Introdução

1A olivicultura esteve sempre presente na cultura agrícola portuguesa. Nos últimos 20 anos, Portugal investiu na modernização do setor oleícola para acompanhar a crescente concorrência internacional (Dawson, 2020). Este aumento da produção deve-se ao aumento do investimento do país em novas tecnologias e em olivais de alta densidade mais eficientes, que têm vindo a substituir os olivais tradicionais (Mukundi, 2021).

2O olival está incluído na lista do Património Cultural Imaterial da Humanidade, com interesse na preservação e desenvolvimento, no entanto, a “trilogia” que reúne natureza, património e cultura parece conferir ao olival um cenário inesperado para ancorar novos usos do território, nomeadamente com a valorização de dinâmicas turísticas que apostam nos seus produtos, na gastronomia, nos elementos paisagísticos e na sua fruição.

3É nesta simbiose que se pode ancorar o olivicultura, modalidade que valoriza a agricultura e a natureza, que inclui também a valorização económica e social das comunidades rurais.

4O património olivícola é considerado uma referência na identidade e um elemento central das civilizações mediterrânicas. Por esta razão, a Dieta Mediterrânica, da qual o azeite é um dos ingredientes mais importantes, foi classificada pela UNESCO em 2013 como Património Cultural Imaterial da Humanidade (Abril-Sellarés e Tello, 2019).

5A atividade agrícola contribui para a preservação de um vasto património, considerado como herança dos modos de vida e do “saber-fazer”, preservado pelos agricultores e pelas comunidades rurais; no entanto, enfrenta actualmente o desafio de salvaguardar a história e as tradições que a rodeiam. Enquanto segmento turístico, o olivicultura, particularmente em Portugal, tem vindo a crescer nos últimos anos, o que se tem traduzido num forte desenvolvimento económico nas regiões rurais onde predominam os olivais e, consequentemente, os lagares. Estas estruturas, que noutros tempos serviam apenas para o fabrico de azeite, passam agora a desempenhar outras funções, transformando-se em núcleos museológicos que dinamizam um território rural.

6Associada ao seu carácter emblemático, a oliveira corporiza um conjunto de perceções, realidades e narrativas que se fundem através de símbolos, sensações e múltiplas representações (ADRAL, 2014b).

7Testemunha dos costumes, tradições e estilos de vida de diferentes culturas, como a grega e a romana, a oliveira é um elemento frequente nas lendas, mitos e religiões de múltiplas civilizações (Nguyen, 2018; Şahin e Aydin, 2017).

8A prática da olivicultura encontra-se fortemente ligada ao desenvolvimento sustentável da maioria dos espaços rurais e contribui para a valorização e conservação da identidade única destes locais, através da promoção de atividades tradicionais que podem ser vivenciadas pelos turistas, provenientes de zonas urbanas, e que procuram experiências únicas e memoráveis nestes locais (Elias e Barbero, 2017).

9O perfil económico e os recursos disponíveis de uma região fornecem uma indicação significativa do sucesso do desenvolvimento económico de uma região, devendo existir uma relação de cooperação entre os setores público e privado, para alcançar com sucesso as estratégias e os objetivos de desenvolvimento sustentável (Pedrana , 2013).

10Neste contexto surge este trabalho, que tem como principal objetivo explorar o olivicultura como produto turístico-cultural e como este tem influenciado a valorização e conservação da identidade única dos locais, através da promoção de atividades tradicionais e do desenvolvimento de produtos à base de azeite.

11O estudo abrange o contexto dos Lagares de Proença-a-Velha – Núcleo do Azeite. Considerando que este equipamento visa proteger e divulgar a memória da importância do azeite na economia do concelho de Idanha-a-Nova e Idanha-a-Velha, o desenvolvimento de práticas de olivivoturismo, em cooperação com outros agentes locais, representa uma oportunidade única de crescimento e diferenciação, num mercado cada vez mais competitivo.

12Atualmente existe uma maior preferência por ambientes ao ar livre, destinos rurais e contacto com a natureza. Existe uma maior consciência ambiental e social que leva a uma maior procura de experiências mais orgânicas, que promovam a identidade local e a interação cultural. Quando falamos de desenvolvimento do espaço rural, não nos referimos apenas ao crescimento económico, referimo-nos também à evolução social, ao mesmo tempo que trabalhamos nestas duas áreas, garantimos também a perpetuação da identidade do território e a preservação do património cultural associado a ele (Morales et al., 2015).

