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A Arquitetura do Turismo: Decodificando o Ambiente Construído das Viagens e do Lazer

Data limite para a recepção dos resumos: 30 de setembro de 2025
Data limite para a recepção dos textos completos: 30 de janeiro de 2026

Coordenadores da chamada:
Maria Gravari-Barbas,
Arquitetura, Geografia, Unidade de Pesquisa EIREST, Paris 1 Panthéon Sorbonne University, França.
Maja Jović, Arquitetura, Universidade de Westminster, Reino Unido.

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© https://laramoneta.com/to-see/la-grande-motte/

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© M.Jovic

Assim como todas as atividades econômicas, sociais e culturais, o turismo criou seus próprios espaços - e continua a fazê-lo. Seu surgimento como um fenômeno social, cultural e econômico no final do século XVIII foi acompanhado pela invenção de edifícios, lugares e espaços que não existiam até então - aqueles que, portanto, tiveram de ser imaginados, desenhados, projetados e construídos: o moderno hotel para viajantes, uma praia desenvolvida, um acampamento de verão, um resort, vilas de férias, parques temáticos etc (Rouillard, 1984; Toulier, 2016).

Nos últimos dois séculos, os arquitetos acompanharam ou contribuíram para a evolução do turismo, desde os resorts à beira-mar do século XIX, passando pelos resorts em altas montanhas do século XX, até os projetos mais exuberantes do século XXI. A arquitetura para o turismo acompanhou os desenvolvimentos funcionais, ao mesmo tempo em que se permitiu a liberdade de criar lugares para o sonho e a fantasia (Picon-Lefebvre, 2019). No turismo, a forma não segue (sempre) a função. Hoje, marcada pela crise climática, pelo turismo digital e pelas reconfigurações pós-pandêmicas da mobilidade, a arquitetura turística ressurge como um local crítico onde fantasias, ideologias, aspirações econômicas e responsabilidades ecológicas se unem.

Estudos acadêmicos, incluindo o conceito de olhar do turista de Urry (1992; Urry e Larsen, 2011), consideram o espaço turístico como uma arena em que a visão, a mobilidade e a mídia se unem para produzir “modos de ver” altamente roteirizados. A noção de brandscapes, de Klingmann (2010), mostra como os arquitetos codificam narrativas comerciais na forma construída, transformando destinos em “logotipos experienciais” imersivos que circulam globalmente por meio de imagens. O trabalho seminal de Specht sobre turismo arquitetônico (2014) aprofunda esse tópico da arquitetura como uma ferramenta poderosa e duradoura no marketing turístico. A literatura sobre a marca da cidade, da nação e do destino é abundante em considerações sobre o que os lugares e suas estruturas construídas significam para o soft power e a imagem geral de seus respectivos destinos e nações - visto em estudos de caso de Morgan et al. (2007), Aronczyk (2014) a Ermann e Hermanik (2018), para citar alguns. O trabalho de Salazar sobre os imaginários do turismo destaca particularmente a circulação de tropos - como “paraíso tropical”, ambiente alpino, autenticidade do deserto - que orientam as partes interessadas no turismo muito antes de o terreno ser desbravado ou o local ser visitado. Esses imaginários renegociam as realidades políticas e sociais. As plataformas digitais agora intensificaram isso, de modo que vemos uma série de trabalhos sobre a forma como a estrutura espacial geral dos hotspots turísticos está mudando as cidades (estudo de caso de Fan e Zhang sobre Pequim, 2022) sobre a forma como os edifícios “atuam” nessas plataformas (Alaily-Mattar et al., 2024; Lindsay e Sawyer, 2025), sobre os efeitos do mapeamento visual histórico e o olhar de fora (Ogden, 2021), sobre a forma como a fotografia e a mídia social mudam os significados e a percepção do patrimônio e das estruturas construídas (Lopez-Chao e Lopez-Pena, 2020; Wagiri et al, 2024) ou - sobre a forma como essas estruturas são construídas tendo em mente a capacidade de compartilhamento a priori. Neste momento, a estética “instagramável” dos espaços é frequentemente criticada por alimentar ou contribuir para o overtourism.

