pessoal de Maria Auxiliadora da Silva
URL http://journals.openedition.org/terrabrasilis/docannexe/image/11116/img-8.jpg
Ficheiros image/jpeg, 80k
Título Figura 9: Excursão em Portugal
Créditos Arquivo pessoal de Maria Auxiliadora da Silva
URL http://journals.openedition.org/terrabrasilis/docannexe/image/11116/img-9.jpg
Ficheiros image/jpeg, 57k
Título Figura 10: Excursão nos arredores de Lisboa
Legenda Da esquerda para a direita, identificamos Carlos Alberto Medeiros (primeiro à esquerda), Manuel Lucas Estêvão, então finalista de Geografia (no último plano), Maria Auxiliadora da Silva (sentada ao centro) e o Eng.º José Correia da Cunha (em pé), tendo à sua frente (sentado) Joaquim Lino da Silva, na altura bolseiro na área de Etnografia do Instituto Científico de Angola. À direita, António de Brum Ferreira e Fernando Rebelo (?), na altura assistente da Universidade de Coimbra e que frequentava o CEG de Lisboa enquanto cumpria o serviço militar
Créditos Arquivo pessoal de Maria Auxiliadora da Silva
URL http://journals.openedition.org/terrabrasilis/docannexe/image/11116/img-10.jpg
Ficheiros image/jpeg, 166k
Título Figura 11: Excursão dirigida por Jorge Gaspar
Legenda Na qual se pode também ver o Eng.º José Correia da Cunha, Carlos Alberto Medeiros e a estagiária Maria Auxiliadora da Silva
Créditos Fonte: Arquivo pessoal de Maria Auxiliadora da Silva
URL http://journals.openedition.org/terrabrasilis/docannexe/image/11116/img-11.jpg
Ficheiros image/jpeg, 62k
Título Figura 12: Momento de pausa e explicação em um dos trabalhos de campo coordenados por Orlando Ribeiro
Legenda Os três primeiros, sentados, da esquerda para a direita: Joaquim Lino da Silva, Eng.º José Correia da Cunha, Fernando Rebelo (?), sendo os três últimos Manuel Lucas Estêvão, António de Brum Ferreira e Carlos Alberto Medeiros. Sentado, de costas: Jorge Gaspar
Créditos Arquivo pessoal de Maria Auxiliadora da Silva
URL http://journals.openedition.org/terrabrasilis/docannexe/image/11116/img-12.jpg
Ficheiros image/jpeg, 94k
Título Figura 13: Norma Maria Ramos de Freitas e Antônio de Brum Ferreira em momento de lazer em um lago nos arredores de Lisboa
Créditos Arquivo pessoal de Maria Auxiliadora da Silva
URL http://journals.openedition.org/terrabrasilis/docannexe/image/11116/img-13.jpg
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Título Figura 14: Da esquerda para a direita: o primeiro não foi identificado, Norma Freitas, Maria Auxiliadora da Silva e Joildo Athayde
Créditos Fonte: Arquivo pessoal de Maria Auxiliadora da Silva
URL http://journals.openedition.org/terrabrasilis/docannexe/image/11116/img-14.jpg
Ficheiros image/jpeg, 111k
Título Figura 15: O geógrafo brasileiro Orlando Valverde ao lado de outros professores portugueses
Créditos Arquivo pessoal de Maria Auxiliadora da Silva
URL http://journals.openedition.org/terrabrasilis/docannexe/image/11116/img-15.jpg
Ficheiros image/jpeg, 126k
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Para citar este artigo

Referência eletrónica

Maria Auxiliadora da Silva e André Nunes de Sousa, «Intercâmbios de saberes geográficos Salvador-Lisboa»Terra Brasilis [Online], 17 | 2022, posto online no dia 30 junho 2022, consultado o 02 junho 2023. URL: http://journals.openedition.org/terrabrasilis/11116; DOI: https://doi.org/10.4000/terrabrasilis.11116

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Autores

Maria Auxiliadora da Silva

Universidade Federal da Bahia – UFBA
Institut

 

o de geociências
E-mail: dorasilv@ufba.br
ORCID: 0000-0002-3332-2132

André Nunes de Sousa

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia – IFBA
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