13Relacionando a paisagem, a cultura e o território, as tradições alimentares são atualmente um dos pilares que sustentam um conjunto de iniciativas de desenvolvimento territorial (Yeoman et al., 2007).

14As infra-estruturas e os investimentos num território podem afetar o desenvolvimento económico local. As instituições públicas, quer governamentais, quer não, terão de estar conscientes das capacidades intrínsecas e extrínsecas que uma região deve contribuir para a promoção e desenvolvimento territorial. O envolvimento das instituições públicas no turismo é essencial para que a dinâmica turística se torne um fator regenerador do desenvolvimento e da coesão territorial. A dinâmica de interligação entre o turismo, a sustentabilidade e a coesão territorial deve integrar recursos endógenos que possam promover a inclusão social e a equidade através de uma maior igualdade de competências territoriais com a articulação da oferta de serviços turísticos e culturais.

15A mobilização do património natural e cultural deve desempenhar um papel cada vez mais importante no processo de desenvolvimento dos territórios do interior, harmonizando a salvaguarda destes recursos com adaptações sustentáveis que beneficiem as comunidades locais.

16Atualmente, a adaptação e as configurações práticas destes espaços, mais rurais e naturais, ligadas às dinâmicas económicas e às políticas ambientais estão a provocar o surgimento de novas atividades turísticas, como o olivoturismo.

17A prática do olivivoturismo não é apenas uma estratégia para obter um novo impulso económico, mas também uma prática imbuída de valores culturais e sociais, valorizando a identidade cultural das comunidades rurais (Campón-Cerro et al., 2014; Hernández-Mogollón et al., 2019). Murgado (2013) afirma que o olivoturismo é também uma manifestação do turismo cultural, pois baseia-se no património cultural e constitui um instrumento fundamental para a inclusão e dinamização socioeconómica de uma região. Mais especificamente, é através das suas expressões simbólicas e materiais que o olivoturismo se torna uma atração de valor acrescentado para o turismo (Toselli, 2019).

18É com esta alusão ao património cultural que Yerliyurt e Manisa (2014) reforçam a relevância do olivoturismo na conservação dos valores socioculturais do património olivícola, mas também na preservação dos lagares tradicionais de azeite. Millán et al. (2014a) reforçam esta ideia, afirmando que esta atividade turística promove a sustentabilidade dos destinos, através da conservação e adaptação do património olivícola, mantendo-o vivo e ativo para espaços de visitação dos turistas.

19Miftarevic e Mitrovic (2019) afirmam que os turistas destes segmentos ligados à gastronomia procuram não só a imersão na cultura local, mas também são movidos pela sua própria experiência, pelo prazer de experimentar, degustar, por despertar os seus sentidos, e são também motivados pelo prazer do usufruto do meio rural, pela necessidade de socialização, pela oportunidade de compra e pelos conhecimentos adquiridos sobre as variedades de azeite.

20Neste sentido, a prática da olivicultura está fortemente ligada ao desenvolvimento turístico e cultural de espaços mais naturais e rurais, contribuindo para a valorização e conservação da identidade única dos locais, através da promoção de atividades tradicionais que podem ser vivenciadas pelos turistas. urbanas, e que procuram experiências únicas e memoráveis nestes locais (Elias e Barbero, 2017).

21Assim, estratégias de desenvolvimento de produtos baseados no azeite e na oliveira são relevantes para potenciar o conhecimento do próprio produto e a sua ligação com a história e tradições locais, capazes de estimular e apoiar novas relações sociais (de Salvo et al., 2013).

22Atualmente, a sustentabilidade no turismo surge como um alicerce do futuro do setor, refletida em diversas práticas como o ecoturismo, o turismo cultural, o turismo rural, o turismo de natureza e o turismo comunitário (Pan et al., 2018). A atividade turística pode servir como um instrumento capaz de potenciar o desenvolvimento económico e social, mantendo o equilíbrio entre os interesses económicos, sociais e ambientais (Baidal, 2004; Park et al., 2012).

23O aumento do turismo oleícola, através da exploração de recursos ligados à oliveira e ao azeite, a divulgação dos valores ecológicos, os novos desafios para o território, a produção para consumo e a recuperação de algumas atividades têm contribuído para a revitalização da coesão territorial.