Nos locais, o turismo gerou um repertório extraordinário de formas construídas para fins específicos ou, de outras formas, afetou a criação de estruturas espetaculares. O relato de McNeill (2009) sobre arquitetura e forma urbana mostra como museus, aeroportos e torres funcionam como atrações instantâneas, remodelando as economias de cidades inteiras. Knox (2011), Shaw (2015), Scerri et al. (2019) e Gravari-Barbas (2020) questionam casos globais e específicos de contexto de arquitetura espetacular - o que isso significa para a cidade, seus residentes, mas também o que significa para o turismo e para sua interseção. No outro extremo e regionalmente, encontramos mega-resorts tropicais, vilas modulares em recintos ajardinados, tradições ryokan mescladas com modernidade para atender às exigências dos viajantes ocidentais, síntese de meados do século de chalés vernaculares e concreto aerodinâmico (De Rossi, 2006; Bolzoni, 2001), alojamentos de luxo ecológico em áreas selvagens protegidas e muitos outros construídos especificamente para o turista e, muitas vezes, existentes em uma forma de enclave. Estudos sobre resorts de praia com tudo incluído, por exemplo, documentam a segregação espacial que incentiva os gastos dos turistas dentro de condomínios fechados, levantando preocupações sobre equidade, igualdade e uso da terra. De qualquer forma, desde os primeiros modelos sazonais de turismo de massa até as atuais instalações digitalmente otimizadas, a arquitetura para o turismo continua sendo um campo de testes tanto para a experimentação de estilos quanto para um aparato crucial para a organização do trabalho, do capital e da marca ecológica no planeta.

Esta edição especial da Via Tourism Review procura captar essas conexões que nem sempre seguem o pensamento funcional entre o turismo e a arquitetura. Ela procura explorar especialmente a arquitetura e o planejamento urbano criados pelo e para o turismo e convida à reflexão sobre como a arquitetura voltada para o turismo incorpora e desafia os sistemas espaciais, materiais e simbólicos de nosso tempo (MacLaren, 2004; MacLaren, 2005).

Convidamos a artigos que abordem vários temas:

  • A invenção da arquitetura turística nos primórdios do turismo: tipologias arquitetônicas, arquitetos, projetos icônicos, etc. (grandes hotéis, movimento pitoresco, etc.).

  • A evolução das tipologias arquitetônicas para o turismo (hotéis, resorts, instalações à beira-mar, empreendimentos em montanhas);

  • Produtos turísticos específicos e tipologias arquitetônicas (turismo social, turismo de luxo, resorts de turismo de massa, regiões extremas, etc.);

  • Tematização e simulacros (parques temáticos, patrimônio falso, nostalgia, arquitetura de fantasia etc.);

  • Instagramabilidade, plataformas virtuais e realidade aumentada

  • Sustentabilidade e crítica ambiental (pegada de carbono, uso da água e da terra, certificações verdes, ecoturismo etc.);

  • Arquitetos, profissionais e designers especializados na construção de arquitetura especificamente para atividades turísticas;

  • Arquitetura, turismo e questões de sustentabilidade (impacto em paisagens e apropriações indígenas);

  • Heranças da arquitetura turística e suas vidas posteriores (abandono, preservação, reutilização adaptativa, estética da ruína etc.);

  • A arquitetura como catalisadora do turismo;

  • Infraestrutura de transporte construída especificamente para o turismo ou com o olhar do turista em mente;

  • Regionalismo, tipologias arquitetônicas específicas (alojamentos na selva, bangalôs nos trópicos, chalés em resorts de inverno, ryokans etc.).

  • Placemaking;

  • Pósturismo e declínio (resorts fantasmas, cidades termais em declínio, etc.).

Com base na hipótese de que o turismo produziu um número extraordinário de locais especializados desde seus primórdios, esta edição especial busca compreender sua contribuição para a história da arquitetura, ainda insuficientemente explorada, em sua totalidade bem como sua posição hoje, da demolição à conservação, incluindo as questões inevitáveis dos impactos ambientais e climáticos.

Esperamos receber contribuições de arquitetos, planejadores urbanos, geógrafos, sociólogos, antropólogos, economistas e colegas de todas as outras disciplinas interessadas na relação entre arquitetura e turismo. Incentivamos contribuições que adotem uma série de metodologias desde a pesquisa de arquivos e a celebração de tipologias esquecidas, até explorações teóricas, análise arquitetônica, crítica cultural ou percepção etnográfica, entre outras.

Termos e formatos das contribuições

Os resumos não devem exceder 500 palavras e podem ser enviados por email para os seguintes endereços: maria.gravaribarbas@univparis1.fr e M.Jovic2@westminster.ac.uk com cópia para viatourismreview@univparis1.fr; até 30 de setembro de 2025.

Eles podem ser escritos em francês, inglês, alemão, espanhol, catalão, português ou italiano.

Para as propostas de resumo aceitas, o prazo para o artigo completo (máximo de 40.000 caracteres) é 30 de janeiro de 2026.

Bibliographie

AlailyMattar, N., Baptist, V., Legner, L., Arvanitakis, D. and Thierstein, A., 2024. Visuality peaks, function lasts: an empirical investigation into the performance of iconic architecture on Instagram. ArchnetIJAR, [online aheadofprint]. Available at: https://doi.org/10.1108/ARCH0220240072 [Accessed 27 May 2025].

Aronczyk, M., 2013. Branding the nation: The global business of national identity. Oxford University Press.

Beaudet, G., 1996. Un bref regard sur l’architecture de la villégiature et du tourisme. Téoros, 15(1), pp.39–42.

Boissonnas, E., 1994. Flaine, la création. Paris: Linteau.

Bolzoni, L., 2001. Architettura moderna nelle Alpi italiane dal 1900 alla fine degli anni Cinquanta. Turin: Priuli et Verlucca.

Charles, A., 2002. La Baule et ses villas, le concept balnéaire. Paris: Massin.

Deng, N., Zhong, L.N. and Li, H., 2018. Perception of travel destination image based on Usergenerated photograph metadata: the case of Beijing. Tourism Tribune, 33(1), pp.52–53.

De Rossi, A., 2006. Modern Alpine Architecture in Piedmont and Valle d’Aosta. Turin: Allemandi.

Fan, L. and Zhang, D., 2022. Study on the hotspots of urban tourism spaces based on InstagramWorthy locations data: Taking Beijing as an example. Environment and Planning B: Urban Analytics and City Science, 50(7), pp.1822–1837.

GravariBarbas, M., 2020. Star architecture and the boundaries of tourism: The case of Paris. In: About star architecture: Reflecting on cities in Europe, pp.203–226.

Gray, F., 2009. Designing the Seaside: Architecture, Society and Nature. London: Reaktion Books.

Klingmann, A., 2010. Brandscapes: Architecture in the experience economy. Mit Press.

Knox, P., 2011. Starchitects, starchitecture and the symbolic capital of world cities. In: B. Derudder et al., eds. International Handbook of Globalization and World Cities. Cheltenham: Edward Elgar Publishing, pp.239–248.

Lasansky, M.D., 2004. The Renaissance Perfected: Architecture, Spectacle, and Tourism in Fascist Italy. Philadelphia: Penn State University Press.

Lindsay, G. and Sawyer, M., 2025. Architecture, tourism and smartphone photography in the Instagram era. ArchnetIJAR: International Journal of Architectural Research.

LópezChao, V. and LopezPena, V., 2020. Aesthetical appeal and dissemination of architectural heritage photographs in Instagram. Buildings, 10(12), p.225.

MacLaren, B., 2004. Architecture and Tourism: Perception, Performance and Place. Oxford: Berg.

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Rouillard, D., 1984. Le Site balnéaire. Liège: Mardaga.

Salazar, N.B. and Graburn, N.H. eds., 2014. Tourism imaginaries: Anthropological approaches. Berghahn books.

Scerri, M., Edwards, D. and Foley, C., 2019. Design, architecture and the value to tourism. Tourism Economics, 25(5), pp.695–710.

Shaw, G.B., 2015. Tourism by design: Signature architecture and tourism. Tourism Review International, 19(4), pp.235–241.

Specht, J., 2014. Architectural Tourism: Building for Urban Travel Destinations. Cham: Springer.

Toulier, B., ed., 2016. Tous à la plage ! Villes balnéaires du XVIIIe siècle à nos jours. Paris: Cité de l'architecture et du patrimoine.

Urry, J., 1992. The tourist gaze “revisited”. American behavioral scientist, 36(2), pp.172186.

Urry, J. and Larsen, J., 2011. The tourist gaze 3.0.

Véry, F., Saddy, P. and Henry Jacques Le Même, 1988. Architecte à Megève. Liège: Mardaga.

Wagiri, F., Wijaya, D.C. and Sitindjak, R.H.I., 2024. Embodied spaces in digital times: Exploring the role of Instagram in shaping temporal dimensions and perceptions of architecture. Architecture, 4(4), pp.948–973.

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