I. O olivicultura como produto turístico-cultural

24Com registos que datam de mais de 10.000 a.C., o cultivo da oliveira (Olea europaea) tem uma vasta história e cultura que perpassa a produção de azeite. O cultivo da oliveira ocupa cerca de 10 milhões de hectares em todo o mundo, o que representa 90% de uma área localizada na costa mediterrânica.

25Segundo os geógrafos, a primeira oliveira que se vê quando se viaja de Norte para Sul é a prova de que se está em território mediterrânico, tal como se diz que “o cultivo da oliveira identifica o clima (Loumou e Giourga, 2003, p. 88).

26Portugal tem um excelente clima e orografia para a olivicultura, e não é por acaso que os olivais dominam a paisagem portuguesa, como testemunho da vitalidade multimilenar do setor oleícola. A olivicultura sempre teve impacto na economia do país, embora a sua quota de influência tenha variado em função dos contextos económicos e ambientais que a moldaram irremediavelmente.

27No contexto rural, o desenvolvimento de atividades turísticas baseadas em recursos endógenos é um fator essencial na diversificação económica destes territórios (Campón-Cerro et al., 2017). Por esta razão, o desenvolvimento da olivicultura apresenta características semelhantes às atribuídas ao turismo rural sustentável (Millán et al., 2014b).

28Esta atividade incentiva os seus promotores a procurar novas alternativas que possam oferecer experiências autênticas e estimulantes aos visitantes (Campón-Cerro et al., 2017), mas sempre para promover o uso sustentável dos recursos (Rodríguez-Entrena et al., 2017). O olivicultura dinamiza o mercado oleícola e acrescenta valor aos seus produtos, além disso, oferece experiências únicas e a oportunidade de interação entre consumidores e produtores e a partilha de novos conhecimentos. O olivivoturismo caracteriza-se também como um importante mecanismo de redução da sazonalidade no setor oleícola (Millán et al., 2014a).

29O azeite proporciona inúmeros benefícios para a saúde e é a “gordura” central da Dieta Mediterrânica, dieta que foi declarada Património Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO a 4 de dezembro de 2013 (Ministério dos Negócios Estrangeiros, 2013).

30Segundo o Conselho Oleícola Internacional (COI, 2020), o azeite é extraído do fruto da “Olea europaea L.”, obtido por métodos mecânicos ou físicos, respeitando determinadas condições térmicas e de produção, garantindo que o azeite não é submetido a nenhum outro processo para além da lavagem, decantação, centrifugação e filtração. Esta gordura saudável pode ser classificada como azeite virgem extra, azeite virgem, azeite e azeite refinado. Para além destas classificações, no mercado é também possível encontrar azeite com Denominação de Origem Protegida (DOP).

31Trata-se de uma certificação criada pela União Europeia que garante que o azeite é um produto elaborado de acordo com determinados padrões de qualidade, nomeadamente produção numa região definida, utilizando produtos locais e saberes tradicionais (Agência de Desenvolvimento Regional do Alentejo (ADRAL, 2014a). Não só o olivoturismo, mas também o património olivícola representa não só o azeite como produto alimentar, mas também a sua história, cultura e tradição. al., 2019).

32Considera-se “oleoturista” a pessoa que, no âmbito dos seus tempos livres, se desloca para um local diferente da sua residência habitual, para aprofundar conhecimentos sobre a cultura do olival e do azeite, sem necessariamente ter de permanecer num local específico, e realizar algumas das seguintes atividades: 1) visitar a envolvente relacionada com o olival e o azeite; 2) visitar a zona de plantação de oliveiras; 3) desfrutar de experiências culinárias aprendendo sobre iguarias e utilizando azeite e azeitonas; 4) adquirir conhecimentos sobre o cultivo da oliveira; 5) participar em eventos gastronómicos; 6) participar em rotas ligadas à oliveira e ao azeite; 7) explorar as características do comércio relacionado com a azeitona e o azeite, enquanto produtos de saúde e bem-estar; 8) apreciar o meio natural e rural e, 9) patrocinar oliveiras centenárias.

33Toda esta dinâmica do olivoturismo, permite a promoção do azeite e do património existente no território, possibilitando a promoção dos produtos endógenos. O turismo que promove a qualidade dos produtos nas zonas rurais pode permitir a estimulação económica local. Neste contexto, pode dizer-se que a olivicultura contribui para a economia local, tornando-se uma atividade complementar e uma fonte alternativa de rendimento.

34A existência de uma certa simbiose de desenvolvimento económico e social, em que surge a questão da sustentabilidade, deve integrar um novo uso do território, nomeadamente com a valorização de dinâmicas turísticas que apostam nos seus produtos, na gastronomia, nos elementos paisagísticos, e na a sua fruição. A valorização económica e social das comunidades rurais também está incluída (Figura 1).

35O olivoturismo pode restaurar a esperança de inovação no desenvolvimento local, potenciando a viabilidade económica através do envolvimento de todos os agentes, com o apoio da política institucional, bem como contribuindo para a dinamização e integração social no ambiente local (Martins et al., 2022 ).

36Neste aspeto destaca-se também a diversidade biológica, aliando a preservação dos ecossistemas à interação dos agentes locais, bem como à proteção das espécies nativas. Esta ação pressupõe uma integração partilhada do recurso ao mesmo tempo que promove o desejo de satisfação dos turistas (Cardoso e Lopes, 2022).

37Significa que o olivoturismo constitui um recurso eficiente, pois incentiva as famílias a instalarem-se nos territórios rurais como forma de subsistência e de criação dos seus negócios. Pode assumir uma posição competitiva no mercado especializando-se em produtos de saúde e bem-estar, como cosméticos e relaxamento.

38Neste sentido, o potencial do olivoturismo tem sido cada vez mais reconhecido pelos produtores de azeite, e o sucesso passará também pela valorização da gastronomia, num contexto onde o azeite deve ser considerado um elemento agregador e diferenciador do território, da cultura, das tradições, e, ao mesmo tempo, gerador de experiências e emoções.

A. A perceção da(s) dinâmica(s) do(s) território(s): contributo de Tiago Lourenço Azeites Egitânia

“O olivoturismo pode desenvolver-se como um produto turístico e cultural que diferencia um território. Com a criação de uma rede de parceiros locais de natureza territorial ligados aos produtores locais para criar uma defesa e identidade territorial para trabalhar as sinergias que existem naquele território” (Tiago Lourenço, produtor de Azeite Egitânia. In Entrevista, 2023).

39Para este produtor de azeite, pensar o turismo de forma estruturada significa vivenciar um espaço gastronómico. Além disso, ter percursos ligados à olivicultura para explorar ainda mais o olival e sensibilizar para as dificuldades enfrentadas pelos olivais para os preservar.

40A prática da olivicultura pode contribuir para a valorização e conservação da identidade única dos locais, através da promoção de atividades tradicionais que podem ser vivenciadas pelos turistas. Esta prática é possível através “da criação de uma rede ligada à olivicultura onde as pessoas têm um programa de fim de semana em que podem passar um dia do lado português e outro do lado espanhol a degustar as variedades de azeite, visitando espaços museológicos e culturais” (Tiago Lourenço, produtor de Azeite Egitânia. In Entrevista, 2023).

41O azeite desempenha um papel importante na dinâmica da sustentabilidade, sendo o olival um espaço de biodiversidade, um espaço de relações dinâmicas de interação e coordenação entre as materializações económicas e sociais do território.

42A estratégia de desenvolvimento de produtos à base de azeite e oliveira é relevante para aprofundar o conhecimento do próprio produto e das tradições locais. A recuperação das actividades ligadas aos lagares e à produção de azeite é também importante para a coesão territorial.

“A recreação cultural, através das escolas para uma educação mais ligada à gastronomia, à sustentabilidade ambiental e à interpretação do território, é fundamental. A olivicultura não é coisa do passado, deve ser coisa do presente, viva e funcional pois tem um valor cultural que deve ser aproveitado para dinamizar e desenvolver uma cadeia de valor” (Tiago Lourenço, produtor de Azeite Egitânia. In Entrevista, 2023).

II. Metodologia

43Este trabalho procurou compreender de que forma a olivicultura, enquanto produto turístico-cultural, pode contribuir para a valorização e conservação da identidade única dos locais, através da promoção de atividades tradicionais e do desenvolvimento de produtos à base de azeite e oliveira.

44Para atingir este objetivo partiu-se da observação do território, aplicando paralelamente um inquérito por questionário (durante os meses de abril e aio) em Idanha-a-Nova, Portugal, com um total de quarenta e cinco inquiridos (n=45).

45O inquérito foi aplicado (presencialmente) no Posto de Turismo de Idanha-a-Nova aos visitantes que se deslocaram ao Posto de Turismo para obter informações sobre o território.

46Considera-se que a principal limitação deste trabalho é a pequena amostra, mas mesmo sendo um estudo exploratório inicial, permitiu destacar alguns resultados pertinentes que constituirão futuras linhas de aprofundamento com replicação do questionário noutros Postos de Turismo, que se enquadram no contexto deste tema.

III. Discussão dos resultados

47Um dos primeiros resultados diz respeito à olivicultura (Figura 2), e ao que os turistas mais procuram e valorizam na prática da olivicultura (Figura 3).

48Verifica-se (Figura 2) que os turistas valorizam as experiências e todo o património olivícola envolvente (37,8%), sendo que 17,8% dos inquiridos afirmam ter uma experiência diferente.

49Como resultado interessante, o estudo destaca a apreensão por parte dos inquiridos em relação ao território. Referem a importância de conhecer a cultura e o património local (22,2%).

50Refira-se sobre este resultado que apenas 11,1% afirmam que a olivicultura é importante para apoiar a economia local. Verifica-se ainda que 86,7% afirma que o património olivícola e a olivicultura contribuem para o desenvolvimento da região (Figura 3).

51Este resultado aponta para a promoção de espaços rurais onde os visitantes possam usufruir de atividades de lazer associadas à natureza e, especificamente, à olivicultura. Além disso, deve também ser promovida a criação de sinergias com entidades locais, para incentivar o desenvolvimento da economia local e regional. O objetivo será incentivar os visitantes a desfrutarem da perceção e compreensão das tradições da região.

52Um resultado interessante diz respeito à escolha da experiência turística e à forma como os inquiridos avaliam a sua experiência (Figura 4). Os resultados apresentados no gráfico remetem para a reflexão da OMC (2020), ao referir-se ao desenvolvimento de produtos e integração da cadeia de valor para uma experiência de viagem sustentável e melhorada, promovendo políticas e práticas sustentáveis nos destinos rurais (Um Guia para Tornar o Turismo uma Ferramenta Eficaz para o Desenvolvimento Rural, OMT, 2020).

53Como se pode observar, os inquiridos possuem os critérios principais (discordo; discordo; nem concordo nem discordo; concordo e concordo). Por ordem de interesse, em primeiro lugar a gastronomia, e, com o mesmo grau de relevância, a localização e acessibilidade, seguindo-se a qualidade da informação, o preço, a animação e, por último, o alojamento, a proximidade com a localização das comunidades e os elementos sensoriais. Com base nos resultados, observou-se que tais características do património oleícola e do olivoturismo são importantes para o desenvolvimento das regiões.

54A criação de novos produtos é fundamental para a atratividade dos territórios. Promoção e iniciativas de comunicação interna sobre o território, ou seja, instruir e formar grande parte da comunidade local sobre as potencialidades e atributos que existem na região para que grande parte da população conheça o local onde vive e saiba mais facilmente comunicar.

55Ações de sensibilização da comunidade local, para incentivar a sua participação na comunicação sobre o destino. Consulta periódica à maioria dos intervenientes da região (desde hotéis, restaurantes, lojas, cafés e bares) para conhecer as suas necessidades, interesses e preocupações sobre o território.

56Atualmente, verifica-se uma tendência de declínio das atividades tradicionais, o que tem demonstrado um grande êxodo populacional das zonas rurais juntamente com o envelhecimento da população. A União Europeia, perante tamanha fragilidade, centrou-se na implementação de políticas de desenvolvimento rural, nas quais os líderes e as autoridades locais procuram ações inovadoras para resolver os problemas dos territórios mais vulneráveis. Uma situação que beneficia o bem-estar da população rural (Popescu et al., 2022).

57Neste contexto, o desenvolvimento rural refere-se à melhoria sustentável das condições de vida das pessoas que vivem em zonas rurais (Ashley e Maxwell, 2001).

58Ao discutir os resultados obtidos neste estudo e relacioná-los com alguns autores elencados na parte introdutória deste trabalho, reforça-se a relevância atribuída à acessibilidade e à qualidade da informação existente nos territórios.

59Podem ajudar a criar novos rumos e políticas que proporcionem melhores possibilidades para o desenvolvimento rural com equilíbrio dos ecossistemas, equidade social e crescimento económico. Com base nos resultados observou-se que as características associadas à olivicultura e ao olivoturismo são importantes para o desenvolvimento de territórios mais rurais.

Conclusões

60As conclusões obtidas apontam para a importância da olivicultura e do património olivícola para o meio rural, para o desenvolvimento da região. Ao mesmo tempo, contribui para a promoção das atividades associadas à oliveira e ao azeite, e para a valorização e proteção dos recursos naturais.

61Há também um forte contributo para a sustentabilidade económica, ao promover a produção de produtos de qualidade e com valor acrescentado. Além disso, do ponto de vista social, proporciona uma maior atração de investimento e a criação de novos postos de trabalho na olivicultura, no alojamento e na restauração, bem como na retenção da população e na recuperação do saber-fazer tradicional.

62Como se pode verificar, os resultados apontam para a importância da existência de dinâmicas de interligação entre o turismo e a coesão territorial que deverão integrar recursos endógenos capazes de demarcar competências territoriais com a articulação da oferta de serviços turísticos e culturais.

63O olivicultura e o património ligado ao recurso oliveira na sua relação com o território congrega outras atividades culturais, industriais, rurais, arquitetónicas, gastronómicas, históricas, sociais e paisagísticas.

64A dinâmica entre estes dois recursos poderá contribuir para o desenvolvimento territorial. Neste sentido, o olivicultura pode ser enquadrado como uma ferramenta de sustentabilidade territorial. São necessárias ações de sensibilização da comunidade local, para incentivar a sua participação na comunicação sobre o destino.

65O olivoturismo pode ser visto como uma ferramenta de sustentabilidade, do ponto de vista ambiental, pois incentiva a valorização e proteção dos recursos naturais; sustentabilidade económica, ao contribuir para a produção de produtos de qualidade e valor acrescentado. Também do ponto de vista social, contribuindo para a captação de investimento e para a criação de novos postos de trabalho na olivicultura, no alojamento e na restauração, bem como para a retenção populacional e a recuperação do saber-fazer tradicional.

66Ainda assim, se uma estratégia orientada para o desenvolvimento do território prioriza a utilização inteligente do capital territorial, o olival enquanto cenário turístico não pode deixar de ser integrado numa estratégia de valorização do produto (azeite), nomeadamente do produto com características distintivas.

67Face ao exposto, comunicar os valores científicos e educativos existentes ou que serão gerados com o olivoturismo responde ao desafio de manter os sistemas de produção tradicionais e biológicos, o que poderá ter efeitos ao influenciar os modelos de negócio de novos empreendedores que valorizam as tradições e a biodiversidade reforçando a papel do turista, que ao ter acesso a mais conhecimento pode levar a hábitos de consumo mais saudáveis e sustentáveis e estimular a sua curiosidade pelos produtos tradicionais e pela ruralidade como forma de vida.

68Por fim, conclui-se que o olivoturismo é uma tipologia de turismo que reúne outras atividades culturais, industriais, rurais, arquitetónicas, gastronómicas, históricas, sociais e paisagísticas.

69Considera-se ainda, por isso, que este trabalho poderá contribuir para o desenvolvimento de uma investigação mais aprofundada sobre os temas abordados.

70Em termos de implicações práticas das conclusões desta investigação, foi possível detetar uma linha de investigação futura relacionada com a produção e consumo de azeite. Ambas as situações têm um impacto muito significativo no desenvolvimento social e na sustentabilidade ambiental dos territórios. Um facto que se alia a uma produção considerada única e de “identidade” estratégica, representando um legado de comunidades mais rurais.

71De facto, o olivoturismo pode ser utilizado para promover as regiões rurais e simultaneamente sensibilizar a comunidade e os turistas para a singularidade das regiões através do azeite (lagares, contexto histórico e social, identidade, etc.). Neste sentido, este trabalho apresenta uma possível linha de investigação a explorar no futuro, que passará por compreender como o azeite e os lagares existentes que o produzem são entendidos no processo de tomada de decisão do consumidor. Esta linha de aprofundamento temático é fundamental, pois existem atualmente lagares de azeite “industriais”, mas provenientes de lagares tradicionais, ao nível da produção de azeite. Podem, por isso, constituir produtos de identidade cultural olivícola, associados ao desenvolvimento social e ambiental do território. O destaque pode ser dado à olivicultura e à sua importância no desenvolvimento do(s) território(s) rural(ais).